p.s - este texto fora publicado na data de aniversário de 50 anos de morte da atriz.
Marilyn
fotografada por Alfred Eisenstaedt, 1953.
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Desde criança, quiseram fazê-la crer que se chamava Norma Jean em homenagem a diva Jean Harlow - a mãe de todas as loiras, de quem Norma foi fã por toda vida.
Ela era seu grande ídolo, se inspirava em Harlow e baseava sua própria vida na triste história de Harlow, quase obsessivamente.
Marilyn
na praia de Amagansett, fotografada por Sam Shaw, 1957.
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Desde tenra idade ela viveu abrigada na casa de Ida e Albert Bolender, um casal que cuidava de várias crianças que por alguma razão não tinham um lar; Norma era uma dessas.
Ela viveu na casa dos Bolender até os 7 anos, quando Gladys a levou embora à força para viver junto dela; o que podia ter sido um belo recomeço para mãe e filha, foi infelizmente interrompido quando a sanidade mental de Gladys começou a dar sinais de fraqueza.
Em 1933, após vários episódios traumáticos ela acabou sendo internada em uma clínica psiquiátrica com o diagnóstico de esquizofrenia. Gladys nunca mais voltou a ser a mesma d'antes.
Mesmo enquanto morava na casa dos Bolender, Ida não permitia que Norma a chamasse de mãe, já que sua verdadeira mãe estava viva - mesmo que parecesse o contrário.
Gladys vivia distanciada da filha, não a procurava e a visitava poucas vezes. Os abandonos, rejeições, mudanças e sofrimentos que eram implicados a Norma Jeane, acabaram criando cicatrizes profundas na alma da menina, feridas que nunca fecharam e a marcaram para sempre.
Marilyn
na praia de Santa Monica fotografada por George Barris, 1962.
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Marilyn
fotografada por Milton Greene, 1955.
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Do fim da infância ao começo da idade adulta, ela viveu em diversas casas de parentes distantes e famílias de criação, incluindo uma passagem pelo orfanato Los Angeles Orphans Home, um dos maiores traumas de sua vida.
Sua guardiã Grace Mckee, que era melhor amiga de sua mãe, a deixara no orfanato em 1935, porque se casara e iria construir uma família em que não havia espaço para Norma Jeane (muitas famílias se interessaram em adotá-la, incluindo o casal Bolender, mas Grace McKee sempre rejeitava as propostas. Imaginem o quão triste é a vida de uma criança num orfanato, a sensação de abandono e solidão. Ainda mais para uma menina que tinha uma mãe.
Anos depois, já como Marilyn Monroe, ela declarou que não entendia o que fazia no orfanato, porque não era órfã, porque tinha mãe.
A menininha Norma Jeane tentava encaixar seus pequenos pezinhos nas pegadas das grandes divas. Um dia seria a sua vez de gravar suas pegadas. E quando ela deixou suas marcas em 1953, ao lado da morena Jane Russell, teve o seu sonho realizado, felizmente desta vez não tinham mentido para ela.
Marilyn,
ainda Norma Jeane, fotografada por André de Dienes, 1946.
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Marilyn
tomando aulas de dança, 1949.
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O maior exemplo disso é o macabro episódio de Dália Negra, ocorrido em 1948. Norma Jeane sabia bem disso.
Vendia-se de tudo aos lobos, aos fotógrafos e aos produtores.
O corpo, a imagem, por uma figuração ou por um papel qualquer numa próxima produção dos estúdios.
O sexo era moeda de troca e o mercado era sórdido, cruel, nada glamouroso.
O ambiente era triste, frio e solitário. Jogava-se com o que se tinha a oferecer, e comprava-se de tudo pelo sucesso.
O salário pago pela 20th Century Fox era baixo, e volta a meia ela tinha que voltar a modelar para complementar a renda.
A vida era difícil, cara e muito solitária.
A corrida ao estrelato era diária, dura e cansativa, conseguir um papel de destaque era tarefa difícil. Norma se mudava constantemente de apartamento, conforme o valor do aluguel subia ou aumentava. Em 1949 sua situação era tão tensa e instável que ela aceitou posar nua para o fotógrafo Tom Kelley só para não perder o carro comprado a crédito.
