A primeira boa novidade
atinge cerca de 70% das mulheres com a doença.
Elas apresentam o chamado
subtipo luminal de tumor, caracterizado pela presença, nas células tumorais, de
receptores hormonais femininos (estrógeno e progesterona).
Hoje há alguns
testes que avaliam as marcas genéticas da doença, informações atualmente
determinantes para saber a chance de o tumor se disseminar e que resposta terá
aos remédios.
Na pesquisa anunciada na semana passada, 10,2 mil pacientes foram
submetidas ao exame Oncotype CX, que analisa 21 genes associados ao tumor e
indica o grau de risco em notas que vão de zero a 100.
No estudo, considerou-se
baixo risco até dez, intermediário de 10 a 25 e, acima disso, alto.
“Para a
maioria das 6,7 mil pacientes que compunham o risco intermediário ficou
evidente que a quimioterapia é desnecessária após a cirurgia para retirada do
tumor”, explica o médico Mário Alberto da Costa, da Oncoclínica Centro de Tratamento
Oncológico, no Rio de Janeiro.
O tratamento a base de hormônios é suficiente.
Antes, sabia-se que a
quimioterapia não precisava ser usada apenas para pacientes com escore abaixo
de dez.
“A nova informação refina mais o tratamento pós-operatório”, afirma o
oncologista Fernando Maluf, diretor médico associado do Centro Oncológico da BP
— Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Para as pacientes, prescindir da
quimioterapia significa não sofrer os efeitos adversos comuns aos remédios, que
incluem náuseas, cansaço e perda de cabelo.
Entre as mulheres que apresentaram
risco entre 21 e 25 e que se encontravam na pré-menopausa, no entanto, a
combinação entre a quimio e a terapia hormonal apresentou pequeno benefício.
Avaliação Genética
O achado só foi possível graças
ao salto no conhecimento sobre a genética do tumor e sua importância no combate
à enfermidade observado na última década.
Isso mudou tudo no tratamento do
câncer.
As informações genéticas extraídas de cada tumor mostraram que não
basta apenas avaliar a localização do câncer e o estado clínico do paciente.
É
preciso considerar as características genéticas expressadas pelas células
tumorais e também do paciente como um todo para que o tratamento seja mais
eficaz (sabe-se, por exemplo, que uma mesma medicação pode funcionar para um
doente e não para outro).
É a união das informações que permite atualmente o
desenho de terapias específicas.
Não é por outra razão que a medicina viu
disparar nos últimos anos o lançamento de drogas que atuam sobre subtipos muito
próprios revelados por meio dos estudos genéticos.
Experimento pioneiro
O segundo experimento
festejado na reunião deste ano também se deve a isso.
Ele teve como alvo
mulheres portadoras do subtipo HER-2 positivo, caracterizado pela presença de
uma alteração genética do tumor que estimula as células doentes a produzir em
excesso a proteína HER-2.
Essa mutação torna a doença mais agressiva.
O
recomendado até hoje era que, para evitar a volta do tumor depois da cirurgia,
as pacientes recebessem quimioterapia e uma das medicações que bloqueiam
especificamente a atuação da proteína.
No caso da pesquisa, o remédio usado foi
o transtuzumabe.
Os cientistas avaliaram a reação ao uso do medicamento durante
seis e doze meses.
A resposta demonstrou que a evolução e sobrevida entre os
dois grupos é praticamente a mesma.
“Além de poupar a mulher de efeitos
colaterais causados pelo remédio, a informação resultará em uma economia enorme
no tratamento”, diz o oncologista Sergio Simon, presidente da Sociedade
Brasileira de Oncologia Clínica.
Um dos riscos mais preocupantes decorrentes da
utilização da droga é o dano cardíaco que pode provocar.
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Sergio Simon, oncologista
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“As novas informações poupam
as mulheres de efeitos colaterais e reduzem o custo dos tratamentos” Sergio
Simon, oncologista
Outro experimento inovador
também mexeu com a comunidade médica na mesma semana do encontro da Sociedade
Americana de Oncologia e trouxe ainda mais esperança de novos recursos contra a
doença.
Em um artigo publicado na revista científica Nature Medicine — uma das
mais respeitadas do mundo —, pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde dos
Estados Unidos descreveram de que maneira conseguiram deixar livre do câncer de
mama, pela primeira vez, uma paciente submetida a uma estratégia que usa as
próprias células de defesa do doente como arma.
O caminho já foi usado,
também com sucesso, para bloquear tumor de pele e de pulmão.
A paciente é a
engenheira americana Judy Perkins, 49 anos, moradora da Flórida.
Seu
prognóstico era de três meses de vida depois que o tumor originado em sua mama
direita se espalhou para outras partes do corpo (metástase) e não respondia aos
tratamentos.
Os médicos a selecionaram para o estudo e, após dois anos,
constataram que a doença havia sido contida.
Primeiro, os pesquisadores
extraíram de seu organismo células do sistema de defesa capazes de localizar e
matar o tumor.
Depois, as multiplicaram em laboratório.
Em seguida, o conteúdo
foi injetado em Judy. Todas as lesões metastáticas desapareceram.
“Foi uma
resposta notável”, declarou o coordenador do trabalho, o médico americano
Steven Rosenberg.
Há um longo caminho antes de o recurso tornar-se disponível.
Depois de terem a boa notícia com Judy, os médicos precisam, antes de tudo,
saber se ela será replicada em mais pacientes.
Eles estão confiantes que sim.
Opção para melanoma
Novidades importantes foram
apresentadas também contra o melanoma, o tipo mais agressivo de tumor de pele.
Entre elas estão os resultados animadores do uso combinado de duas medicações
(encorafenibe e binimetinibe) em casos nos quais o tumor se espalhou ou
apresenta mutação no gene BRAF, algo que corresponde a metade dos casos, e não
pode ser completamente retirado por cirurgia.
A estratégia dobrou o tempo de
sobrevida em comparação à utilização de apenas um dos remédios indicado para a
doença (vemurafenibe).
Além disso, houve melhora na qualidade de vida.
“O
tratamento é bem tolerado.
Não observamos febre ou fotossensibilidade, por
exemplo”, disse à ISTOÉ Reinhard Dummer (foto), da Universidade de Zurique,
principal autor do estudo que forneceu a conclusão.
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