Aumenta
a conta: não ficou só em R$ 2 milhões.
Eletrobras pagou aditivo para seguir
sendo mal falada
A Eletrobras subiu o valor
da conta que paga para ser mal falada por aí.
Depois de contratar por R$
1.800.000,00 (um milhão e oitocentos reais) a RP Brasil Comunicações (do grupo
FSB Comunicação, maior assessoria de imprensa do país) para influenciar
reportagens e comentários negativos dos “formadores de opinião” sobre a empresa
com o intuito de criar um clima favorável a privatização, como mostrou
reportagem aqui publicada, a atual diretoria da estatal foi além: pagou mais R$
1.628.344,00 (um milhão, seiscentos e vinte e oito mil, trezentos e quarenta e
quatro reais) por um aditivo de mais oito meses, desembolsando do erário
público um total de R$ 3.428.344,00 (três milhões, quatrocentos e vinte e oito
mil e trezentos e quarenta e quatro reais). Com um intuito: consolidar uma
imagem ruim.
O aditivo foi obtido pela
reportagem através da Lei de Acesso à Informação depois de publicada a primeira
reportagem.
O contrato ampliando o valor pago foi assinado no último dia 20 de
março.
O acordo inicial entre Eletrobras e FSB foi fechado sem licitação.
Já o
atual aditivo chama atenção por ter sido assinado pelo próprio presidente da
Eletrobras, Wilson Pinto Ferreira Júnior (na foto acima), prática pouco usual.
Os bastidores da
concorrência que não houve apontam para uma mão determinante em optar depois da
tomada de preços pela “inexigibilidade de licitação” que decretou a vitória da
FSB: Wilson Pinto Ferreira Junior, nomeado por Michel Temer para presidir a
estatal.
Wilson Pinto Ferreira
Júnior, de 58 anos, assumiu a Eletrobras com uma missão específica dada por
Michel Temer: conduzir o processo de privatização.
Foi na presidência dele que
a empresa encampou tal compromisso.
Em busca de uma mobilização da opinião
pública e formação de ambiente favorável para a privatização, traçou como
estratégia a divulgação de um cenário de mazelas e problemas.
Para tal, era
preciso acionar os chamados formadores de opinião, imprensa, soltar notas em
colunas de jornais, municiar comentaristas economicos, pautar a mídia em geral,
mostrando sempre um cenário que tornasse urgente tal privatização, acelerada
pela pressa do governo federal em concretizar o negócio.
Apesar de todos os esforços
do presidente da Eletrobras posto por Michel Temer para privatizar inclusive em
iniciativas como as citadas acima de ampliar a percepção ruim da sociedade
sobre a empresa, o projeto vem encontrando resistência e falta de respaldo popular,
o que dificulta o trâmite no Congresso.
A ideia inicial de que já estivesse
concluído não foi cumprida e dificilmente será posto em votação antes das
eleições do fim do ano.
Assim, a reportagem
questionou a Eletrobras sobre mais gasto por algo que no momento parece fora de
pauta.
A empresa, através da assessoria de imprensa, justificou que o projeto
segue tramitando e que “havendo de fato suspensão do referido processo, o
objeto do contrato perderá a sua necessidade para a Eletrobras, o que levará à rescisão
do mesmo”.
A reportagem questionou a razão de tal aditivo.
(ver “Outro Lado”
abaixo).
O foco da privatização da
Eletrobras começou com Temer ainda interino, quando o poder executivo editou a
Medida Provisória (MP) 735, aprovada pelo Congresso, na intenção de facilitar a
transferência do controle de ativos e as privatizações de distribuidoras da
Eletrobras.
Em 2017 veio a MP 814,
retirando da Lei 10.848/2004, que trata da comercialização de energia, o artigo
que excluía a Eletrobras e suas controladas — Furnas, Companhia Hidroelétrica
do São Francisco, Eletronorte, Eletrosul e a Companhia de Geração Térmica de
Energia Elétrica (CGTEE) — do Programa Nacional de Desestatização.