O preço: 50 dólares. As fotos eram para um calendário, e ela já temendo que viessem destruir sua carreira, exigiu sigilo e preferiu assinar como Mona Monroe.
Em 1953, quando já atingira a fama e o sucesso, as fotos voltaram à tona, desta vez como sendo da grande estrela Marilyn Monroe.
Marilyn
fotografada por Ed Clark, 1950.
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Marilyn
fotografada por Tom Kelley, 1949.
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Seu bom desempenho no drama Almas Desesperadas e a popularidade adquirida levaram a 20th Century Fox a investir pesado nela e nos três filmes de 1953 que a consolidaram como o maior ícone do cinema dos anos 50.
Diferente do seus personagens habituais, no melodramático film noir Torrentes de Paixão (Niagara) - o primeiro dos três clássicos de 1953, ela interpretou Rose Loomis, uma femme fatale sedutora e irresistível.
Não é uma de suas melhores atuações, mas ela está no auge da beleza e brilhando num papel altamente sexy, transpirando sensualidade.
Marilyn
fotografada por Willy Rizzo, 1962.
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Marilyn
fotografada por Alfred Eisenstaedt, 1953.
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"Meu trabalho é a única fundação que eu tenho para me sustentar. Eu me sinto como uma superestrutura sem fundações - mas eu estou trabalhando nelas".
Marilyn é um verdadeiro de exemplo de atriz, de como uma atriz deve ser.
Ela entendia a verdadeira essência da profissão e do que é o trabalho de um ator.
"Uma atriz não é uma máquina, mas eles tratam você como uma máquina. Uma máquina de dinheiro".
E dedicou-se plenamente a esse intento. Teve aulas durante anos com Natasha Lytess, uma das melhores coaches de Hollywood, que exercia uma estranha e possessiva dominação sobre ela, e a acompanhou em inúmeros filmes, incluindo seus maiores êxitos como Os Homens Preferem as Louras (Gentlemen Prefer Blondes) e Como Agarrar um Milionário (How to Marry a Millionaire). Sua atuação um tanto afetada, cheia de maneirismos e expressões faciais baseadas nas atuações do cinema mudo fizeram dela uma grande comediante.
Billy Wilder a definiu como um gênio na comédia - e de fato ela era, mas é difícil até ser uma boa comediante quando se interpreta sempre a mesma loira burra em todos os filmes.
Marilyn
e Joe DiMaggio no dia do seu casamento, 1954.
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Marilyn
e soldados norte-americanos na Coreia, 1954.
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Pouco tempo antes, ela tinha tomado aulas de atuação com Constance Collier, veterano do cinema mudo, então com 77 anos e que viria a morrer pouco tempo depois. No Actor's Studio, Marilyn estava obstinada em mudar os rumos de sua carreira e se tornar uma atriz dramática devidamente reconhecida.
Para isso, tornou-se adepta do "método de imersão" de Constantin Stanislavski, de quem Lee Strasberg era o maior discípulo.
O controverso método consiste em extrair dos próprios atores as emoções e pensamentos de seus personagens, visando criar uma interpretação mais realista o possível, isso inclui buscar os sentimentos mais tristes e profundos, utilizando da memória sensorial e afetiva.
Marilyn era muito estudiosa e muita sincera com os estudos, gostava de se sentar na última fileira da classe para não chamar a atenção dos outros para si mesma. Ela passou todo o ano de 1955 em Nova Iorque tendo aulas no Actor's Studio, e quando Lee Strasberg achou que ela já estava preparada para dar uma performance na frente dos outros, Monroe escolheu a cena de abertura da peça Anna Christie de Eugene O'Neill, ganhadora do prêmio Pulitzer de 1922.
A peça foi levada ao cinema em 1930 no primeiro filme falado de Greta Garbo no papel título (Marilyn era uma grande fã de Garbo), e rendou-lhe sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Atriz. Os outros alunos foram desencorajados a aplaudir, mas a performance de Marilyn foi tão natural que resultou em aplausos espontâneos.
Marilyn fotografada por
Eve Arnold lendo Ulisses, 1954.
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O Príncipe Encantado foi seu único filme fora de Hollywood e a primeira produção da Marilyn Monroe Productions. Sim, exatamente.
