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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Falando Nisso.


Livro de fotógrafo português retrata atuação de ditaduras no Cone Sul durante Operação Condor.
Em 1973, o chileno de 17 anos Fernando Mora Gutiérrez ajudou a desatolar um caminhão do Exército com uma pá, perto da fronteira com a Argentina. Perguntou para onde os oficiais estavam levando um grupo com 17 homens da vizinhança, que contava com seu pai, Sebastián. 

Os militares não responderam, mas convocaram o rapaz para acompanhá-lo. 

Ele assentiu e subiu no veículo.
O caminhão regressou no dia seguinte para devolver à família somente a pá de Fernando. 

O jovem e os outros homens, trabalhadores sindicalistas da zona madeireira, haviam sido fuzilados pela “Caravana da morte” no que ficaria conhecido como o massacre de Chihuío, e seus corpos desapareceram. 

Quem conta a história é o português João Pina, que conversou e fotografou Alterneriana (ou 'María') Mora, mãe de Fernando e viúva de Sebastián, e sua filha Sonia.

'María' Mora com filha Sonia Mora Gutiérrez: marido e filho foram fuzilados pela Caravana da Morte em 1973, no Chile.
Este é um dos 18 perfis traçados em primeira pessoa e fotografados por Pina. Durante quase uma década, ele percorreu países da América Latina atrás do rastro da Operação Condor, um plano secreto de extermínio a esquerdistas financiado pelos Estados Unidos nos anos 1970 e 1980 e que uniu as ditaduras militares do Cone Sul, deixando um saldo de 60 mil mortos.
O projeto, parcialmente financiado por crowdfunding, resultou no livro "Condor", que chega às livrarias nesta sexta-feira (19/09). 

A obra de 300 páginas traz documentos, depoimentos e fotografias em preto e branco de dezenas de lugares e personagens, todos entrelaçados por um cuidadoso projeto gráfico. 

Uma exposição ampliada do projeto estreia dia 23 de setembro no Paço das Artes, em São Paulo.

Antigos militares acusados pelo Ministério Público da Argentina durante sessão de julgamento por crimes contra a humanidade.

“A pouca consciência coletiva que existe em vários países, como a Bolívia e o Brasil, faz com que o tema seja muito ignorado, e logo mais complexo de investigar”, afirmou o fotógrafo de 34 anos a Opera Mundi. 

Se a pesquisa às vezes esbarrava na burocracia de alguns Estados, do lado das vítimas sempre houve vontade de falar: “Elas querem contar suas histórias”, disse.


Pina colheu da sua vida pessoal e da paixão pela América Latina a ideia do livro: é neto de militantes do Partido Comunista Português presos e torturados durante o regime autoritário que governou Portugal por 48 anos. 

Entre as façanhas do fotógrafo, esteve a de vasculhar o “Arquivo do Horror”, com três toneladas de documentos sobre a Operação Condor, incluindo 11 mil fichas de presos. 

O acervo foi encontrado no Paraguai em 1992 por Martín Almada, um dos depoentes do livro.
Por acompanhar as vítimas durante tanto tempo, Pina pôde acessar lados ainda frágeis dessas pessoas: o fosso entre sobreviventes e filhos, desde cedo separados pela prisão ou pelos efeitos devastadores da tortura; a atmosfera de medo e as ameaças anônimas que ainda acossam ex-presos e familiares de desaparecidos; e a incessante luta por reparação histórica.

Na praia de Blancarena, no Uruguai, encontraram-se alguns dos poucos casos documentados de argentinos lançados de aviões.

O fato de o coronel da reserva brasileiro Sebastião Rodrigues de Moura, o Curió, ser o único torturador a falar, talvez mostre algo sobre a situação do Brasil. 

Na Argentina, onde a Lei da Anistia foi revogada, os militares tapam a cara ao fotógrafo com mãos e cadernos; no Brasil, Curió posa e olha (de lado) a câmara. 

Ele coordenou o plano contra a Guerrilha do Araguaia, no sul do Pará, resultando na morte de 59 guerrilheiros.
Curió deu o testemunho em casa, localizada em um bairro de classe alta em Brasília – o mesmo bairro onde ele buscou moradia para o ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner, exilado no Brasil por 17 anos. 

Em mais um sinal da distância entre as duas faces da guerrilha, os camponeses brasileiros retratados no livro em imagens ou histórias – aqueles que apoiaram ou lutaram na guerrilha – vivem em estado de penúria financeira, sequelas físicas e psicológicas ou em constante medo, sem saber se e quando terão resolvidas suas contas com o passado.


Olimpo, Argentina: sala de tortura do antigo centro clandestino de detenção em Buenos Aires.
post: Marcelo Ferla
fonte: Opera Mundi

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