Marielle
Franco: a ousadia de tentar contrariar as estatísticas
Em novo artigo, Joselicio Junior
analisa a morte de Marielle Franco.
“O abatimento, a tristeza da perda, o medo,
o sentimento de incapacidade, de impunidade são inevitáveis, mas temos a
obrigação de continuar”
Por *Joselicio Junior
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A morte de Marielle é
a demonstração mais dura do quanto a democracia brasileira é frágil e seletiva
– Foto: Reprodução/Facebook
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Marielle Franco foi
assassinada por ser quem ela é, mulher, negra, lésbica, favelada, socióloga,
defensora dos Direitos Humanos que ousou ocupar a política, que transformou o
seu mandato em uma trincheira de luta, de denúncia da violência praticada pelo
estado nos morros, que teve coragem de falar abertamente o quando a intervenção
militar no Rio de Janeiro é ação desastrosa e eleitoreira.
Marielle tentou contrariar
as estatísticas, mas o racismo é implacável, 130 anos após a falsa abolição os
corpos negros permanece descartáveis pela estrutura do poder desse país.
Em uma entrevista ao Jornal Brasil de Fato, em março de 2017,
foi indagada sobre a denúncia em sua
rede social sobre o racismo que sofreu no aeroporto e perguntaram “Como é ser mulher negra no Brasil?”.
“Ser mulher negra é resistir
e sobreviver o tempo todo.
As pessoas olham para os nossos corpos nos
diminuindo, investigam se debaixo do turbante tem droga ou piolho, negam a
nossa existência.
Isso que passei no aeroporto foi uma vivência que muitas
mulheres negras já passaram.
Poderíamos fazer uma pesquisa objetiva perguntando
quantos homens e mulheres brancos já tiveram os seus cabelos revistados; a
resposta seria nenhum.
Estamos expostos e somos violentados todos os dias.
Para
que a discussão se amplie é fundamental compreender que estamos em um lugar de
tratamento diferente.
É preciso reconhecer o racismo”, afirmou Marielle.
A morte de Marielle é a
demonstração mais dura do quanto a democracia brasileira é frágil e seletiva.
Que a estrutura do Estado serve para proteger e beneficiar o 1% mais rico e
massacrar o restante da população, particularmente os historicamente excluídos,
as mulheres, os negros, os periféricos.
Queremos investigação,
punição aos culpados, mas sobretudo queremos mudanças estruturais, queremos ter
o direito à vida, à cidadania, à dignidade.
O abatimento, a tristeza da
perda, o medo, o sentimento de incapacidade, de impunidade são inevitáveis, mas
temos a obrigação de continuar, pois nossa luta é secular.
Estamos aqui fruto
da luta e resistência de nossos ancestrais e temos a obrigação de lutar por uma
sociedade melhor para os que estão e virão.
Marielle Franco Presente, Agora e
Sempre.
*Joselicio Junior
Mais conhecido como Juninho,
é jornalista, presidente estadual do PSOL-SP e militante da entidade do
movimento negro Círculo Palmarino.
É colunista da Revista Fórum.
Hoje faz 21 dias da morte de Marielle Franco e Anderson Pedro Gomes e ainda nada foi
dito a respeito do que ocorreu por parte daqueles que estão investigando o
caso.
post: Marcelo Ferla
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