Marilyn criou uma produtora independente para poder tocar seus próprios projetos e não ter de ficar refém dos papéis abobalhados que ela não suportava mais. Produzido em associação com a Warner Bros. o filme foi unanimente elogiado pela crítica europeia e rendeu à Monroe o David di Donatello - a maior honraria do cinema italiano, equivalente ao Oscar - por sua performance, e uma nomeação ao BAFTA de Melhor Atriz Estrangeira.
No filme, ela engole totalmente o grandioso Olivier, no papel de uma corista, e ele no de príncipe regente de um país fictício. A comédia romântica se desenrola em um delicioso jogo de gato e rato para ver quem vai conquistar quem.
Este é o filme em que ela mais se assemelha a sua figura original, sua voz e seus cabelos são os mais próximos do natural e sua atuação é deliciosamente espontânea.
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Ela começou a se consultar com a doutora Margaret Hohenberg por influência de Lee Strasberg, que achava que o tratamento ajudaria na exploração de suas emoções e consequentemente, no seu processo de amadurecimento como atriz no Actor's Studio. Foi a partir daí que ela começou a dar voz às vozes.
Nunca mais foi a mesma.
Grande parte dos problemas de Marilyn eram consequência da psicanálise. De 1955 a 1962 ela deitou sobre o divã de 5 psicanalistas. Chegou a se consultar com Anna Freud, filha do próprio pai da psicanálise, que a atendeu quando estava na Inglaterra filmando O Príncipe Encantado.
Marilyn acabou desenvolvendo uma bizarra dependência e obsessão por psicanálise, consumindo tudo o que pudesse sobre o assunto, ela demonstrava um conhecimento gigantesco para alguém que não era profissional.
Sua dependência era tão grande que ela não conseguia mais sequer gravar sem a ausência de sua psiquiatra. Tinha crises de ansiedade, paranoia, medo.
Faltava dias ao trabalho. Esquecia os textos e paralisava toda a produção, já que a estrela nunca estava pronta para gravar. Ao longo dos anos, a situação foi galgando níveis absurdos até que Marilyn simplesmente não conseguia mais filmar.
Vai à fundo nas memórias mais dolorosas e sofridas na tentativa de extrair o "problema". Os tratamentos são sempre longos e exaustivos e não se sabe certamente qual cura se busca.
No caso de Marilyn, talvez a psicanálise tenha sido mesmo desastrosa. Ela não conseguia mais se libertar dos sofrimentos emergidos, passou a viver enclausurada entre suas memórias trágicas, numa atmosfera completamente dark. Seu estado de espírito era o pior possível, lamentável. Nada podia parecer reerguê-la. Mas talvez, ela tivesse a certeza de que seria curada pela psicanálise.
Ela não conseguia mais equilibrar a vida.
Sua saúde estava cada vez mais debilitada e sua instabilidade mental se acentuava a cada dia.
Compareceu a cerimônia do Globo de Ouro em 05/03/1962, onde ganhou a estatueta na categoria de Atriz Favorita do Mundo Durante o Ano de 1961.
Estava completamente bêbada, distribuindo gargalhadas na companhia de seu amante mexicano José Bolaños. Vestia um vestido verde de paetês que deixava suas costas nuas, exibindo sua magreza exagerada.
Para todos, ela estava acabada e o fim estava próximo.
O vestido justíssimo e coberto de pedrarias a fez resplandecer assim que pisou no palco, parecia estar nua, mas nunca esteve tão bela.
Ela se preparou para cantar Happy Birthday da maneira mais sensual e provocante que podia. Era tudo proposital, cada palavra da sua boca parecia transpirar sexualidade, doçura e prazer.
Quando ela entrou no palco do Madison Square Garden estava atrasada, ela vivia atrasada, estava sempre atrasada. Peter Lawford, cunhado do presidente e mestre de cerimônias a anunciou como "the late Marilyn Monroe" - em inglês late quer dizer 'atrasada', mas também significa 'falecida'.
Era o último ato.
O filme que serviria para salvar a 20th Century Fox da falência, por causa dos excessos na produção de Cleópatra, estava com a produção atrasada havia meses. Marilyn não apareceu para trabalhar em sequer metade dos dias de filmagem.
