Trânsito - I
As férias realmente nos pregam determinadas coisas que fazem com que não consigamos nos desligar da vida real.
Dia destes estava em um restaurante em alguma praia do litoral gaúcho, onde descanso e passo um tempo, eis que olho para o lado e me deparo com um casal da terceira idade. Ele com seus 70 anos e ela, um pouco mais jovem, com aproximadamente 60 anos.
Estava degustando um filé de merluza, batatas a dore e uma salada com molho amanteigado que adoro. Eis que ao lado, na mesa onde estava o casal de idosos, o homem estava tranquilamente tomando uma caipirinha marisqueira, muito conhecida no litoral de meu Estado, o Rio Grande.
A princípio não dei bola, confesso que não fui capaz de ligar os pontos, estava de cabeça descansada, desatento, coisas de veranista.
Comia tranquilamente, quando, como em um apertar de botão de alerta, minha cabeça se tornou uma sirene vermelha girando sem parar. Em um ato reflexo, olhei para a mesa do casal, e lá estava o senhor, no alto de seus 70 e poucos anos de idade, tomando, desta vez, uma cerveja, loira, gelada e com colarinho perfeitamente alinhado ao dourado da tentadora.
Logo pensei comigo mesmo: “será que tem algum parente deste casal os acompanhando ou este senhor está dirigindo seu próprio veículo?”. Sem tentar perder a concentração em minha bela refeição, continuei comendo e tomando minha coca-zero.
De repente, surpresa. Ao se aproximar da mesa onde eu estava, eis que o casal estava servindo-se de sobremesa, o senhor me olha, com aquele olho de peixe morto e diz: “ainda bem que eles não pegam, né?”. Choque.
Um senhor, já com seus setenta e poucos anos, já desprovido de seus reflexos joviais, alcoolizado, me alertou para o que eu já sabia, o que faz com que a desgraça no trânsito seja a cada dia maior, assim como cada vez maior e corriqueira é a força motriz que move essa máquina de matar, o ser humano atrás de um volante, a sensação de impunidade deste e o álcool, eis aí a fórmula do combustível da morte, sempre ignorante, teimosa, besta e revoltante.
Já escrevi em outros textos que jamais fui contra as nossas legislações, no sentido de criticar estas. O que ocorre é o fato de vivermos em um país que não possui uma cultura de punibilidade severa, bastando para tal, o uso do que já existe, bastando a sua aplicação correta, inteligente e sem maiores dificuldades.
Continua...
Marcelo Ferla
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