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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Cinema.
A TEORIA DE TUDO.
por
Carolina Vila Nova
Um
físico genial e mundialmente famoso, que irá... não lhe dar uma aula, mas uma
lição de vida!
Quando o famoso Stephen
Hawking publicou o seu livro “Uma breve História do Tempo: do Big Bang aos
Buracos Negros”, eu tinha apenas treze anos de idade. Sabia que o físico era
conhecido por sua genialidade e superação, convivendo com sua terrível doença degenerativa. Mas até então, mais nada eu sabia sobre ele.
Ontem, quando tive o
inenarrável prazer de assistir ao longa-metragem “A Teoria de tudo”, vi muito
mais do que um físico famoso e um homem superdotado de inteligência, mas um ser
humano com o melhor senso de humor, que já posso ter visto. Este foi o lado de
Hawking que mais me surpreendeu.
A cinebiografia de Stephen
começa na época em que conheceu e casou-se com sua primeira esposa e ainda
estava na Universidade, com vinte e três anos de idade. Logo ele recebe a
notícia de sua doença e sua expectativa de vida, que seria de apenas dois anos.
Jane, sua então atual namorada, tinha todos os motivos do mundo para desistir
do jovem. No entanto, ela se casa com ele, para aproveitar o tempo que lhes
restam.
Apesar de o filme mostrar
a trajetória de sucesso do protagonista como físico, o que mais chama a atenção
é o lado humano de Stephen Hawking. O inglês parece nunca perder o bom humor:
brinca com os filhos, correndo atrás deles com a cadeira de rodas. Ri de si
mesmo ao ficar preso dentro de uma blusa, ao tentar vesti-la. Diverte-se ao ser
colocado no colo de uma estátua, enquanto seu amigo busca sua cadeira de rodas
na parte baixa de uma escada. E tantas outras situações, que ao mesmo tempo
parecem ser hilárias, seriam consideradas trágicas pela maioria de nós.
O filme remete a profundas
e intensas reflexões e sentimentos. O amor de Jane por Stephen, que é maior do
que a doença cruel e incurável, que ambos enfrentam. A situação financeira do
casal, que não lhes permitia facilidades como uma enfermeira ou uma empregada
doméstica. A época em que eles vivenciaram a experiência, ainda sem toda a
tecnologia de agora. Mediante tantas dificuldades, dores e aumento constante de
suas limitações físicas, o humor de Hawking parece refletir gratidão pela sua
vida.
Acredito que muitos, que
veem o filme, se imaginam no lugar de Hawking, e não conseguem deixar de sentir
a sua força indiscutível como ser humano. Uma vez que a maioria de nós sofre
constantemente, pelas gordurinhas a mais, pela pele judiada com o tempo, pelo
cabelo que se perdeu e pela vivacidade que se vai a cada dia, a história real
de Hawking nos escancara, o quanto essas exigências sobre nós mesmos são
extremamente banais e desnecessárias.
Refletimos ainda sobre o
quanto pode ser grande e sincero um amor: o de Hawking por ele mesmo, e o de
sua primeira esposa por ele. E quando se pensa: “Uau, que sorte a dele ter tido
uma mulher, que aceitasse suas condições”, ainda surge outra, anos depois, que
se apaixona por sua genialidade e humor.
Não tenho dúvidas, de que
para os físicos e matemáticos, a história e teorias de Hawking sejam mais do
que sensacionais. Mas para mim, o que fica é sua lição de vida sobre o humor
que mantém. Enquanto todos nos irritamos com tão pouco, como o trânsito de cada
dia, o gênio tira sarro de si mesmo, por ter que dirigir sua cadeira de rodas,
já com todas as dificuldades que possui, após beber uma garrafa de cerveja.
O ator Eddie Redmayne, que
interpreta o protagonista, é fantástico e absurdamente convincente. Felicity
Jones, como Jane Hawking e maravihoso elenco. Há ainda a maturidade do casal,
ao lidar com as demais pessoas que surgem entre suas histórias amorosas. Faz
todo ingresso valer a pena!
Hawking ainda procura a
solução para sua Teoria de tudo.
Mas na prática já
descobriu muito mais do que o resto da humanidade: amor e gratidão!
Trailer:
A teoria de tudo: As
lições de vida de Stephen Hawking provam que as nossas limitações são
alimentadas somente por nós.
