A matéria a seguir é do
site da BBC Brasil, mas tenho uma observação a fazer.
O fato de termos pessoas que
deixam de fazer muitas coisas que faziam por conta de um aparelho de celular (a
cada dia são mais modernos, o que trás mais possibilidades) não é algo que deva
ser tratado como normal.
Tanto não é normal, e saiba
se você estiver fazendo isso ou tem este hábito, que a OMS (Organização Mundial
da Saúde) já deu nome e classificou este mal.
Chama-se Nomofobia, sim,
este é o nome de ter medo de ficar em algum momento sem o celular e,
consequentemente, leva também ao vício do uso deste.
É uma das patologias
cibernéticas de nossos tempos, doença esta que faz com que não se tenha mais
vida real, mas sim artificial, com a sensação de que o artificial é real e
satisfaz.
Mas esta satisfação tem
prazo de validade curto, e quando este termina, as consequências são pesadíssimas
como, por exemplo, a depressão.
Eis abaixo um dos tantos exemplos de
como isto pode ocorre.
Fique esperto!!!
O homem que registra cada
instante da sua vida.
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O
professor espanhol Morris Villarroel tem uma pequena câmera no peito que tira
fotos a cada 30 segundos e um relógio que monitora todos os seus movimentos.
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Todos os dias, o espanhol
Morris Villarroel tira 1.200 fotos.
A maioria bastante sem graça.
Há seis anos
ele faz isso porque resolveu registrar a própria vida minuto a minuto, com a
ajuda de uma câmera, um caderno e um relógio Fitbit, que monitora todos os seus
movimentos.
Entre as fotos, várias da
direção do carro, de uma torrada, da prateleira onde ele guarda a cebola na
cozinha... E nenhuma delas vai ser apagada.
Morris quer registrar as coisas
banais e as extraordinárias que acontecem na sua vida.
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São
1.200 fotos por dia, nem todas interessantes.
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Fotos e registros minuto a
minuto
"Comecei isso quando
fiz 40 anos e me peguei pensando no que fizera da vida até então.
Para os
próximos 40 anos, eu queria dar uma ideia melhor do que eu tinha feito",
explica o professor universitário de fisiologia animal e aquicultura.
Desde 2010, ele registra
tudo num caderno, como um diário.
"Escrevo quando acordo, o que como, o
que faço," diz.
No dia 14 de abril de
2014, Morris Villarroel passou a usar uma pequena câmera presa no peito e que
dispara automaticamente a cada 30 segundos.
Resultado: já acumula mais de um
milhão de fotos.
"Não vi todas. É
muita coisa," admite.
"A câmera tira fotos
do que está bem na minha frente".
Sua mulher, Erin, "não tem nada
contra, mas bem que ela queria mais privacidade".
"Eu não uso a câmera
quando estou no quarto, se é que você me entende."
Da morte do pai ao
nascimento do filho, tudo catalogado
No ano passado, Morris
gastou 37 diários e registrou atividades, observações e ideias assim:
"Acordei às 5h45 num
hotel na Suécia.
Os músculos posteriores da minha perna doem um pouco."
"Conversei com
colegas sobre observação de pássaros na hora do cafezinho."
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Morris
Villarroel também faz anotações diárias. Para registrar tudo o que viveu, só no
ano passado gastou 37 cadernos.
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"Seria legal saber
por que algumas pessoas, quando estão fazendo jogging, sentem a necessidade de
tocar em algo, como numa parede, quando estão na metade do percurso".
Morris Villarroel atribui
categorias e palavras-chave para tudo o que registra.
Os dados são organizados
numa planilha e, quando combinados com as leituras do relógio Fitbit e as
fotos, revelam exatamente o que ele fazia em qualquer momento do seu passado
recente.
Por exemplo, às 12h22 de 7
de dezembro de 2014, o registro é de que ele não se mexeu durante 60 minutos.
