Mulheres admiráveis.
Martha Medeiros
Recebi de presente de uma
querida amiga um livrinho com pensamentos de Carl Jung sobre o amor, este tema
fascinante que nunca se esgota. Pai da psicologia analítica, Jung faz várias
considerações, até que em certo momento da leitura me deparei com a seguinte
frase: “O amor da mulher não é um sentimento — isso só ocorre no homem — mas um
anseio de vida, que às vezes é assustadoramente não sentimental e pode até
forçar seu autossacrifício.”
Peraí. Isso é sério. O que
eu entendi dessa afirmação é que o homem é o único ser capaz de sentir um amor
genuíno e desinteressado. O homem só atende ao seu mais puro sentimento — e se
esse sentimento não existir, ele não compactua com uma invenção que o
substitua. O homem não cria um amor que lhe sirva.
Já para a mulher o amor
não é uma reação emocional, é muito mais que isso: aliado a esse sentimento
latente, existe um projeto de vida extremamente racional que precisa ser levado
a cabo para que ela concretize seu ideal de felicidade. O amor é uma ponte que
a levará a outras realizações mais profundas, o amor é um condutor que a fará
chegar a um estado de plenitude e que envolve a satisfação de outras
necessidades que não apenas as de caráter romântico.
Ou seja, romântico mesmo é
o homem.
A mulher necessita
encontrar seu lugar no mundo, a mulher precisa completar sua missão (ter
filhos, geralmente a mais prioritária), a mulher deseja responder seus
questionamentos internos, a mulher se sente impelida a formatar um esquema de
vida que seja inteiro e não manco, a mulher possui uma voracidade que a faz
querer conquistar tudo o que idealizou. O amor é um caminho para a realização
desse projeto que é bem mais audacioso e ambicioso do que simplesmente amar por
amar. O amor pode nem ser amor de verdade, mas é através de algum amor, seja
ele de que tipo for, que ela confirmará sua condição de mulher. O homem já
nasce confirmado em sua condição.
Será isso mesmo ou estou
viajando na interpretação que fiz? Se eu estiver certa, então talvez o
verdadeiro amor seja o amor da maturidade, o amor que vem depois de a mulher já
ter atingido seu anseio original, o amor que surge da serenidade, depois de
tanto ter se empenhado, o amor que vem quando não há mais perseguição a nada: o
amor maduro e íntegro da mulher pode enfim se conectar com o amor maduro e
íntegro que o homem sempre sentiu.
Os amores puros de um e de outro finalmente
se encaixariam — o amor real dele e o amor dela desprovido de ansiedades
secretas. Enfim, juntos?
Indo mais longe, talvez
isso explique por que são as mulheres as que mais pedem o divórcio: já
atingiram seus propósitos e procuram agora vivenciar um amor que seja
unicamente sentimental, sem cota de sacrifício, enquanto que o homem só pede o
divórcio quando se apaixona por outra mulher, pois ele sempre foi movido pelo
amor desde o começo, deixando as racionalizações fora do âmbito do coração.
Jung, me perdoe se delirei
a partir de uma única frase sua, mas me permita realizar esse meu anseio de
pensar o amor, além de vivenciá-lo.
Que jeito, sou mulher.
texto: Martha Medeiros
post: Marcelo Ferla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.