Facebook
derruba rede de fake news usada pelo MBL
Rede Social retirou 196
páginas e 87 contas do ar; movimento fala em 'censura'
POR DANIEL SALGADO /
MARCO GRILLO
|
Kim Kataguiri, líder
do Movimento Brasil Livre - Facebook / Reprodução
|
RIO — O Facebook retirou do
ar uma série de páginas e usuários que eram usados pelo movimento Movimento
Brasil Livre (MBL) para disseminar conteúdo que incluia notícias falsas, como
os perfis Jornalivre, Brasil 200 e O Diário Nacional.
De acordo com a empresa,
196 páginas e 87 contas foram removidas com base no código de autenticidade da
rede, porque "escondiam das pessoas a natureza e origem de seu
conteúdo" e tinham o propósito de gerar "divisão e espalhar
desinformação".
Essa não é a primeira ação
da rede contra o MBL.
Como revelado no início do ano pelo GLOBO, o Facebook já
havia derrubado um aplicativo utilizado pelo movimento para disparar conteúdo
automaticamente em centenas de páginas, mas essa foi a primeira vez que uma
ação desse tamanho ocorreu no Brasil.
De com acordo com o Facebook
a ação é parte de uma série de esforços da empresa para reprimir perfis
enganosos antes das eleições de outubro.
Como revelado pela Reuters, a rede de
páginas era administrada por membros importantes do MBL, movimento que ganhou
destaque por liderar protestos em 2016 a favor do impeachment da então
presidente Dilma Rousseff com um estilo agressivo de política online que ajudou
a polarizar o debate no Brasil.
— A minha hipótese é que,
diferente de 2014, o ecossistema de páginas com viés político partidário hoje é
muito maior.
Será uma eleição em que as páginas também tem como característica
não só o discurso ideológico, o que não é um problema em si, mas também uma
pretensão noticiosa travestida em linguagem jornalística.
Parte dessa estrutura
foi desmantelada com a ação do Facebook, que demonstra que elas serão alvo da
rede — explica Fábio Malini, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem
e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)
Entre os membros do MBL que
tiveram páginas derrubadas estão Renato Battista, coordenador do movimento,
Thomaz Barbosa, coordenador do MBL no Vale do Paraíba, e Renan Santos, um dos
fundadores do grupo.
As páginas desativadas,
algumas com meio milhão de seguidores, variavam de notícias sensacionalistas a
temas políticos, com uma abordagem conservadora, com nomes como Jornalivre,
Movimento Espartano, Canal Mais Vistas e O Diário Nacional.
A página do
movimento Brasil 200, idealizado pelo empresário e político Flavio Rocha,
também foi derrubada.
— Uma ação desse tamanho não
existia antes e é surpreendente.
Não se sabia dessa movimentação. Nós só
tinhamos conhecimento de cerca de 20 delas.
Ao que tudo indica, se tratou de
uma ação coordenada do Facebook para cortar essas páginas, que muito
provavelmente estavam sendo criadas para as eleições — explica Pablo Ortellado,
professor e pesquisador do Monitor do Debate Público no Meio Digital da USP.
O esquema era feito através
de perfis verdadeiros, que por sua vez eram utilizados para criar uma série de
usuários falsos.
Esses usuários, então, criavam e administravam as páginas que
foram derrubadas.
Em suas diretrizes de
autenticidade, o Facebook diz que é proibido "comportamento não
autêntico", que inclui criar, gerenciar ou perpetuar contas falsas ou
contas com nomes falsos.
Além disso, também é proibido o uso de contas que
"participam de comportamentos não autênticos coordenados, ou seja, em que
múltiplas contas trabalham em conjunto com a finalidade de enganar as pessoas
sobre a origem do conteúdo"; "enganar as pessoas sobre o destino dos
links externos"; "enganar as pessoas na tentativa de incentivar
compartilhamentos, curtidas ou cliques"; "enganar as pessoas para
ocultar ou permitir a violação de outras políticas de acordo com os Padrões da
Comunidade".
— Se trata de um
ecossistema. Esse conteúdo falso ou de ódio não é compartilhado apenas pelo
MBL.
É feita uma rede de páginas, pensada como engenharia da informação, que
gera alcance em diferentes públicos.
Isso faz com que surja um "clima de
opinião favorável" às pautas dessas páginas, o que é uma força muito
poderosa nas decisões democráticas.
Seja com posts pagos ou orgânicos, essa
rede consegue afetar parte da opinião pública com informações parciais ou até
mentirosas.
E isso se dá em todos os espectros políticos — explica Malini.
Portanto, páginas associadas
a esse tipo de conteúdo e páginas e perfis que os promovem, também estão
sujeitas ao banimento.
Essas ações são a parceria
com agência de checagem, como as agências Lupa e
Aos Fatos, que avaliam a
veracidade de uma notícia.
Se ela for comprovadamente falsa, a rede reduz o
alcance que seus compartilhamentos terão.
A segunda atitude é a de derrubar
páginas que são operadas por perfis falsos, o caso desta quarta-feira.
Ou seja,
as que ferem as "diretrizes de autenticidade" da rede.
Como revelado em uma série
de reportagens do GLOBO no mês de março, o MBL já se utilizava de práticas
similares para propagar conteúdo nas redes sociais.
Mais especificamente, de um
aplicativo chamado "Voxer", que permitia o compartilhamento automático
de mensagens e postagens em contas de outros usuários.
Na época, a apuração
apontou 368 perfis que foram usados pelo MBL, que reproduziram 16 mensagens
iguais em um período de duas semanas.
O Facebook desativou o
“Voxer”, após ter sido procurado pelo GLOBO durante a apuração de uma
reportagem sobre a estratégia digital do MBL.
Procurado, o MBL não
respondeu ao GLOBO.
Em suas redes sociais, porém, o movimento disse em nota que
considerou a ação "censura" e que irá "utilizar todos os
recursos midiáticos, legais e políticos que a democracia nos oferece para
recuperar as páginas derrubadas e reverter a perseguição sofrida, com
consequências exemplares para a empresa".
post: Marcelo Ferla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.