“Independentemente
do cenário desfavorável das nossas condições e ambiente, onde há pulso, há
amor, e este sentimento não é isento, como muitos acreditam, em pessoas ditas
racionais”.
Nunca me esquecerei da
primeira vez em que vi em uma revista científica aquele rosto, com todo aquele
abandono corporal estampado em página dupla. Quem nunca se questionou de qual
partícula cósmica a que Stephen Hawking tanto se dedicava vinha tanta motivação
e continuidade para aplicar a sua inteligência?
Ele provou para o mundo
que um corpo sem mente sã padece de fato, já que não precisou tanto de seu
aparato físico para impressionar o planeta com descobertas científicas pós–Einstein: bastava o cérebro, com todos os seus questionamentos e inquietudes
humanas para nos conduzir à evolução de pensamento.
O filme “A teoria de tudo”
retrata de forma apaixonante esse homem dotado de ironia cômica e ambição em
demonstrar aquilo que muitos jovens não questionam: o tempo, de onde viemos,
para onde vamos, qual o começo de tudo. Claro que a película não se trata
apenas de física, mas de detalhes pessoais que evidenciam os seus maiores
trunfos.
Apesar de algumas críticas
ao longa metragem a respeito da supervalorização do romance e da vida pessoal
do protagonista em detrimento de sua importância para a ciência, é preciso
concordar que praticamente ninguém suportaria quase três horas de um
quase-documentário sobre buracos negros e a expansão do universo. Afinal, o
fato de Hawking ser um ícone da física é tão notório quanto a fórmula E=mc²
desenvolvida por Einstein, e o que procuramos na sétima arte é justamente
aquele suspiro ou o aperto no peito no desenvolver da história. Sem falar
também naquela nossa curiosidade inata em saber como um super gênio premiado,
com doutorado em Cambridge, viveu e suportou suas fragilidades sentimentais –
será que da mesma forma que nós, pessoas com outros interesses e com
dificuldade em calcular a divisão da conta do jantar também lidamos?
Descobri somente ao
assistir ao filme, por exemplo, que ele havia se casado com uma mulher não
ateísta, quando Stephen era uma das maiores referências nos discursos sobre
falta de crença em um Deus – querem um exemplo maior de tolerância? Ainda mais
nos dias atuais, em que as argumentações sobre um ente superior, criador das
forças do universo, segregam mais do que unem.
Além disso, quantos
propagam a ideia de que pessoas muito inteligentes tendem a ser individualistas
e solitárias, talvez por não suportarem as limitações do outro? Quantas
pessoas, em plena saúde, se tornam doentes ao deixar de acreditar no amor, nas
pessoas, na próxima tentativa? Stephen não só continuou a testar suas teorias
na física, mas também na afetividade: casou-se, mesmo ciente de que morreria em
breve e, ao divorciar-se, casou-se novamente, desta vez com sua enfermeira
(algo que não ficou claro durante o filme), mostrando mais uma vez que,
independentemente do cenário desfavorável das nossas condições e ambiente, onde
há pulso, há amor, e que este sentimento não está isento em pessoas ditas
racionais.
Mesmo com suas
impossibilidades físicas, continuou a aceitar os convites para premiações, (e
até mesmo para gravação de CD, com o Pink Floyd, e uma participação especial em
Big Bang Theory), e decidiu escrever o seu mais famoso livro “Uma Breve
História do Tempo” e mais outra dezena de obras, quando vários, mesmo em plenas
condições, recusam-se a sair de seus casulos por medo, preguiça, comodidade, ou
até mesmo arrogância. Utilizando de uma das frases célebres de Albert Einstein,
outro físico apaixonado, é possível entender que não são nossos músculos que
nos movem, mas o desejo (desta vez, o termo é de Freud): “Há uma força motriz
mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atômica - a vontade”.
Chego, portanto, à
seguinte conclusão (e que muitos céticos me apedrejem por isso): a expectativa
de vida de Stephen Hawking foi superada porque não há força maior a nos manter
vivos do que a paixão. Sem paixão, um homem com cérebro em plena capacidade,
movimentos e inteligência, torna-se obsoleto, raso, limitado. E por mais
contraditório que possa parecer, a vida de Hawking, devido a esta mesma paixão,
não encontrou limites. Limites estes que muitos agregam à própria vida, mesmo
com toda a potencialidade física, diminuindo suas expectativas para a próxima
fração de tempo, este, que foi por ele tão contestado.
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