*Este texto me foi enviado
por minha amiga de escola e faculdade, hoje colega de profissão e mãe de dois
pré-adolescentes.
'As
pessoas fingem que se importam com fetos. Quando temos aborto espontâneo vemos
que não'
‘Eu perdi dois filhos: o
Tomás, com quase sete meses de gestação, e a Amora, com três meses de gestação.
Ninguém da minha família conta essas crianças'.
By Revista AzMina
|
PEXELS
"Pessoas que
sabem que eu perdi meus filhos me perguntam quando serei mãe"
|
"As pessoas fingem que
se importam com fetos. Isso é uma grande mentira, ninguém dá a mínima pra eles.
A questão é que obrigar a mulher a ser mãe é uma forma de controle, e ter controle
sobre as pessoas é bom.
Ou você tem dinheiro (outra forma de controle) pra
abortar seguramente ou morre, pois a morte também é... controle.
É só isso.
Eu
perdi dois filhos: o Tomás, com quase sete meses de gestação, e a Amora, com
três meses de gestação.
Ninguém da minha família (fora eu e meu marido) conta
essas crianças.
Nossos amigos não contam essas crianças.
Pessoas que sabem que eu
perdi meus filhos me perguntam quando serei mãe, porque, pra elas, ter
engravidado e parido bebês mortos não me torna mãe.
Só vale bebê vivo, aí você
tem o aval, o carimbinho da maternidade.
Quantas mulheres que vocês
conhecem sofreram abortos e perdas gestacionais?
Quantas deram nomes a esses
bebês?
Cadê os túmulos desses fetos?
Não existem.
E nos atestados de óbitos estão
lá aos montes: natimorto. Sem nome nem sobrenome.
E quando tem atestado de
óbito, porque uma gestação de três meses não te dá o direito de ter um
documento desses.
Que sociedade cruel é essa
que acredita que fetos são tão seres humanos quanto eu ou você e ao mesmo tempo
não oferece um túmulo, um nome, um atestado de óbito?
É porque de fato, lá no
íntimo, ninguém acredita nisso.
Quando eu falo que sou mãe
de dois filhos as pessoas acham que sou biruta. Estranham que dei nome pra
Amora.
'Mas você não perdeu com três meses?
Por que deu nome?'
Perguntem às mulheres que
perderam bebês quem se importou com eles.
No hospital não queriam me deixar ver
meu filho, pois ele era um feto (sim, foi isso que disseram).
A médica disse que não tinha
problema se meu filho caísse na privada (onde me colocaram pra parir) porque
ele já estava morto.
É esse o respeito que um ser humano merece?
Quando fiz ultrassom pra ver
se tinha de fato sofrido um aborto na gestação da Amora a médica me disse:
'Que
bom seu útero tá limpinho. Aquilo tudo já saiu, nem vai precisar de curetagem'.
AQUILO.
Perguntem às mulheres que
sofreram abortos espontâneos o tratamento VIP que tiveram no hospital.
Nem
consigo contar quantas vezes ouvi 'Logo nasce outro' (como se fosse fácil
substituir pessoas) ou 'Fica triste não, perder assim é normal'.
Você fala
assim de uma pessoa que perdeu um filho de 18 anos?
Não.
De um filho de 1 ano?
Não.
Mas de feto?
Feto pode.
Posso dar um milhão de exemplos de como a
sociedade não considera fetos pessoas, tenham eles alguns dias ou 38 semanas.
Se ter filhos fosse
absolutamente tão incrível e maravilhoso quanto a sociedade quer que a gente
acredite, não tinha tanta criança abandonada no mundo!
Só deve ser mãe quem
quer.
Homens já escolhem não ser pais por meio do abandono.
Deixem as mães
escolherem também, mas de uma forma mais digna que simplesmente virar as
costas.
Não sejam hipócritas."
*Também tem um desabafo para
fazer ou uma história para contar? Então senta que o divã é seu! Envie seu
relato para liane.thedim@azmina.com.br
post: Marcelo Ferla
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.