Sempre gosto de lembrar aos leitores que este blog tem como intenção trazer à tona a informação, o conhecimento e o debate democrático sobre os assuntos mais variados do nosso cotidiano, fazendo com que todos se sintam atualizados.
Na medida em que você vai se identificando com os assuntos, opine a respeito, se manifeste, não tenha medo de errar, pois a sua opinião é de suma importância para o funcionamento e a real função deste espaço, qual seja, a de levar a todos o pensamento e a reflexão.
O diálogo sobre o que é escrito aqui e sobre o que vem acontecendo ao nosso redor é muito mais valioso e poderoso do que podemos imaginar.
Portanto, sinta-se em casa, leia, informe-se e opine. Estou aqui para opinar, dialogar, debater, pensar, refletir e aprender. Faça o mesmo.
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sábado, 27 de janeiro de 2018
Acontecimentos.
O
caso Marcia Tiburi e Kim Kataguiri.
Marcia Tiburi é uma de
minhas mentoras a muito tempo já.
A sigo em todas as redes sócias
as quais ela participa ou que postam materiais verdadeiros de sua autoria, bem como acompanho seu trabalho a bastante tempo como filosofa,
respeitando sempre seu ponto de vista e aprendendo com seu grande saber na
filosofia.
Desta forma, a acho uma das
grandes cabeças da atualidade e já postei vários textos dela aqui em meu blog
na categoria Mulheres Admiráveis.
Para o melhor esclarecimento do que ocorreu no Programa de Juremir Machado Esfera Pública, na rádio Gaúcha, sendo este, outro mentor meu e que acompanho de perto.
Dito isto, posto aqui incialmente o vídeo e a carta de Marcia Tiburi a Juremir
Machado.
Vou colar aqui a minha carta
a Juremir Machado para facilitar.
Agradeço aos leitores
atentos e cada vez mais raros.
Caro Juremir,
Sempre gostei muito de
participar do teu programa.
Conversar contigo, e com qualquer pessoa que
apresente argumentos consistentes. Mais do que um prazer é, para mim, um dever
ligado à necessidade de resistir ao pensamento autoritário, superficial e
protofascista.
Ao meu ver, debates que desvelem divergências teóricas ou
ideológicas podem nos ajudar a melhorar nossos olhares sobre o mundo.
Tenho a minha trajetória
marcada tanto por uma produção teórica quanto por uma prática de lutar contra o
empobrecimento da linguagem, a demonização de pessoas, os discursos vazios, a
transformação da informação em mercadoria espetacularizada, os shows de
horrores em que se transformaram a grande maioria dos programas nos meios de
comunicação de massa.
Ao longo da minha vida me
neguei poucas vezes a participar de debates.
Sempre que o fiz, foi por uma
questão de coerência.
Tenho o direito de não legitimar como interlocutor
pessoas que agem com má fé contra a inteligência do povo brasileiro ao mesmo
tempo em que exploram a ignorância, o racismo, o sexismo e outros preconceitos
introjetados em parcela da população.
Por essa razão, ontem tive
de me retirar do teu programa.
Confesso que senti medo: medo de que no Brasil,
após o golpe midiático-empresarial-judicial, não exista mais espaço para
debater ideias.
Em um dia muito importante
para a história brasileira, marcado por mais uma violação explícita da
Constituição da República, não me é admissível participar de um programa, que
tenderia a se transformar em um grotesco espetáculo no qual duas linguagens que
não se conectam seriam expostas em uma espécie de ringue, no qual argumentos
perdem sentido diante de um já conhecido discurso pronto (fiz uma reflexão teórica
sobre isso em “A Arte de escrever para idiotas”), que conta com vários
divulgadores, de pós-adolescentes a conhecidos psicóticos, que investe em
produzir confusão a partir de ideias vazias, chavões, estereótipos ideológicos,
mistificações, apologia ao autoritarismo e outros recursos retóricos que levam
ao vazio do pensamento.
Por isso, ontem tive que me
retirar.
Não dependo de votos da audiência, nem sinto prazer em demonstrar a
ignorância alheia, por isso não vi sentido em participar do teu programa.
Demorei um pouco para entender o que estava acontecendo.
Fiquei perplexa, mas
após refletir melhor cheguei à conclusão de que a ofensa que senti naquele
momento era inevitável.
A uma, porque, ao contrário
das demais pessoas, não fui avisada de quem participaria do debate.
A duas, por
você imaginar que eu desejaria participar de um programa em que o risco de
ouvir frases vazias, manifestações preconceituosas e ofensas era enorme.
Por
fim, e principalmente, meu estômago não permitiria, em um dia no qual assistimos
a uma profunda injustiça, ouvir qualquer pessoa que faça disso motivo de piada
ou de alegria.
Não sou obrigada a ouvir quem acredita que justiça é o que está
em cabeças vazias e interessa aos grupos econômicos que, ao longo da história
do Brasil, sempre atentaram contra a democracia.
Tu, a quem tenho muita
consideração, não me avisou do meu interlocutor.
A tua produtora, que conversou
comigo desde a semana passada, não me avisou.
Eu tenho o direito de escolher o
debate do qual quero participar.
Entendo que possa ter sido um acaso, que
estavas precisando de mais uma debatedor para a performance do programa.
Se foi
isso, a pressa é inimiga da perfeição.
E, se não cheguei a pedir que me
avisasse se teria outro participante, também não imaginava que o teu raro
programa de rádio, crítico e analítico, com humor bem dosado, mas sempre muito
sério, abrisse espaço para representantes do emprobecimento subjetivo do
Brasil.
Creio que é importante
chamar ao debate e ao diálogo qualquer cidadão que possa contribuir com ideias
e reflexões e para isso, não se pode apostar em indivíduos que se notabilizaram
por violentar a inteligência e a cultura, sem qualificação alguma, que
mistificam a partir de clichês e polarizações sem nenhum fundamento.
O discurso
que leva ao fascismo precisa ser interrompido.
Existem limites instrasponíveis,
sob pena de, disfarçado de democratização, os meios de comunicação contribuirem
ainda mais para destruir o que resta da democracia.
Quando meu livro “Como
conversar com um fascista” foi publicado, muitos não perceberam a ironia
kirkegaardiana do título.
Espero que a tua audiência tenha entendido.
O
detentor da personalidade autoritária, fechado para o outro e com suas certezas
delirantes, chama de diálogo ao que é monólogo.
Espero que, sob a tua condução,
o programa volte a investir em mais diálogo, que seja capaz de reunir a
esquerda e a direita comprometidas com o Estado Democrático de Direito em torno
do debate de ideias. p.s - Confesso que ainda não li o livro para tirar alguma conclusão no sentido de que a autora tenha contrariado sua tese desenvolvida no mesmo, tão pouco encontrei uma resposta do lado contrário que me passasse credibilidade. Assim que o MBL se manifestar ou um canal de credibilidade do Youtube analise o ocorrido estarei postando a posição do outro lado.
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