Argentina avisa ao Brasil
que investigará a morte do presidente Jango Goulart
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Jango tentou fazer as grandes reformas de base que o Brasil precisa, mas foi interrompido e assassinado pela ditadura, segundo apura a Comissão da Verdade |
A Justiça da Argentina
anunciou, nesta quinta-feira, a intenção de investigar os motivos que levaram à
morte do ex-presidente do Brasil, Jango Goulart, e de outros brasileiros
desaparecidos durante exílio no país vizinho.
A ação será tomada após o pedido
do Ministério Público argentino, que investiga a Operação Condor – nome dado à
série de golpes na América Latina durante as décadas de 60 e 70 e que tiveram
influência dos Estados Unidos.
Procurador federal, Miguel
Angel Osorio recebeu do governo brasileiro centenas de documentos oficiais da
época, onde a maioria contém informações sobre os exilados e perseguidos. Jango
governou o Brasil de 1961 a 1964, quando foi deposto pelo golpe militar. Após o
evento, ele se exilou com a família no Uruguai e, depois, na Argentina, onde
morreu, no dia 6 de dezembro de 1976 em Mercedes, cidade do Norte do país.
Em maio de 2013, foi
anunciada a exumação dos restos mortais para serem periciados. O trabalho,
feito em novembro envolveu, além da Comissão Nacional da Verdade, o Ministério
Público Federal no Rio Grande do Sul, a Secretaria de Direitos Humanos e a
Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. A expectativa da
comissão e dos parentes de Goulart é que os resultados sejam entregues no fim
do primeiro semestre deste ano.
Comissão da Verdade
Na capital gaúcha, a
Comissão da Verdade do Rio Grande do Sul, com o apoio declarado da Comissão da
Verdade de São Paulo, quer pedir ajuda aos Estados Unidos para que colaborem
nas investigações através dos depoimentos dos agentes norte-americanos que
atuaram na Operação Condor, de repressão a opositores dos regimes ditatoriais
da América do Sul.
João Vicente Goulart,
filho do ex-presidente João Goulart (1919-1976), depôs na comissão Vladmir
Herzog, da Câmara Municipal de São Paulo na antevéspera e, durante sua
exposição, disse esperar que o Ministério Público brasileiro “tenha a autonomia
e a soberania necessária para abrir uma ação cautelar que permita realizar a
oitiva de agentes norte-americanos” que atuaram no país durante a ditadura
militar (1964-1985).
A solicitação de ajuda aos EUA, através do governo
brasileiro, será feita depois que saírem os resultados da exumação, “algo que
pode demorar entre seis meses e um ano”. Presidente da Comissão da Verdade de
São Paulo, o médico e vereador Gilberto Natalini apoia a ideia de Goulart
Filho.
– Tudo se encaixa. O
regime foi eliminando de 75 em diante todos aqueles que viriam a atrapalhar o
processo de abertura – assegura.
Exames póstumos
Para legitimar o pedido,
João Vicente citou como exemplo o juiz Baltasar Garzón, que pediu ao governo
argentino informações sobre o desaparecimento de espanhóis durante a ditadura
no país sul-americano e do Chile, que solicitou esclarecimentos sobre a morte
de seu ex-presidente Eduardo Frei Montalva, em 1982, por suspeitas de
envenenamento.
Em relação à morte de
Jango, os depoimentos citam o serviço de inteligência norte-americano, a CIA,
além do chefe do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) de São Paulo, o
delegado Sérgio Fleury. Mas, segundo indicou Natalini, eles podem ter relação
com muitos outros assassinatos.
A família de João Goulart
aguarda, atualmente, os resultados da exumação do corpo do ex-presidente,
deposto pelo golpe militar de 1964. O procedimento está sendo feito no exterior
porque “o Brasil não tem a tecnologia necessária para examinar os ossos em
busca de uma das 35 mil substâncias que podem comprovar que houve
envenenamento”, disse João Vicente. Em seu depoimento, ele lembrou do
testemunho do uruguaio Mario Neira, que contou à Polícia Federal em 2006 que o
ex-presidente teria sido envenenado com uma troca de comprimidos, tomados
diariamente por problemas no coração. Neira teria trabalhado para a ditadura
uruguaia.
Marcelo Ferla
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