As fotos mostram parte de um corredor de hospital.
Naquele instante seu pai
acabara de morrer.
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A
pequena câmera fotografa tudo o que aparece na frente de Morris. Aqui, no
hospital, quando soube da morte do seu pai.
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Ou às 16h36 do dia 4 de
novembro de 2014, hora em que seu filho Liam nasceu, num parto feito em casa.
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Ele
guarda os registros do parto do filho Liam desde o momento em que sua mulher
sentiu as contrações em casa.
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Um pai comum certamente
tem várias fotos posadas da mãe e do filho.
Morris, no entanto, registrou tudo,
do começo das contrações até o momento em que a parteira deixou sua casa.
"Mas meus
equipamentos não conseguiram captar a intensidade daquela hora",
reconhece.
Ele acredita que o filho
vai achar interessante ver as fotos e registros.
"Quando ele tiver 80
anos, vai poder saber como a mãe era quando estava grávida e o que ele fez no
quinto dia de vida...".
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As
anotações diárias são passadas para planilhas cujas informações também podem
ser cruzadas com as fotos.
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Os filhos aprovam o
projeto.
A filha, June, de 15 anos, "gosta de ver os registros.
É
divertido ver onde estivemos", diz.
'Processo ajuda na
reflexão'
Claro que classificar essa
enorme quantidade de dados é um desafio e tanto.
Morris desenvolveu um
ritual matinal que dura uma hora e inclui escrever em 750 palavras seus
sentimentos, quanto tempo passou fazendo coisas diferentes e baixar arquivos.
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Morris
confessa que não consegue ver todas as fotos, como esta, da sua mão ao volante
do carro. Para catalogar tanto material, ele usa palavras-chave.
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"Eu não fazia muita
coisa nesse horário, mas agora consegui produzir algo importante para mim
mesmo", analisa.
Ele também revisa cada
semana, mês e ano registrados:
"É também um processo de reflexão, que me
ajuda a lembrar o que fazer, assim como a planejar e avaliar o que está
acontecendo."
Para muitos, tudo isso
pode parecer completamente sem sentido.
Mas ele garante que existe uma razão de
ordem prática.
Um dia, Morris perdeu o
notebook por duas semanas.
Até que examinou as fotos e descobriu onde o tinha
deixado.
Antes de voltar a um lugar
onde já esteve, ele analisa seus dados, vê como chegou lá, quanto tempo levou,
onde estacionou e o que fez.
Numa dessas vezes, lembrou que havia uma ótima
padaria na esquina.
O registro também funciona
como defesa: se alguém o ameaçar, ele terá a sequência completa de fotos para
provar o que aconteceu.
Mas até agora não teve que recorrer a isso.
O processo o ajuda a saber
quanto exercício precisa fazer.
O monitor Fitbit estabelece como meta 10 mil
passos por dia e por isso ele usa o transporte público para ir trabalhar, em
Madri.
Morris também aprendeu que seu total diário de passos aumenta à medida
em que o semestre universitário avança.
Mudança de hábitos
"Somos criaturas que
têm hábitos, mas nem todos eles são bons," observa.
"Posso mapear
hábitos e melhorar alguns, assim como evitar os mais negativos."
Às vezes, ele tem a
sensação de que não fez muito em um dia ou mesmo durante toda uma semana, mas
quando dá uma olhada nos registros, vê que realmente não foi assim.
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O
professor Morris Villarroel diz que, com seu sistema, passou a valorizar mais o
tempo e tudo o que vive.
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"Você olha a sua vida
e pergunta:
'O que estou aprendendo?
Estou progredindo?
Como estou me
sentindo?' e com base nas respostas, novas questões surgem, 'Quero mudar ou
ficar do jeito que estou?'"
Morris não pretende
encerrar o projeto, afinal fazer um registro tão preciso de cada dia mudou a
maneira como ele valoriza o tempo e os acontecimentos.
post: Marcelo Ferla
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