Agora, o estúdio estava a beira do desespero porque sua estrela mais lucrativa desde Shirley Temple não conseguia mais gravar.
Aquele filme lhe trazia más recordações, as crianças que contracenavam com ela tinham a mesma idade que os seus filhos teriam, caso ela não tivesse sofrido dois abortos espontâneos durante seu casamento com Arthur Miller.
Dirigida por George Cukor - o diretor das estrelas - que segunda ela a odiava, lembrava outro filme em que foi dirigida por ele - Adorável Pecadora (Let's Make Love, 1960), que ela odiou filmar.
No fim, era uma produção fadada ao fracasso no estado caótico em que Marilyn estava vivendo.
Mesmo assim, as fotografias dela nua na piscina correram o mundo, e Something's Got To Give é um grande objeto de interesse e pesquisa até hoje.
As poucas pessoas próximas e os poucos amigos relataram que ela estava incrivelmente calma, serena, ansiosa e fazia mil planos para o futuro. Parecia querer mostrar uma outra imagem, de uma nova mulher.
Outros disseram que os dias finais foram iguais a todos os outros - tristes, caóticos e solitários. Um dos fatos é que depois de sua demissão do estúdio ela iniciou uma verdadeira campanha de publicidade - deu entrevistas, apareceu na televisão, e posou para fotos.
Queria mostrar que não estava morta, que ainda era Marilyn Monroe e não tinha acabado. Os últimos a fotografá-la foram George Barris e Bert Stern.
Seu maquiador pessoal Allan 'Whitey' Snyder que a acompanhou por toda sua carreira, disse que ela nunca pareceu tão melhor e estava animada com as oportunidades disponíveis para si mesma. Em sua última entrevista, publicada depois de sua morte ela implorou:
"Por favor, não faça de mim uma piada. Termine a entrevista com o que eu acredito. Eu não me importo de fazer piadas, mas não quero parecer com uma. Eu quero ser uma artista, uma atriz com integridade".
No final das contas, conseguiu ser recontratada pela Fox com um contrato milionário, que ela infelizmente não teve a oportunidade de aproveitar.
A conclusão foi overdose de barbitúricos resultada de 'provável suicídio'.
Ninguém nunca acreditou.
Em 8 de Agosto ela foi sepultada no Westwood Village Memorial Park em Los Angeles, na mesma cidade onde nasceu.
Seu segundo ex-marido, Joe DiMaggio, pagou o funeral e cuidou de toda a cerimônia.
Marilyn foi maquiada por Snyder pela última vez, assim como ele prometeu anos antes, caso ela falecesse antes dele.
Monroe vestia seu vestido preferido, de Emilio Pucci, verde, e segurava nas mãos um buquê de flores rosas.
DiMaggio não permitiu a presença de ninguém do meio artístico, gente que segundo ele foram os responsáveis pela morte dela.
Na cerimônia estavam apenas pessoas muito próximas a ela, seu psiquiatra, o doutor Ralph Greenson, e a meia-irmã Berniece Baker Miracle (ainda viva).
Pelos próximos vinte anos DiMaggio mandou depositar rosas vermelhas todos os dias ao lado da cripta de Marilyn.
Contam que quando estava prestes a morrer, teria dito "finalmente vou rever Marilyn".
Uma mulher que sofreu traumas irreparáveis, mas sobreviveu a todos eles e cresceu através do seu próprio esforço. A história troncuda de uma atriz subestimada e esnobada que se tornou um dos maiores ícones da história do cinema. Aquela que sempre teve que rebolar para negociar seu próprio salário e não ser engolida pelas outras estrelas, salário este que muitas vezes era menor que o do seu maquiador. Nunca teve inimigos, nem desafetos, não se metia em escândalos e gostava de ter sua vida privada protegida. Resta a história de um exemplo de atriz, de mulher e de ser humano.
Norma Jeane não era a mesma pessoa que Marilyn Monroe. Era uma mulher frágil, doce e perturbada, que criou um personagem mil vezes mais forte, inflamável e exuberante. Triste ou alegre, não a julguem e lembrem-se dela com carinho.
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