O relator da MP 814/2017 é o
deputado federal Júlio Lopes (PP-RJ), ex-secretário de transportes do Rio na
gestão Sérgio Cabral, que aparece na delação premiada de Benedicto Júnior, da
Odebrecht, em denúncia de recebimento de R$ 15,6 milhões, como está em planilha
entregue ao Ministério Público Federal (MPF-RJ).
Pela delação, entre 2008 e
2014, o deputado teria recebido 91 pagamentos.
O relator da MP de privatização
da Eletrobras atendia na lista de propinas da Odebrecht pelos apelidos de
“Pavão”, “Bonitão”, “Bonitinho”, “Velho” e “Casa de Doido”.
Júlio Lopes é
citado ainda em depoimento de Jacob Barata, o “Rei do Ônibus”, sobre
recebimento de propinas no esquema de caixinha para políticos da Federação das
Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro
(Fetranspor).
Já o ex-deputado Pedro
Corrêa cita em depoimento o relator da MP 814/2017 da seguinte forma: “Esse
cara tem que ser investigado.
Esse cara fez miséria na secretaria no Rio”.
E
conta ainda que, diante da voracidade de “Casa de Doido”, deu o seguinte
conselho, tanto a ele quanto a Eduardo Cunha, preso na Lava Jato: “Olha, se
vocês que acabaram de chegar a Brasília forem com tanta sede ao pote, vão
acabar cassados”.
Júlio Lopes nega todas as acusações.
Em sua propaganda, o governo
alardeia que deve alcançar R$ 12,2 bilhões na privatização, sempre tratada como
“democratização do capital”.
No entanto, de acordo com o próprio Ministério de
Minas e Energia, o valor patrimonial da estatal é de R$ 46,2 bilhões e o total
de ativos da empresa chega a R$ 170,5 bilhões. Além de R$ 541 bilhões
investidos desde a criação, em 1962.
Outro lado:
A reportagem enviou as
questões abaixo para a Eletrobras através da assessoria de imprensa:
1- Qual a razão para tal
prorrogação?
2- Qual a razão do prazo
adotado para prorrogação, já que a campanha pela “desestatização”, razão do
contrato e do aditivo, já nem em curso está.
No entanto, o contrato ainda vai
perdurar.
R- Na época da renovação, em
março, segundo estimativas da Câmara dos Deputados, o projeto de privatização
da Eletrobras poderia ser votado na respectiva comissão eleitoral em abril.
A
expectativa era de que também em abril o projeto fosse votado no plenário da
Câmara e, caso aprovado, seguiria para o Senado.
As datas previstas em nenhum
momento eram ou são de controle da companhia.
Dessa forma, a Eletrobras
entendeu que o prazo de seis meses de prorrogação seria adequado e suficiente
para que a questão fosse trabalhada junto aos mais diversos atores envolvidos,
reforçando a transparência do processo e, em especial, da Eletrobras,
disponível a prestar esclarecimento a toda a sociedade.
Sobre a “desestatização
não estar em curso”, a Eletrobras desconhece qualquer informação oficial a este
respeito, seja do acionista majoritário (governo federal), proponente da
desestatização, seja da Câmara dos Deputados, onde o projeto está tramitando.
Contudo, havendo de fato suspensão do referido processo, o objeto do contrato
perderá a sua necessidade para a Eletrobras, o que levará à rescisão do mesmo.
3- Qual a razão do contrato
de aditivo estar assinado pelo presidente da Eletrobrás, Wilson Ferreira
Júnior, prática não usual em contratos de tal tipo, assim como não foi o
contrato que gerou este aditivo?
R- Via de regra os contratos
da empresa são delegados para a assinatura do titular da Diretoria de
Administração.
Em razão da vacância do titular, comunicada ao mercado, o
presidente Wilson Ferreira Junior respondia interinamente pela função, por isso
assinou os contratos.
post: Marcelo Ferla
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