Em livro, carcereiro de
Mandela narra relação especial com líder sul-africano.
Patricia
Rodríguez | Agência Efe | Londres - 25/03/2014 - 11h44
Christo
Brand lança obra sobre a época em que vigiou o ex-presidente durante a prisão
dele na época do apartheid.
O carcereiro do ex-presidente
da África do Sul e líder da luta contra o apartheid Nelson Mandela cumpriu
"seu desejo" de escrever um livro sobre a amizade que tiveram, no
qual o descreve como um homem "sempre respeitoso" que
"transformava o negativo em positivo".
Christo Brand, guarda que
monitorou Mandela durante seu longo confinamento nas prisões de Robben Island e
Pollsmoor, narra no livro a extraordinária relação que teve durante três
décadas com o Nobel da Paz.
"Mandela, Meu
prisioneiro, meu amigo" resume como ocorreu a particular e improvável
amizade entre um jovem carcereiro de 19 anos, branco e africâner, com um preso
político de 60 anos, que se transformaria no primeiro líder negro da África do
Sul.
Quando, em 1978, em pleno
apartheid, Brand começou a trabalhar como guarda na prisão de Robben Island,
desconhecia totalmente quem era "Madiba", advogado da etnia Xhosa,
líder do Congresso Nacional Africano (CNA) e um homem com quem não tinha nada
em comum.
Brand escreveu essas 288 páginas
"encorajado" pelo próprio Mandela, que "insistiu" para que
contasse a história de "reconciliação entre um guarda e um preso",
relatou em entrevista à Agência Efe em Londres.
O lançamento na África do
Sul foi marcado inicialmente para outubro de 2013, mas o agravamento do estado
de saúde do político sul-africano, que só chegou a ler o primeiro capítulo, o
obrigou a adiá-lo. Brand tinha a esperança de que Mandela, que faleceu em 5 de
dezembro, aos 95 anos, em sua casa em Johanesburgo, pudesse estar presente no
lançamento do livro.
"Mandela, Meu
prisioneiro, meu amigo" lembra que o líder sul-africano jamais se esqueceu
do carcereiro, a quem ofereceu um emprego quando foi nomeado presidente em
1994. "Escrever este livro foi o último desejo que Mandela tinha para mim.
Cumpri sua vontade", afirmou Brand, que falou pela última vez com ele no
ano passado.
O ex-carcereiro, que
continua trabalhando em Robben Island - que virou uma atração turística -,
lembrou seu primeiro contato com "Madiba", um homem a quem
"deveria ter odiado", mas que logo o conquistou com sua bondade e
carisma.
"Me disseram que
teria que lidar com delinquentes e encontrei gente humilde, amigável,
disciplinada, que dormia no chão, como se fosse cachorros, e aquilo foi muito
doloroso", afirmou Brand, que, da mesma forma que Mandela, foi criado em
um ambiente rural.
A obra revela a percepção
do jovem guarda sobre Mandela, que sobreviveu a 27 anos de confinamento
"sem amargura" e "tentou transformar o negativo em
positivo", obcecado com a educação, "sempre disciplinado, sempre
cheirando bem, e que sempre tentava fazer as pessoas rir, inclusive nos momentos
mais tristes".
Brand elogia a atitude de
Mandela, um homem que "jamais perdeu a esperança", que
"transformou a prisão em uma universidade, tentou mudar a mentalidade do
povo" e que "falava com respeito com todo mundo, escutava e fazia os
outros se sentirem especiais".
"Cheguei a vê-lo como
um pai que sempre te dava bons conselhos, que sempre te incentivava a
estudar", acrescentou.
O carcereiro explicou como
quebrou as regras durante uma visita da então esposa do líder, Winnie, de quem
se separaria 38 anos depois, em abril de 1992, quando foi a Robben Island com
um bebê, uma das netas de "Madiba".
Winnie foi "a pessoa
que manteve Mandela vivo quando estava na prisão", opinou Brand, que na
ocasião arriscou seu emprego ao permitir que o preso encostasse nela menina
durante alguns instantes, "um momento muito emotivo" que o ex-presidente
manteve em segredo até depois de sua libertação.
Nelson Mandela, que se
casou três vezes e teve seis filhos, foi posto em liberdade em 11 de fevereiro
de 1990, um acontecimento comemorado no mundo todo e que o carcereiro
acompanhou pela televisão, "emocionado e feliz, e também triste por perder
o convívio" com o amigo.
fonte: Opera Mundi
Marcelo Ferla
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