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sexta-feira, 17 de novembro de 2017
Brasil desconhecido.
Série
fotográfica retrata os últimos anos da escravidão no Brasil.
Instituto Moreira Salles
apresenta uma série de fotografias que retrata os últimos anos da escravidão no
Brasil.
O material é comentado pela antropóloga e historiadora Lilia Schwarcz.
Bruno Leal | Agência
Café História
O Instituto Moreira Salles
(IMS) disponibilizou em seu site um material visual em boa medida inédito e que
certamente despertará o interesse dos pesquisadores da história da escravidão
no país.
Trata-se de um conjunto de imagens que retratam o negro na sociedade
brasileira do século XIX.
São imagens que revelam a cosmologia da sociedade
brasileira da época: escravidão, assimilação cultural, religiosidade, trabalho,
trocas culturais e muitos outros aspectos históricos imanentes deste tipo de
registro.
O blog do IMS convidou a
historiadora Lilia Schwarcz para comentar as fotografias, pertencentes ao
próprio acervo do Instituto.
Em ótimo estado de conservação, as imagens são
reveladoras de diversos aspectos sociais do século XIX brasileiro.
No entanto,
não é apenas a realidade enquadrada que chama a atenção.
O olhar do fotógrafo
também reflete uma intenção.
Segundo o site do IMS, as fotos revelam as
“contradições de um período em que o Brasil teve fotógrafos de objetivos
distintos, que vão da criação de uma imagem apaziguadora da escravidão ao
levantamento amplo das diferentes funções dos escravos até a Abolição”.
Uma das fotos
comentadas pela historiadora. Fonte: IMS | Divulgação
Diferente das fotos borradas
e com problemas no tempo de exposição que estamos acostumados a ver, estas, no
entanto, estão nítidas e em alta resolução.
O volume está dividido em quatro
blocos temáticos.
No primeiro bloco, “Deuses e mucamas”, Schwarcz sublinha as
semelhanças e disparidades nas imagens capturadas ao ar livre ou em ateliê.
O
que está em jogo ali é a montagem da cena: o enquadramento, os gestos, o
vestuário, o penteado, as poses.
Nada é fortuito.
Os registros obedeciam a um
ou mais objetivos.
Muitos são conhecidos, outros nunca o serão. Já no segundo
bloco, “O eito e a casa grande”, estão presentes fotos de Augusto Stahl, G.
Gaensly e R. Lindemann, Georges Leuzinger, Henschel & Benque.
Schwarcz
discute as diferenças entre os retratos da mulher e do homem escravos.
Os
homens aparecem mais vinculados ao trabalho, enquanto as mulheres encontram
representação mais variada por causa da domesticidade.
As vestes são
determinantes da relação com o senhor branco.
Nos retratos de tipos exóticos,
vê-se que são apartados da casa grande; nos de negros domesticados, que são
incluídos.
No bloco 3, “Tipologia e
encenação”, um dos mais interessantes, há uma série de fotos do famoso
fotógrafo Marc Ferrez.
Conforme explica Schwarcz, esses negros são retratados
não apenas como trabalhadores da lavoura, mas como parte de um universo mais
particularista.
É possível observar nestas fotos uma grande falta de
naturalidade.
Por fim, é notável a apresentação do bloco 4, “o negro
pitoresco”.
Nesse último bloco, a historiadora examina imagens Victor Frond, dos
anos de 1858 e 1859.
São três imagens que procuram mostrar ao estrangeiro a
imagem de uma escravidão amena – como se, embora ainda perdurasse no Brasil, a
escravidão não fosse negativa.
Bloco 1: Deusas e mucamas
Nesta primeira parte, Lilia
Schwarcz observa as semelhanças e disparidades nas imagens capturadas ao ar
livre ou em ateliê.
A antropóloga se apoia em definição de Susan Sontag,
segundo a qual a “fotografia serve à mentira”, para definir o que é jogo de
cena.
E é justamente esse falseamento que ela identifica nos ateliês dos
fotógrafos: “Tudo é uma mentira, tudo é uma composição”.
Chamam atenção as
negras expostas como mulheres sensuais e aquelas que se ornam com fidelidade às
origens.
Bloco 2: O eito e a casa
grande
Neste segundo bloco, Augusto
Stahl, G. Gaensly e R. Lindemann, Georges Leuzinger, Henschel & Benque são
destacados.
Lilia Schwarcz analisa como é notável como os retratos da mulher e
do homem escravos são distintos.
Os homens aparecem mais vinculados ao
trabalho, enquanto as mulheres encontram representação mais variada por causa
da domesticidade.
As vestes são determinantes da relação com o senhor branco.
Nos retratos de tipos exóticos, vê-se que são apartados da casa grande; nos de
negros domesticados, que são incluídos.
Bloco 3: Tipologia e
encenação
O terceiro segmento traz uma
ampla série de fotos de Marc Ferrez.
Lilia Schwarcz observa que Ferrez faz o
levantamento das variadas funções dos escravos para não vê-los apenas como
trabalhadores da lavoura.
Para ela, a natureza aparece em suas imagens de forma
muito organizada.
Mesmo fora do ateliê, a falta de naturalidade pode ser
percebida pela disposição da cena.
Bloco 4: O negro pitoresco
No último bloco, Lilia
Schwarcz reflete sobre o conjunto de imagens depois de apontar, em três imagens
de Victor Frond dos anos de 1858 e 1859, uma composição que nitidamente serve
para levar ao estrangeiro a imagem de uma escravidão amena – como se, embora
ainda perdurasse no Brasil, a escravidão não fosse de todo negativa.
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