Carolina Maria de Jesus
(Sacramento, 14 de março de 1914 — São Paulo, 13 de fevereiro de 1977) foi uma
escritora brasileira, conhecida por seu livro Quarto de Despejo: Diário de uma
Favelada publicado em 1960.
Carolina de Jesus é
considerada uma das primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil.
A
autora viveu boa parte de sua vida na favela do Canindé, na zona norte de São Paulo.
A autora sustentou a si mesma e seus três filhos como catadora de papéis.
Em
1958, ela foi descoberta pelo jornalista Audálio Dantas, que publicou o diário
de Carolina sob o nome Quarto de Despejo.
Com o dinheiro do livro, a autora se
mudou da favela.
Chegou a publicar outros livros, mas nenhum repetiu o enorme
sucesso de sua primeira publicação.
A obra da autora foi alvo de
diversos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior.
Vida
Juventude
Carolina Maria de Jesus nasceu
em 14 de março de 1914, na cidade de Sacramento, Minas Gerais, numa comunidade
rural, de pais negros analfabetos.
Ela era filha ilegítima de um homem casado e
foi maltratada durante toda sua infância.
Aos sete anos, a mãe de Carolina
forçou-a a frequentar a escola depois que a esposa de um rico fazendeiro
decidiu pagar seus estudos, mas ela parou de frequentar a escola no segundo
ano, tendo ainda conseguido aprendeu a ler e a escrever e desenvolvido um gosto
pela leitura.
Mudança para a Favela do
Canindé
Em 1937, sua mãe morreu e
ela se viu impelida a migrar para a metrópole de São Paulo.
Carolina construiu
sua própria casa, usando madeira, lata, papelão e qualquer coisa que pudesse
encontrar.
Ela saía todas as noites para coletar papel, a fim de conseguir
dinheiro para sustentar a família.
Em 1947, aos 33 anos,
desempregada e grávida, Carolina instalou-se na extinta favela do Canindé, na
zona norte de São Paulo, num momento em que surgiam na cidade as primeiras
favelas, cujo contingente de moradores estava em torno de cinquenta mil.
Ao
chegar na cidade, conseguiu emprego na casa de Euryclides de Jesus Zerbini,
médico precursor da cirurgia de coração no Brasil, que permitia a Carolina ler
os livros de sua biblioteca nos dias de folga.
Em 1948, deu à luz seu primeiro
filho, João José.
Teve ainda mais dois filhos: José Carlos e Vera Eunice,
nascidos em 1949 e 1953 respectivamente.
Ao mesmo tempo em que
trabalhava como catadora de lixo, registrava o cotidiano da comunidade onde
morava nos cadernos que encontrava no lixo, os quais somavam mais de vinte.
Um
destes cadernos, um diário que havia começado em 1955, deu origem ao seu livro
mais famoso, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada, publicado em 1960.
Publicação de Quarto de
Despejo
Publicado em 1960, a tiragem
inicial de Quarto de Despejo foi de dez mil exemplares e esgotou-se em uma
semana.
Desde sua publicação, a obra já vendeu mais de 1 milhão de exemplares e
foi traduzida em 14 línguas, fazendo dele um dos livros brasileiros mais
conhecidos no exterior.
Depois da publicação, Carolina teve de lidar com a
raiva e a inveja de seus vizinhos, que reclamaram de ter suas vidas colocadas
no livro sem autorização.
A autora relata que muitos dos moradores da favela
chegaram a jogar os conteúdos de seus pinicos nela e em seus três filhos.
O professor da USP Ricardo
Alexino Ferreira caracterizou a escrita de Carolina como "direta, nua e
crua, mas, ao mesmo tempo, suave.".
Após o lançamento,
seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos, tradução
para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países.
Publicação de Quarto de
Despejo nos EUA
Em 1962, Quarto de Despejo
foi publicado nos Estados Unidos pela editora E. P. Dutton com o título Child
of the Dark.
No ano seguinte, como parte da coleção Mentor, a tradução ganhou
uma edição de bolso, publicada primeiro pela New American Library, depois pela Penguin
USA.
Somente das vendas desta edição, que totalizaram mais de trezentas mil cópias
nos EUA, Carolina e sua família deveriam ter recebido, pelo contrato original,
mais de cento e cinquenta mil dólares.
Contudo, não foi encontrado indício
algum de que ela tenha recebido sequer uma pequena parte disto.
