Quando falo em excelência,
não me refiro a ser o melhor de todos, ideia que me parece arrogante e tola.
Nada pior do que um arrogante bobo, o tipo que chega a uma reunião, seja festa,
seja trabalho, e já começa achando todos os demais idiotas. Nada mais patético
do que aquele que se pensa ou se deseja sempre o primeirão da classe, da turma,
do trabalho, do bairro, do mundo, quem sabe? Talento e discrição fazem uma
combinação ótima.
Então, excelência para mim
significa tentar ser bom no que se faz, e no que se é. Um ser humano decente,
solidário, afetuoso, respeitoso, digno, esperançoso sem ser tolo, idealista sem
ser alienado, produtivo sem ser viciado em trabalho. E, no trabalho, dar o
melhor de si sem sacrificar a vida, a
família, a alegria, de que andamos tão
carentes, embora os trios elétricos desfilem e as baladas varem a madrugada.
Estamos carentes de
excelência. A mediocridade reina, assustadora, implacável e persistente. Autoridades,
altos cargos, líderes, em boa parte desinformados, desinteressados, incultos
lamentáveis. Alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas
universidades, que aos poucos - refiro-me às públicas - vão se tornando reduto
de pobreza intelectual. As infelizes cotas, contra as quais tenho escrito e às
quais me oponho desde sempre, servem magnificamente para alcançarmos este
objetivo: a mediocrização também do ensino superior. Alunos que não conseguem
raciocinar porque não lhes foi ensinado, numa educação de brincadeirinha. E,
porque não sabem ler nem escrever direito e com naturalidade, não conseguem
expor em letra ou fala seu pensamento truncado e pobre. Professores que, mal
pagos, mal estimulados, são mal preparados, desanimado e exaustos ou
desinteressados.
Atenção: há para tudo isso
grandes e animadoras exceções, mas são exceções, tanto escolas quanto alunos e
mestres. O quadro geral é entristecedor.
E as cotas roubam a
dignidade daqueles que deveriam ter acesso ao ensino superior por mérito,
porque o governo lhes tivesse dado uma ótima escola pública e bolsas
excelentes: não porque, sendo incapazes e despreparados, precisassem desse
empurrão. Meu conceito serve para cotas raciais também: não é pela raça ou cor,
sobretudo autodeclarada, que um jovem deve conseguir diploma superior, mas por
seu esforço e capacidade, porque teve ótimos 1° e 2° graus em escola pública
e/ou bolsas que o ampararam. Além do mais, as bolsas por raça ou cor são
altamente discriminatórias: ou teriam de ser dadas a filhos de imigrantes
japoneses, alemães, italianos, que todos sofreram grandemente chegando aqui, e
muitos continuam precisando de esforços inauditos para mandar um filho à
universidade.
Em suma, parece que
trabalhamos para facilitar as coisas aos jovens, em lugar de educá-los com e
para o trabalho, zelo, esforço, busca de mérito, uso de sua própria capacidade
e talento, já entre as crianças. O ensino nas últimas décadas aprimorou-se em
fazer os pequenos aprender brincando. Isso pode ser bom para os bem pequenos,
mas já na escola elementar, em seus primeiros anos, é bom alertar, com afeto e
alegria, para o fato de que a vida não é só brincadeira, que lazer e
divertimento são necessários até à saúde, mas que escola é também preparação
para uma vida profissional futura, na qual haverá disciplina e limites - que
aliás deveriam existir em casa, ainda que amorosos.
Muitos dirão que não estou
sendo simpática. Não escrevo para ser agradável, mas para partilhar com meus
leitores preocupações sobre este país com suas maravilhas e suas mazelas, num
momento fundamental em que, em meio a greves, justas ou desatinadas, projetos
grandiosos e seguidamente vãos - do improviso e da incompetência ou
ingenuidade, ou desinformação -,se delineia com grande inteligência e precisão
a possibilidade de serem punidos aqueles que não apenas prejudicaram
monetariamente o país, mas corroeram sua moral, e a dignidade de milhões de
brasileiros.
Está sendo um momento de
excelência que nos devolve ânimo e esperança.
Lya Luft.
post: Marcelo Ferla
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