Pai vai buscar filho em
protesto de black blocs em São Paulo.
"Você
vai ter o seu direito quando trabalhar e ganhar o seu dinheiro, tá?", gritou o
pai. Jovem de 16 anos dizia que protestava por saúde e educação.
POR O GLOBO
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Em manifestação, pai tenta levar filho para casa - Globonews / Reprodução |
SÃO PAULO - Um pai foi
buscar o filho, que participava de um protesto de black blocs no Tatuapé, zona
leste de São Paulo, nesta quinta-feira, marcado por atos de vandalismo e
confronto com a Polícia Militar. O jovem, identificado apenas como Renan, de 16
anos, foi surpreendido com a chegada do pai, em meio à manifestação. O rapaz,
que argumentava que tinha o direito de protestar, foi arrastado pelo pai. As
imagens foram registradas pelo cinegrafista da TV Globo Marcelo Campos.
O diálogo mostra os
argumentos do pai, que tenta convencer o jovem a voltar para casa, e do filho,
que dizia protestar por melhores condições de saúde e educação.
- Deixa eu protestar. Eu
não quero isso. Esse governo é errado - dizia o rapaz.
- Você vai ter o seu
direito quando trabalhar e ganhar o seu dinheiro, tá? Eu sou seu pai, escuta o
seu pai - falou o pai logo na chegada. - Ele é meu filho - argumentava o pai,
retirando o filho, entre os manifestantes.
O pai tirou a camiseta do
rosto do filho, dizendo “ você não é criado para isso. Eu trabalho para te
sustentar, não é para você esconder a cara”.
- Eu quero escola, eu
quero saúde. Deixa eu protestar. Minha avó quase morreu num hospital público.
Você acha certo isso? Pelo amor de Deus, deixa eu correr atrás. Tanta gente
morrendo. Deixa eu fazer a minha parte, ajudar um pouco. Eu sei que eu tenho 16
anos. Eu não vou me machucar, relaxa.
- Eu pago a sua escola. Eu
e sua mãe trabalhamos para te sustentar. Vamos para casa, por favor, Renan.
Você não vai mudar o mundo. Meu filho, você tem 16 anos, não é a hora agora. Eu
te amo, cara. Você é meu filho. Eu estou pedindo demais? Renan, um passo de
cada vez - implorava o pai, na presença de câmeras da imprensa.
No fim, ele foi convencido
a ir para casa.
A discussão entre pai e
filho e foi um dos principais assuntos entre moradores e comerciantes do
Tatuapé na manhã desta sexta-feira, ao lado do rastro de destruição deixado
pelo protesto do dia anterior. Em uma padaria, cadeiras de plástico foram
queimadas. Funcionários de um posto de gasolina disseram que manifestantes
roubaram galões de óleo usado para atear fogo em barricadas.
Enquanto tentavam
descobrir quem era o pai que tirou o filho do protesto, vizinhos parabenizavam
a atitude:
- Pelo menos esse senhor
foi atrás do filho. Quantos outros pais sabem que os filhos estão no meio da
confusão e deixam eles lá. Acho que não tem problema protestar, desde que não
faça besteira, não quebre nada - disse o aposentado Raimundo Siqueira, de 71
anos.
- No começo, quando
estavam só os metroviários, estava tudo bem. Mas depois chegaram uns caras que
só querem fazer bagunça. O que eles querem? São contra tudo! Acho que fez certo
esse senhor que levou o filho para casa - opinou a comerciante Sônia Maria de
Souza, de 42 anos.
Segundo Sônia, outros
comerciantes das ruas Serra do Japi e Platina também fecharam as portas com
medo que os black blocs pudessem causar prejuízo. No começo da manhã, disse
ela, ainda havia pedaços de pedra e madeira e lixo espalhados no chão.
O funcionário de um posto
de gasolina, que pediu para não ser identificado, disse que perdeu a chance de
faturar com a Copa do Mundo por causa do tumulto causado pelo protesto:
- A gente colocou uma TV
na loja de conveniência e esperava receber o pessoal para ver o jogo. Mas com o
protesto e a polícia, tivemos que fechar tudo. Ninguém ficou na rua.
Outros moradores disseram que, nesta sexta-feira, o bairro está mais policiado que o normal.
Marcelo Ferla
fonte: O Globo.
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