Conheça Medina de Fez,
cidade do Marrocos.
Para
circular pelo lugar, a dica é contratar um guia
por
Melena Ryzik* The New York Times
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Perder-se nos caminhos sinuosos de lojas, artesanato e curtumes faz parte da experiência em Medina de Fez
Foto: Ben Sklar / NYTNS
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Primeiro vimos o artesão,
sozinho em sua oficina, um cubículo pouco maior do que um armário. Existem
centenas, se não milhares, de tais barracas na Medina de Fez, cidade antiga de
caminhos sinuosos que remonta a séculos, onde os vendedores apregoam couro e
óleos em cada esquina.
Porém, essa barraca se
destacava. Estava praticamente vazia, não lotada como a maioria das outras com
badulaques a serem pechinchados. Algumas ferramentas ficavam penduradas na
parede, ao lado de uma bandeira do Marrocos, e algumas fotos antigas dele,
agora de cabelo branco e usando a tradicional túnica longa.
De repente, ele se
levantou, saiu da loja e a fechou. O artesão convidou-nos a acompanhá-lo
enquanto subia a rua, parando para conversar com um homem, que se virou para
nós.
– Ele quer convidá-los
para almoçar na casa dele – ele falou em inglês, sorrindo.
E lá fomos nós, caminhando
atrás de nosso anfitrião – cujo nome, ficamos sabendo mais tarde, era Mohammed
Saili – e ele nos levou por sua casa labiríntica em direção à refeição com sua
família.
Foi uma das muitas
conexões instantâneas que fizemos em nossa viagem em maio, quando mergulhar na
história medieval, brigar com a geografia e saltar os obstáculos culturais se
revelou mais fácil do que o imaginado.
Andar por Fez, como muitos
visitantes já observaram, é como voltar no tempo. Fundada no século 9 no Rio
Fez, a Medina (ou Almedina) de 218 hectares, Fez El-Bali, foi um centro
comercial e acadêmico da vida norte-africana e muçulmana, e afirma ser o berço
da mais antiga universidade do mundo, Al-Karaouine, fundada em 859.
Social e arquitetonicamente,
a cidade atingiu o apogeu nos séculos 13 e 14 – a expansão conhecida como a
"cidade nova", Fez Jdid, data desse período. Antes capital do
Marrocos, Fez permanece um centro cultural e espiritual.
A Medina, indicada
Patrimônio Mundial da Unesco em 1981, é considerada uma das maiores zonas
urbanas livres de carros do mundo.
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Foto: Ben Sklar, NYTNS |
Onde o gps não tem vez
Para ajudar a circular por
essa frenética cidade murada, amigos que a visitaram sugeriram que
contratássemos um guia. E havia jovens e adolescentes se oferecendo, em bom
inglês, para nos guiar por uma tarifa negociável.
Não tem nada de errado, é
claro, em empregar uma pequena ajuda local. Porém, estávamos acostumados a
fazer as coisas sozinhos. E como descobrimos em nossa viagem de quatro dias,
explorar Fez de forma independente – confiando na hospitalidade nativa e em
nossos próprios instintos – é não apenas possível como muito recompensador. O
que não quer dizer que não nos perdemos.
A indicação da Unesco
significa que a arquitetura de Fez deve ser preservada. Os caminhos
serpenteantes de pedra não serão alargados nem amaciados, o emaranhado de
madraças, mesquitas, bazares e casas de areia colorida – os quintais de
ladrilhos coloridos se tornaram invisíveis graças a muros muito grossos – não
será quebrado em troca de um reluzente prédio moderno.
O GPS é praticamente
inútil ali.
Nossos hotéis nos deram mapas
desenhados à mão, e os funcionários e lojistas esboçavam gentilmente nossos
caminhos. Contudo, bastava um erro e ficávamos à deriva em um labirinto de
becos praticamente idênticos, sem placas de rua ou lojas visíveis.
Guiados pelo nariz
Às vezes, não precisávamos
olhar para descobrir nosso caminho. A animada Praça Seffarine era reconhecida
pela trilha sonora: metal batendo no metal.
Sob a sombra de uma árvore com três
andares de altura, um homem vestindo camisa de futebol batia em uma panela de
cobre.
Nos degraus ao seu redor, outros martelavam, esculpiam, cinzelavam,
poliam e lustravam.
Trata-se de um mercado
central de artigos de cozinha de latão e cobre, e cada bule de chá finamente
elaborado ou prato produzia seu próprio som enquanto era acabado à mão, em uma
orquestra pública cheia de cacofonia.
Um operário tirando uma soneca em um
carrinho de mão acompanhava inconscientemente com o pé o ritmo da praça.
Os cheiros também servem
como indicativo. A melhor maneira de achar um curtume ao ar livre, como
explicaram os moradores, é usando o nariz. Entre as muitas atrações de Fez, os
curtumes Chouara e Sidi Moussa datam da Idade Média, e a prática de transformar
peles em couro macio praticamente não foi modificada desde então.
Dezenas de
operários trabalham pesado em barris abertos que contêm urina e esterco animal,
mergulhando os couros para tratá-los antes de tingi-los à mão em tons de
amarelo vivo, vermelho e branco, batendo neles sob o sol quente para distribuir
o pigmento.
Dá para sentir o cheiro de muito, muito longe.
post: Marcelo Ferla
fonte: Zero Hora
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