ONU alerta para crimes de
proporções históricas em Aleppo.
Comissário para Direitos
Humanos classifica bombardeios como equivalentes a crimes de guerra e apela às
grandes potências que entreguem o caso ao Tribunal Penal Internacional.
Mais de
500 morreram desde fim de setembro.
O alto comissário da Organização das Nações
Unidas para os Direitos Humanos, Zeid Ra'ad al-Hussein, afirmou nesta sexta-feira
(21/10) que o cerco e bombardeio da zona leste de Aleppo constituem
"crimes de proporções históricas", equivalentes a crimes de guerra,
com numerosas vítimas civis.
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Foto
mostra soldados sírios no campo de Handarat, norte de Aleppo, no dia 24 de setembro
Foto:
EFE
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Num discurso em vídeo para
o Conselho de Direitos Humanos da ONU em Genebra, na Suíça, Ra'ad al-Hussein
apelou novamente às grandes potências para colocarem de lado suas diferenças e
encaminharem a situação na Síria ao promotor do Tribunal Penal Internacional
(TPI).
A sessão da ONU foi
convocada pelo Reino Unido e apoiada pela França, Alemanha, EUA e Turquia.
Seu
objetivo é aprovar, ainda nesta sexta-feira, uma resolução condenando os abusos
especialmente na região leste de Aleppo, controlada pelos rebeldes, onde cerca
de 250 mil civis estão sitiados por uma ofensiva do governo sírio apoiado pela
Rússia.
"Rússia, você está
piorando a situação e não resolvendo", advertiu Tobias Ellwood, secretário
de Estado britânico, encarregado da África e o Oriente Médio.
"Isso é
vergonhoso e não é uma ação ou liderança que nós esperamos de uma nação
P-5", declarou, se referindo aos cinco membros permanentes do Conselho de
Segurança da ONU, China, EUA, França, Reino Unido e Rússia.
Paulo Pinheiro, presidente
da comissão de inquérito da ONU sobre a Síria, que dirigiu a sessão especial,
afirmou que o painel vai continuar a documentar os crimes de guerra em Aleppo e
exigiu do governo do presidente Bashar al-Assad informações sobre as violações.
Pausa humanitária e fuga
A ONU afirmou nesta
sexta-feira que espera realizar as primeiras evacuações médicas de Aleppo, se
houver uma "pausa humanitária" nos ataques realizados pelo Exército
sírio e caças russos.
Apesar da queda na
violência após o cessar-fogo unilateral que entrou em vigor na quinta-feira,
poucos civis fizeram apelos para deixar as áreas controladas pelos rebeldes na
cidade.
A Rússia acusa os insurgentes de intimidação.
Inicialmente, a trégua
unilateral teria duração de 11 horas, mas o ministro da Defesa russo, Sergei
Shoigu, anunciou na quinta-feira que ela seria estendida "por 24
horas", não deixando claro exatamente quando terminará.
A parte leste de Aleppo,
conquistada pelos rebeldes em 2012, está sitiada pelo Exército desde meados de
julho e tem enfrentado bombardeios devastadores pelo governo e por sua aliada
Rússia desde o lançamento da ofensiva para retomar a cidade, em 22 de setembro.
A Rússia anunciou a
suspensão dos ataques aéreos a partir de terça-feira e o cessar-fogo unilateral
a partir de quinta-feira.
O Exército sírio abriu oito corredores na linha de
frente para mais de 250 mil civis em áreas controladas por rebeldes, mas, até
agora, quase nenhum aceitou a oferta.
"Não houve nenhum
movimento nos corredores na parte leste da cidade.
No momento, não temos visto
qualquer movimento de moradores ou combatentes", afirmou Rami Abdel
Rahman, chefe da ONG Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), sediada em
Londres.
Mais de 500 mortos desde
fim de setembro
Nesta quinta-feira, o
secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou numa sessão especial da
Assembleia Geral da organização, que o resultado da ofensiva contra Aleppo é
"horrível".
Quase 500 pessoas morreram e cerca de 2 mil ficaram
feridas.
Mais de um quarto das vítimas são crianças.
Desde o início de julho,
nenhum veículo de ajuda humanitária da organização consegue chegar à cidade, e
os alimentos vão terminar até o fim deste mês, alertou Ban.
Em consequência, a
fome será usada como arma de guerra.
O secretário-geral da ONU
evocou catástrofes como em Srebrenica e Ruanda.
"Quando a comunidade
internacional finalmente vai unir esforços para acabar com essa
carnificina?", questionou. Ban pediu o "acesso humanitário
completo" à zona leste da cidade síria.
post: Marcelo Ferla
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