No
Rio, 11 mulheres são estupradas por dia; 68% dentro de casa
Agência Brasil
Em 2017, 11 mulheres foram
estupradas por dia no estado do Rio de Janeiro, num total de 4.173 registros,
sendo que 68% dos crimes ocorreram dentro de residências e 66,7% das vítimas
foram crianças e adolescentes.
Os dados são da 13ª Edição do Dossiê Mulher,
lançada hoje (4) pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).
O aumento é 3,98%
maior que o do ano passado, quando foram registrados 4.013 estupros de
mulheres.
De acordo com uma das
organizadoras do dossiê, major Claudia Moraes, os dados são um alerta para o
grande número de estupros cometidos por pessoas conhecidas das vítimas.
“Não é
aquele caso do estupro no meio da rua, mas aquele estupro perpetrado por
pessoas próximas e que têm acesso a essas meninas e adolescentes, e que muitas
vezes são difíceis de ser notificados.
A gente imagina que os dados que a gente
apresenta são apenas uma parte daquilo que de fato acontece”.
Segundo Claudia, estudos
apontam que a violência sexual praticada por pessoas próximas das vítimas tende
a ser recorrente.
“O fato de os crimes sexuais serem perpetrado por pessoas
próximas, eles têm a característica da reincidência.
Isso quer dizer que, até
uma pessoa fazer o registro, ela já foi abusada outras vezes”.
Apesar de se manterem em
níveis muito elevados, alguns tipos de violência tiveram redução nos registros.
O número de mulheres mortas diminuiu 3,8%, caindo de 396 em 2016 para 381 em
2017, sendo que 60% das vítimas eram negras.
Os casos de lesão corporal dolosa
foram 39.641, o de tentativas de estupro, 356, houveran 1.973 registros de
violações de domicílio, 26.263 casos de violência moral, que engloba calúnia,
injúria e difamação, e foram registrados 34.348 ameaças a mulheres.
Registros
O ISP destaca que os
registros de crimes no começo do ano passado sofreram o impacto da paralisação
da Polícia Civil, portanto apenas os dados sobre homicídio não tiveram a
notificação prejudicada.
Para a major Claudia, apesar de não ter havido aumento
significativo no número de casos, os dados seguem num patamar alarmante.
“Uma coisa que salta sempre
aos olhos é a permanência dos altos percentuais de mulheres vítimas de crimes
como lesão corporal e ameaça.
Esse foi o primeiro ano que tivemos dados de um
ano inteiro de tentativa de feminicídio, com cinco casos e 15 tentativas por
mês no estado.
É algo absolutamente alarmante.
E a maioria dos acusados desses
crimes são companheiros ou ex-companheiros, pessoas próximas.
Então isso é uma
questão terrível, que chama a atenção”.
O dossiê revela também que
as mulheres continuam sendo a maioria das vítimas dos crimes de estupro
(84,7%), ameaça (67,6%), lesão corporal dolosa (65,5%), assédio sexual (97,7%)
e importunação ofensiva ao pudor (92,1%).
Claudia destaca também o uso de arma
de fogo nos homicídios de mulheres, que chega a 47%, sendo 9,7% com o uso de
arma branca.
Em 2017, o dossiê incluiu o
delito de ato obsceno, devido à “crescente sensibilização social para a
violência sexual contra as mulheres nos meios de transporte público” e em
outros espaços públicos.
Foram registradas 194 denúncias desse tipo de delito,
além de 595 de importunação ofensiva ao pudor.
Medidas protetivas
Sobre as medidas protetivas
de urgência, previstas na Lei Maria da Penha, o dossiê aponta que, entre 2013 e
2017, foram feitos 225.869 pedidos no estado pela Polícia Civil, com o objetivo
de “preservar a integridade física da vítima e de seus familiares”, uma média
de 123 solicitações por dia nos últimos cinco anos.
A major Cláudia lembra da
importância da mulher denunciar a agressão sofrida.
“A violência contra a
mulher se dá de várias formas, não é só física, a gente tem violência
psicológica, patrimonial, violência sexual, assédio de rua.
Muitas coisas
passam despercebidas e a gente precisa reforçar isso.
Em nenhum momento a
mulher pode se culpar pela violência que ela sofreu. Isso é muito importante.
Muitas mulheres que morreram vítimas de feminicídio achavam que seus parceiros
não seriam capazes de fazer isso.
É importante interromper esse ciclo e a primeira
coisa é falar com alguém, procurar um serviço, uma delegacia.
Não esconda esse
problema, não passe maquiagem no rosto para esconder a agressão”, alerta a
organizadora da pesquisa.
As informações foram
sistematizadas a partir do banco de dados dos registros de ocorrência da
Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, relativos ao ano de 2017.
post: Marcelo Ferla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.