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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Falando nisso.


Por que a rejeição pauta a atitude de alguns grupos frente a grandes fenômenos de mídia
Pesquisadora analisa "trolls" e "haters" das redes sociais


Adriana Amaral*
*PPG em Ciências da Comunicação da Unisinos e pesquisadora do CNPq
Nesta segunda década dos anos 2000, observamos a popularização dos sites de redes sociais, bem como uma diversificação dos seus usos pela população em geral. 

Mais do que discutir questões sobre inclusão ou aspectos de cunho econômico que são relevantes mas abrem outros modos de análise, este texto pretende pensar sobre usos e apropriações do humor e do entretenimento no âmbito das práticas cotidianas. Nesse sentido, há uma série de estudos e pesquisas sobre a forma como as pessoas expressam seus gostos nas redes sociais e como produtos midiáticos da cultura pop, celebridades, marcas e até pessoas comuns se tornam alvo dos chamados "trolls" e "haters". Uma questão a ser problematizada é o fato de que a maioria das pesquisas feitas sobre o tema no contexto anglo-saxão (sobretudo Estados Unidos, Canadá e Inglaterra) fala dos trolls e da prática de "trollagem" como algo praticamente similar ao ciberbullying, enfatizando os aspectos negativos e as manifestações de ódio e desestabilização. Já as pesquisas nacionais apresentam uma ressignificação desse termo, pois os trolls são vistos como aqueles para quem, na linguagem da rede, a "zueira nunca tem fim", personagens que, por diversão, jogam lenha na fogueira das discussões online.
Vale destacar os estudos do pesquisador gaúcho radicado em Recife Fernando Fontanella, que em 2010 já tratava dos trolls no contexto brasileiro. É importante salientar como esses diferentes aspectos culturais influem na análise dos conteúdos e dos fenômenos. Evidentemente que aspectos de ódio, perseguição, preconceito e bullying também aparecem na forma como os usuários se manifestam, mas há matizes bastante complexas que vão além do bem e do mal. Interessa-me aqui discutir e listar alguns exemplos relacionados à cultura pop e ao contexto do comportamento de grupos de fãs e antifãs, como os ataques à escolha do ator Ben Affleck como novo Batman; as efusivas manifestações pró e contra o astro teen Justin Bieber e a polarização contra e a favor às pessoas que comentam o Big Brother Brasil em seus perfis.
Originalmente o termo troll foi utilizado a partir de fóruns e listas de discussões nos primórdios da internet, a partir da figura folclórica do troll escandinavo, um ser horrendo e antissocial que aparece nos contos infantis. "A primeira referência à palavra troll no contexto de anonimato na rede pode ser encontrada no arquivo da Google Usenet e foi empregada pelo usuário Mark Miller, em 08 de fevereiro de 1990" (Amaral & Quadros, 2006). Esse tipo específico de linguagem irônica estava associada, sobretudo, à identidade dos primeiros usuários, bastante vinculados à cultura nerd dos princípios da rede. É nessa época que se populariza a frase "não alimente os trolls", até hoje utilizada em fóruns da rede para encerrar discussões, postulando que a melhor resposta a um troll é o silêncio, já que qualquer interlocução apenas alimenta os impulsos provocadores do agressor. No entanto, à medida que a popularização e a monetarização aumentam, sobretudo com a ideia mercadológica de Web 2.0, se amplia a participação de um maior número de grupos sociais e constroem-se discursos que tendem a minimizar ou repudiar determinadas práticas, levando-as a um certo nível de marginalidade em fóruns de nicho, como, por exemplo, o site 4Chan, que originou o Anonymous, grupo de ativistas e hackers organizados em um movimento político online descentralizado.
Já os chamados haters ("odiadores") surgem, no contexto da internet, relacionados à expressão inglesa "haters gonna hate" ("odiadores vão odiar"), um bordão utilizado para indicar desdém àqueles que falam mal de algum ato, artista, filme, música, etc. A expressão, nascida no hip hop norte-americano tornou-se um meme na web, em forma de imagens de celebridades e animais posando – geralmente caminhando – com expressão de desprezo.

Nas pesquisas realizadas no Brasil, os haters vêm sendo analisados por vários pesquisadores no contexto das disputas entre grupos de fãs de divas pop no qual entram em jogo valores de performance e também entre fãs e antifãs de diferentes gêneros musicais e bandas pop rock, como o caso das fãs do Restart e seu poder de inclusão de hashtags no Twitter, estudados respectivamente por Thiago Soares e Camila Monteiro.
Em geral, os resultados concluem que os haters são pessoas que odeiam algo ou alguém, querem expressar seu ódio e ponto final. Eles detestam o tipo de música, o corte de cabelo, o rosto, os trejeitos, entre outras características. Já o troll, em alguns casos, joga fãs e haters de determinados artistas uns contra os outros por diversão, participando como manipulador, gerando discórdia nas comunidades online, conforme já indicava a pesquisadora norte-americana Judith Donath em 1998. 

Dentro desse quadro, páginas de humor como Unidos Contra o Indie (página do Facebook que ironiza bandas de indie rock), por exemplo, trabalham com essa dualidade irônica dos discursos. Todas essas manifestações demonstram a diversidade de comportamentos e práticas sociais nas redes, que combinam elementos do cotidiano e sentimentos ancestrais na humanidade como ódio, inveja, etc.
Por fim, é interessante lembrar uma apropriação um pouco mais recente, a do chamado Funk Ostentação e que tem no recente videoclipe Beijinho no Ombro da funkeira Valesca Popuzada um exemplo. Com milhares de visualizações em poucos dias no YouTube, Valesca ressignifica a ideia da "inveja" e dos odiadores, bordões muito repetidos na cultura internética, disparando petardos verbais contra suas supostas "inimigas". Em tempos de cultura remix, tais fenômenos são importantes para a compreensão de que nossos amores e ódios estão em todos os lugares, mas mediados e devidamente gerenciados pelos algoritmos e aparatos tecnológicos.


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