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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Admirável mundo torto.


TERRORISMO E PRECONCEITO NA FRANÇA
por Carlos Eduardo Bartel em 15 janeiro 2015



No dia 12 de janeiro enviei este texto para dois jornais, de Porto Alegre e região metropolitana, um bastante conhecido em todo o país. 

O texto não foi publicado em nenhum. 

Cabe refletir por que não foi publicado se os jornais, e o meio jornalístico em geral, se arvoram em defender a propalada “liberdade de expressão”? 

Talvez pelo fato de que alguns enunciados emitidos aqui sejam contrários à palavra de ordem “je suis Charlie” das grandes mídias e canais televisivos.
Considerando essa questão inicial, cabe dizer que os atos terroristas ocorridos no início de janeiro na França, país que deu origem ao conceito de “terror” e sua derivação, causam embaraço em meio às diferentes mídias, as quais apressadamente tentam compreender a situação, achar culpados e emitir palavras de ordem.
Ainda que a revista Charlie Hebdo publicasse, entre seu repertório humorístico de críticas políticas e religiosas, também charges com conteúdos racistas e islamofóbicos, nada justifica a ação terrorista perpetrada contra os editores e funcionários do semanário francês. 

No entanto, não se pode confundir liberdade de expressão com a promoção de discursos de ódio racial e religioso.
Por outro lado, a questão ideológica, fundamentada no extremismo religioso islâmico, por trás desse ato criminoso é muito maior do que pressupõem as injúrias e blasfêmias iconográficas proferidas pelo semanário contra o profeta Maomé. 

É necessário combater o terrorismo criminoso, mas também é necessário refletir sobre a atuação e a ingerência dos países ocidentais no mundo árabe.
Assim, tal análise transcende a perspectiva de escolher um dos lados (entre tantos envolvidos) e eleger vítimas e algozes, bem como justificar suas respectivas razões, tarefa que parece ser a mais fácil e a seguida pela grande mídia brasileira, ainda que existam exceções. 

Dessa forma, compreender o ocorrido em seu conjunto é extremamente complexo. 

Trata-se de uma peça de um enorme quebra-cabeça que se encontra longe de sua solução, e nesse contexto não se pode desconsiderar o imperialismo e etnocentrismo europeu.
Além disso, tal questão envolve demandas políticas entrelaçadas em um conturbado cenário internacional. 

De modo que existem muitos atores e seus respectivos interesses neste cenário (representantes de países ocidentais, de países árabes, segmentos cristãos, judeus, muçulmanos, israelenses, palestinos, minorias religiosas, grupos extremistas, etc.). 

Assim, múltiplas são as perspectivas, bem como variadas são as gradações políticas internas em cada grupo, o que dificulta sobremaneira o uso de generalizações, ainda que por vezes seja difícil fugir de simplificações como, por exemplo, as noções de “Ocidente” e “Mundo Árabe”, como se as mesmas explicassem a priori à existência de uma unidade daquilo que expressam.
Se, por um lado, é verdade que estamos distante do “choque de civilizações” previsto por Samuel Huntington, por outro lado, grupos radicais muçulmanos (como a Al Qaeda e o Estado Islâmico) possuem como estratégia estabelecer relações entre judeus e o Estado de Israel com o “Ocidente”, materializada, entre outros, no atentado terrorista no supermercado kosher em Paris. 

Fato que torna mais complexa a questão.
No início da década de 1990, o Iraque de Saddam Hussein também agiu nesse sentido. 

Ao ter seu território invadido por tropas norte-americanas, durante a Guerra do Golfo, o Iraque lançou estrategicamente mísseis contra o território de Israel, na tentativa de obter apoio por parte dos países árabes em uma guerra contra o “Ocidente”.
Assim, o ataque contra judeus, seja em Israel ou no supermercado francês deve ser relativizado, não podendo ser caracterizado apenas como um ato de antissemitismo. 

Se inscreve em uma lógica própria inerente a contenda gerada em torno da criação de Israel, em maio de 1948, e de seus desdobramentos.
Se a criação deste Estado nacional, percebida por árabes como uma interferência Ocidental no “mundo árabe” é questionável, a intromissão e os danos causados por países imperialistas europeus, como a França e Inglaterra, e posteriormente pelos Estados Unidos à Geopolítica do Oriente Médio é um fato histórico inegável. 

Igualmente, não podemos desconsiderar a hostilidade com que árabes muçulmanos, pacíficos em sua grande maioria, (assim como negros e latinos) são tratados nos países europeus. 

Um dos atos de retaliação do governo francês em relação ao ato terrorista foi o de proibir muçulmanos de rezar em público. 

Ora o que a grande maioria dos muçulmanos tem a ver com isso? Por que essa generalização?
Dessa forma, parece ingenuidade ou filiação ideológica esperar que a liberdade posta em marcha na França seja universal e contemple a todos e não meramente os iguais. 

Isto é, seja irrestrita sem distinção de raça ou de credo religioso. Pois um, entre tantos pontos preocupantes nesse contexto, é que tais atos contribuam para o avanço de políticas reacionárias de direita - muito afinadas com o fascismo - a mesma que perseguiu Alfred Dreyfus no final do século XIX e ao que tudo indica assassinou Émile Zola.

post: Marcelo Ferla

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