Cortázar: livro é
biografia de um dos escritores sul-americanos mais célebres de sua época.
Este
ano marca os 100 anos de nascimento de um dos escritores mais originais e
célebres de seu tempo e grande inovador da literatura sul-americana, o argentino
Julio Cortázar. Para comemorar em grande estilo, a Editora DSOP trouxe ao país
Cortázar: notas para uma biografia, de Mario Goloboff, com tradução de José
Rubens Siqueira.
Por ter sido amigo de
Cortázar, somente o biógrafo Mario Goloboff poderia falar com tamanha
propriedade de sua vida, numa biografia de caráter tão íntimo e pessoal.
O
livro aborda temas muito diversos da vida e obra de Cortázar que proporcionam
aos leitores uma maneira de chegar mais perto de um dos escritores mais
complexos e de maior sensibilidade literária de sua geração.
Trata-se de uma
leitura indispensável para quem é apaixonado por literatura e quer conhecer
outras faces desse grande autor.
Nas palavras do tradutor,
“muito além das referências biográficas, Mario Goloboff trabalhou nesta obra
para construir um arcabouço de informações até então pouco abordadas sobre a
vida de Julio Cotázar. No conjunto dos capítulos do livro, pode-se perceber que
são abordadas notas biográficas de diferentes níveis e aspectos, pincelando as
ações políticas, sociais e literárias desse grande gênio do século XX. A partir
de uma ampla pesquisa, o livro traz à luz aspectos menos conhecidos desse autor
magistral”.
Um desses aspectos a que
se refere Siqueira é o mergulho de Cortázar na vivência política, movido pela
compaixão pela humanidade.
Tal humanidade é sintetizada numa epígrafe de Juan
Rulfo, na introdução do livro:
“Tem um coração tão grande que Deus precisou
fabricar um corpo também tão grande para acomodar esse seu coração”.
Para a diretora editorial
da DSOP, Simone Paulino, publicar o livro representou um delicioso desafio:
“Meu primeiro contato com essa biografia do Cortázar aconteceu na Feira do
Livro de Buenos Aires, no início do ano.
Tivemos que juntar muitos esforços para
ter a obra pronta no aniversário dele, mas valeu a pena”, conta.
“Embora
despretensioso, é um livro que contribuiu a um só tempo tanto para a fortuna
crítica do autor, sendo, portanto, uma leitura bastante recomendável para
pesquisadores da sua obra, quanto para o leitor comum, apaixonado pela figura
enigmática do criador dos cronópios, famas e esperanças”, completa Simone.
Notas biográficas
Julio Cortázar deu vida à
literatura argentina com textos carregados de realismo e sensibilidade
excessiva.
Era um homem bondoso, de coração grande, pessoa justa, diziam os
seus próximos. Lutou por justiça, e se sacrificou por ela. Ele escrevia sobre a
beleza da vida, apesar da tristeza, sofrimento, angústia e desesperança que lhe
cabiam.
Era um leitor voraz.
Para tirar o menino do quarto era preciso
severidade.
Ele deixava de comer para ler, era doente por leitura, por isso não
era de se admirar que tivesse uma vida escolar brilhante, sempre um dos
melhores alunos da classe.
Sofria de asma, bronquite, mas a paixão e fixação
pelos livros era o que lhe trazia luz e a cura de todos os problemas de sua
vida.
Filho de argentinos, Julio
Cortázar nasceu na embaixada da Argentina em Ixelles, na Bélgica, e foi para
seu país de sangue aos quatro anos de idade, onde se formou professor em Letras
em 1935 e viveu até os 37 anos, quando se mudou permanentemente para Paris, na
França.
Ele viveu na capital francesa com dificuldades financeiras até receber
o convite da Universidade de Porto Rico para fazer a tradução da obra completa,
em prosa, do escritor Edgar Allan Poe.
Essa foi considerada pelos críticos a
melhor tradução já feita da obra do grande novelista inglês.
Foi em Paris que Cortázar
escreveu a maioria de seus livros, entre contos, novelas e poemas, incluindo
seus grandes sucessos O Jogo da Amarelinha (1963) e Histórias de Cronópios e de
Famas (1962). Neste último, o escritor argentino reinventa o mundo com seus
personagens, os cronópios, as famas e as esperanças, que servem como tradutores
da psicologia humana.
Em O Jogo da Amarelinha, seu maior sucesso de vendas, o
autor transpõe brilhantemente os limites da literatura convencional com uma
história que pode ser lida de várias formas.
Se lida linearmente, a história
tem um sentido. Se lida salteadamente, como o próprio autor sugere, o sentido é
outro.
Um de seus contos chamado
As Babas do Diabo, presente em seu livro As Armas Secretas, foi inspiração para
Blow-Up (Depois Daquele Beijo), do cineasta italiano Michelangelo Antonioni. O
filme ganhou o prêmio Grand Prix do Festival de Cinema de Cannes de 1966 e teve
indicações ao Oscar, ao Globo de Ouro e ao BAFTA, além de ter sido referência
para vários outros filmes posteriormente.
Julio Cortázar foi também
muito envolvido com a política, mais veementemente após uma viagem a Cuba no
ano de 1963, e se comprometeu politicamente grande parte de sua vida com a
libertação dos países da América Latina que sofriam com regimes ditatoriais.
Em 1982, sua última esposa
faleceu e Cortázar, que tinha a saúde debilitada há algum tempo, entrou numa
depressão profunda.
No ano seguinte, ainda viveu uma experiência muito
simbólica quando visitou sua Argentina já recuperada para a democracia e pôde
rever lugares e amigos pela última vez. Foi inclusive reconhecido na rua por
populares como o grande gênio da literatura que era.
Cortázar morreu em 1984 de
leucemia e foi enterrado no cemitério de Montparnasse, onde se ergue, acima de
sua tumba, um de seus mais inesquecíveis personagens, o cronópio.
"Tua sombra espera
atrás de toda luz.” – Cortázar
Sobre o autor
Mario Goloboff nasceu em
Carlos Casares, província de Buenos Aires. Viveu mais de 20 anos na França,
onde deu aulas em diversas universidades. Radicado novamente na Argentina,
Goloboff conduziu seminários e oficinas de escrita criativa, além de ser
professor na Universidad Nacional de La Plata, onde foi nomeado professor
consultor.
É autor de numerosas obras sobre cultura e escritores argentinos,
latino-americanos e europeus. Seus últimos livros de narrativa são La Pasión
Según San Martín, e outro de textos breves, Recuadros de una Exposición.
post: Marcelo Ferla
fonte: Ed. DSOP
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