Pagamento de direitos autorais
das traduções
Em março de 1961, uma
reportagem afirmou que a publicação de Quarto de Despejo havia rendido à
Carolina seis milhões de cruzeiros em direitos autorais, contudo a quantia
exata variava de acordo com a reportagem.
É certo que Carolina tinha direito a
dez por cento do preço de venda das traduções, com trinta por cento de sua
parte reservada à Audálio Dantas; ela recebia pequenos pagamentos em dólares
das editoras estadunidenses, mas, por força do contrato original, não podia
autorizar traduções de sua obra: este direito fora cedido à editora Paulo de
Azevedo, uma filial da editora Francisco Alves.
Saída da Favela
Depois da publicação de
Quarto de Despejo, Carolina mudou-se para Santana, bairro de classe média, na
zona norte de São Paulo.
Posteriormente, em 1969, Carolina acumulou dinheiro
suficiente para se mudar de Santana para Paralheiros, uma região árida, no pé
de uma colina.
Próxima de casas ricas, local de algumas das mais pobres
habitações do subúrbio da cidade, com impostos e preços menores, era lá que
Carolina esperava encontrar solidez.
Paralheiros se caracteriza por fortes
contrastes entre ricos e pobres: grandes casarões ao lado de barracos, que, via
de regra, surgiam em vales, onde o ar era poluído pelas indústrias da região do
Grande ABC.
Embora pobre, Paralheiros era o mais próximo que Carolina poderia
chegar do interior de sua infância sem deixar São Paulo e suas escolas
públicas, para as quais seus filhos iam de ônibus.
Agora passando boa parte de
seu tempo sozinha, Carolina lia o jornal e plantava milho e outras hortaliças,
apesar de reclamar que seus esforços de jardinagem rendessem tanto quanto
custassem.
Carolina nunca quis se casar
para não se submeter a um homem e cada um dos seus três filhos era de um
relacionamento diferente.
A filha de Carolina, Vera
Eunice, hoje professora, contou, em entrevista, que sua mãe aspirava a se
tornar cantora e atriz.
Carolina Maria de Jesus
morreu em 13 de fevereiro de 1977, vítima de insuficiência respiratória.
Obra
É considerada uma das
primeiras e mais importantes escritoras negras do Brasil.
A autora chegou a
classificar a favela de "tétrica", de "recanto dos
vencidos" e de "depósito dos incultos que não sabem contar nem o
dinheiro da esmola.".
Legado
Postumamente, foram
publicadas as obras Diário de Bitita, Meu Estranho Diário, Antologia Pessoal e
Onde Estaes Felicidade.
A pesquisadora Raffaella
Fernandez ainda trabalha na organização do material inédito deixado por
Carolina de Jesus em 58 cadernos que somam 5 000 páginas de textos: são sete
romances, 60 textos curtos e 100 poemas, além de quatro peças de teatro e de 12
letras para marchas de Carnaval.
Dos livros escritos acerca
da autora, se destacam Cinderela negra: a saga de Carolina Maria de Jesus
(1994), de José Carlos Meihy e Robert Levine; Muito Bem, Carolina!: Biografia
de Carolina Maria de Jesus (2007), de Eliana Moura de Castro e Marília Novais
de Mata Machado; Carolina Maria de Jesus - Uma Escritora Improvável (2009), de
Joel Rufino dos Santos; e A Vida Escrita de Carolina Maria de Jesus, de Elzira
Divina Perpétua.
Em 2014, como resultado do
Projeto Vida por Escrito - Organização, classificação e preparação do
inventário do arquivo de Carolina Maria de Jesus, contemplado com o Prêmio
Funarte de Arte Negra, foi lançado o Portal Biobibliográfico de Carolina Maria
de Jesus e, em 2015, foi lançado o livro Vida por Escrito - Guia do Acervo de
Carolina Maria de Jesus, organizado por Sergio Barcellos.
O projeto mapeou todo
o material da escritora, que se encontra custodiado por diversas instituições,
dentre elas: Biblioteca Nacional, Instituto Moreira Salles, Museu Afro Brasil,
Arquivo Público Municipal de Sacramento e Acervo de Escritores Mineiros (UFMG).
Lista de obras
Quarto de Despejo (1960)
Casa de Alvenaria (1961)
Pedaços de Fome (1963)
Provérbios (1963)
Póstumas
Diário de Bitita (1982)
Meu Estranho Diário (1996)
Antologia Pessoal (1996)
Onde Estaes Felicidade
(2014)
post - Marcelo Ferla
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