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segunda-feira, 9 de julho de 2018
“Estamos num momento em que o racismo não é mais permitido.
“Estamos
num momento em que o racismo não é mais permitido. Vamos rebater”
Youtuber Spartakus Santiago
respondeu ao comentário racista da celebridade virtual Júlio Cocielo, que
tuitou que jogador negro Mbappé conseguiria fazer "arrastão top na
praia"
FELIPE BETIM
Os youtubers
Spartakus Santiago e Júlio Cocielo. INSTAGRAM
Uma piada racista é apenas
uma brincadeira ou revela como os negros são vistos no Brasil?
A questão veio
mais uma vez à tona no último sábado, quando o influenciador digital Júlio
Cocielo indignou milhares de internautas ao postar em seu perfil no Twitter,
que conta com quase 7,5 milhões de seguidores, que o jogador negro francês — e
revelação da Copa do Mundo Rússia 2018 — Lylian Mbappé "conseguiria fazer
uns arrastão top na praia".
A mensagem foi apagada e o youtuber escreveu
um pedido desculpas, em que afirmava ter se referido à velocidade do craque,
mas o estrago já estava feito: mensagens racistas antigas tuitadas por ele
foram recuperadas, e as empresas que o patrocinam foram questionadas nas redes
sociais.
O episódio fez a celebridade virtual perder patrocínios e mobilizou
ativistas contra o influencer.
Na segunda-feira foi a vez do também youtuber
Spartakus Santiago se pronunciar.
Ele publicou um vídeo como resposta, que teve
até a tarde desta terça mais de 1,5 milhão de visualizações.
"Ele pensou em uma
piada rápida quando viu o jogador correndo e associou a primeira coisa que veio
na cabeça dele.
E a imagem que veio de uma pessoa negra correndo foi a um
arrastão.
Esse é o tipo de associação que não acontece quando veem um jogador
branco correr.
Eu nunca vi um jogador branco ser associado a um ladrão porque
está correndo rápido", explica Santiago ao EL PAÍS.
"Nós [negros]
somos associados com bandidos diariamente.
Não tem como achar que isso é piada.
Tem muitas coisas que são apenas brincadeiras, mas que na verdade nos
oprimem".
No vídeo, Santiago lembra
que Mbappé ganha o equivalente a 90.000 reais por jogo na Copa do Mundo e doa
toda essa quantia para instituições de caridade.
"Mas isso não importa,
porque ele é negro.
E negro correndo para brasileiro é gente fazendo
arrastão", argumenta o baiano, de 23 anos.
"Tudo porque o consciente
coletivo diz que preto é automaticamente ladrão.
E você, Cocielo, como grande
influenciador, youtuber com milhões de seguidores, está reforçando esse
pensamento".
Foi criada a hashtag #RacismoNãoÉPiada e outros ativistas e
influencers também responderam ao comentário racista.
Formado em comunicação pela
UFF e em direção de arte pela Miami Ad School, Santiago inaugurou seu canal no Youtube em 2017, hoje com mais de 60.000 inscritos, para falar de temas como
LGBTfobia, racismo, desigualdade racial, colorismo, apropriação cultural, entre
outros.
O objetivo, explica em seu perfil no Facebook, é "utilizar uma
linguagem didática" para debater esses temas "através dos acontecimentos
da mídia".
Não foi diferente após a publicação e repercussão do
tweet racista de Cocielo.
"O intuito da minha resposta foi esclarecer as
pessoas de por que aquilo é racista, já que muita gente fica dizendo que é
mimimi, que besteira, sem querer se preocupar em entender o contexto", explica
ele.
"Também para que o próprio Cocielo entenda e se posicione, já que ele
está em silêncio até agora.
Para não perder mais nenhum outro patrocínio, ele
não está falando nada, mas ele precisa se posicionar!
Porque ele fez algo muito
ruim".
Cocielo até pediu desculpas
por sua mensagem e se disse arrependido, mas apenas no Twitter — em seu canalde Youtube, chamado Canal Canalha, com quase 17 milhões de inscritos, não há
nenhum vídeo prestando esclarecimentos.
Também apagou todos os seus tweets,
muitos deles com conteúdos racista ainda mais agressivos.
"O Brasil seria
mais lindo se não houvesse frescura com piadas racistas.
Mas já que é proibido,
a única solução é exterminar os negros", diz em um deles.
"Nada
contra os negros, tirando a melanina", comenta em outro.
"Eu queria
ter gravado um vídeo sobre o dia da consciência negra, só que aí deixei queto
porque na cela não tem wi-fi".
"O que mudou é que ele
postou essas outras mensagens em 2013, quando a gente não estava num momento de
tanto debate sobre negritude, movimentos LGBT ou feminismo.
Eram questões que
pessoas ignoravam ou levavam na brincadeira, achavam que era piada de 'humor
negro'", explica Santiago.
"Graças a Deus estamos num momento em que
isso não é mais permitido.
Vamos rebater", acrescenta.
E uma das
importâncias em sempre rebater, explica Santiago, está no fato de que a maior
parte dos fãs e seguidores de Cocielo são adolescentes e crianças.
"Tudo o
que ele fala essas pessoas concordam.
Mesmo com toda a mídia se posicionando
contra o Cocielo, muitos dos fãs ainda estão apoiando.
O perigo mora aí, porque
são pessoas que começam a achar que piada racista é bobagem e vão reproduzir
esses comportamentos na escola, na rua, em casa...
E vai ser terrível para
todos nós".
Marcas retiram patrocínios
Adidas, Submarino e Itaú são
algumas das marcas que até esta semana patrocinavam — inclusive a viagem até a
Rússia para a Copa — ou possuíam campanhas publicitárias com Cocielo. Gillette,
Coca-Cola e McDonald's estão entre as que também já tiveram alguma relação com
o rapaz. Pressionadas, elas suspenderam qualquer tipo de relação e se
posicionaram contra a mensagem. A Adidas, a mais cobrada entre elas, disse que
repudia "todo e qualquer tipo de discriminação". Para Santiago, essas
marcas também têm responsabilidades, por estarem "pagando o racismo dessa
pessoa", opina. "É bom que tenham ciência, porque os influenciadores
são um fenômeno recente, com um poder de influência enorme, e as empresas têm
que entender como lidar com isso", argumenta. Ele afirma ainda que as
marcas pecaram ao não pesquisarem os tweets antigos de Cocielo, o que mostra
que elas ainda "não estão preparadas para selecionar influenciadores"
e que precisam "se profissionalizar nisso para depois não terem
prejuízo". E acrescenta: "Não é só porque uma pessoa tem um milhão de
seguidores que por isso vão poder confiar nelas para trazer retorno para o
negócio. Se o influenciador que você atrelou sua marca fizer alguma coisa ruim,
a sua marca também vai por água abaixo. É preciso não só analisar a quantidade,
mas também a qualidade".
Santiago também reclama da
pouca diversidade de youtubers patrocinados. "No Lollapalooza, todos eles
eram brancos. As empresas ainda não acordaram para essas questões. Nessas
seleções de quem elas dão voz, elas acabam às vezes reforçando opressões. É
preciso que essas empresas notem não só o que falam, mas também as diversidades
e quem eles representam". Sobre Cocielo, diz ainda não considerá-lo uma
pessoa conservadora, mas, sim, despolitizada "que ignora esses debates
porque quer manter o privilégio de fazer suas piadas". post: Marcelo Ferla fonte: https://brasil.elpais.com/brasil
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