Tem os que agitam raquetes e os que folheiam jornal.
Nenhuma dessas distrações de beira de praia, porém, é tão universal e espontânea quanto o “bodywatch”, modalidade recreativa que eu acabo de batizar e que consiste basicamente em observar o doce balanço de quem caminha à beira do mar – não necessariamente com objetivos de prospecção ou inspiração erótica, mas também para isso, que ninguém é de ferro.
O bodywatch tem ginásio – a praia, qualquer praia – e até hino: Garota de Ipanema, evidentemente.
De forma discreta ou expansiva, o fato é que todo mundo aproveita a praia para admirar a natureza – inclusive, e principalmente, a humana.
A gratuidade da “notícia” (o corpo dela aparentemente não batia com as expectativas do redator) ficou tão evidente que o site não apenas retirou a matéria do ar como pediu desculpas à jornalista – que elegantemente aceitou.
Fernanda Gentil foi vítima do pior tipo de “bodywatch”, aquele que migra da praia para as revistas de fofocas.
Seu caso, porém, é exceção: em geral esse tipo de “notícia” não provoca retratação.
Tempos atrás, Betty Faria foi massacrada por ainda ir à praia de biquíni (“Querem que eu vá de burca?”, respondeu a atriz, de 73 anos).
Preta Gil é perseguida por paparazzi toda vez que pisa na areia ou vai à piscina (“Engordou!”, “Emagreceu!”).
Nenhuma publicação, que eu saiba, voltou atrás ou pediu desculpas.
Como se extremos de admiração e repulsa gerassem reações igualmente fortes.
Mas se o desejo é incontrolável e cumpre a função de perpetuação da espécie, o contrário dele, seja lá que nome tenha, é inútil em termos biológicos e precisa ser entendido como uma manifestação puramente cultural.
Nossa cultura tolera o sexo cantado, falado, vendido, coreografado, mas aparentemente se choca com corpos de verdade na beira da praia.
Beleza, oportunidades, talento, saúde, dinheiro, nada disso é distribuído de forma equânime, o que é uma pena, mas só os muito tolos acreditarão que isso é motivo para ter vergonha ou se esconder.
A praia é, sim, a passarela da desigualdade, mas é também a celebração do momento presente, da proximidade com a natureza e do inalienável e democrático direito de olhar e ser olhado – sabendo que a vida escapa ainda mais rápido do que a moça de corpo dourado que vem e que passa a caminho do mar. Por mais cheia de graça que ela seja.
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