Stéphane Munnier (Goanna)
por Zupi
Que impressões um
estrangeiro tem do Brasil? Há 10 anos, o francês Stéphane Munnier, o “Goanna”,
designer, mestre em flash e fotógrafo se apaixonou por nosso país – e por uma
brasileira. Morando no Rio de Janeiro e portando sua lente objetiva, captura da forma mais íntima
possível retratos de nossa rica e múltipla cultura, enxergando, por muitas
vezes, coisas que nós mesmos não percebemos.
Confira a entrevista.
Quando você começou a se
interessar por fotografia?
Comecei mais ou menos em
1995, eu tinha 21 anos e experimentava com uma velha câmera Zenith de meu pai.
Quando entrei na universidade trocava as aulas pra fotografar os amigos de
skateboard. Afinal, abandonei a universidade e fui pro sul da França tirar
fotos de surf, investindo em material e vendendo minhas fotos para revistas de
surf e de sk8. Viajei muito.
Fui pra Califórnia, Havaí, Austrália tentando
trabalhar na área do surf, mas percebi que é muito mais complicado que
imaginava e abandonei a ideia. Voltei pra universidade e acabei estudando Design
e Novas Mídias.
Depois de dois anos trabalhando como designer resolvi fazer
minha primeira viagem pro Brasil.
Como foi sua mudança para
o Brasil? Por que ela ocorreu?
Eu cheguei no Brasil em
2003, para aprender capoeira Angola, que eu descobri na França. Acabei me
apaixonando pelo país, as pessoas, a cultura… e por uma brasileira também.
Meu interesse pela
capoeira me levou automaticamente a decidir morar aqui perto do meu Mestre e
meus parceiros de Capoeira. Apesar das diferenças e diversidade sociais e
culturais, logo me identifiquei com o povo afro-brasileiro.
Venho de uma
família simples e proletária de uma região industrial onde tem muitos
imigrantes africanos e árabes era lógico pra mim buscar as mesmas afinidades e
amizades aqui.
Por motivos financeiros
precisei vender meu material pesado e caro que usava pra fotografar surf. A
partir dessa dificuldade comecei a me concentrar a fotografar sem pretensão,
amigos, Mestres da Cultura Popular Brasileira, capoeiristas, o povo que eu
encontro o dia a dia.
Em que lugares do Brasil
você compôs seus retratos?
Em dez anos no Brasil não
tive muito oportunidade de viajar. 95%
de minhas fotos foram tiradas aqui no Rio mesmo. Nas ruas, nas rodas de
manifestações populares que participo, ou simplesmente quando encontro meus
amigos.
Quais são as dificuldades
do seu trabalho?
Fotografo com objetivo 50
mm 1.4. E de muito perto. São fotos muito íntimas, reveladoras. Eu preciso me
aproximar da pessoa, mas antes de tudo nossa aproximação é um elo de confiança.
Eu não posso roubar o retrato. A foto deve ser feita por nós dois, o modelo e eu.
Isso é a primeira dificuldade.
Outra dificuldade é como me
colocar como fotógrafo branco e europeu, tirando principalmente fotos de
pretos, sabendo que os efeitos da colonização ainda são muito presentes no
Brasil.
É sempre uma questão muito delicada e um assunto que eu desenvolvo com
meus amigos pretos mais próximos e com minha namorada.
Eles me ajudam a definir
e a abordar esse trabalho.
Quem te inspira e quem
você quer inspirar?
Os grandes retratistas e
repórteres como Steve McCurry e Sebastião Salgado. Alguns amigos como Vincent
Rozemblatt, um francês morador do Rio que fotografa há 7 anos o cenário do Funk
carioca, e principalmente a cultura popular.
Nunca pensei em ser um
fotógrafo inspirador, mas reparei que poucos são os trabalhos brasileiros que
retratam o quanto o povo brasileiro é tão lindo e diverso.
Se eu tivesse um
pouco de didática pedagógica adoraria poder compartilhar com as pessoas de
pouco acesso a cultura e ajudá-las através de algum método de ensino a buscar
um olhar amplo sobre si próprio e a descobrir a beleza do povo que muita
das vezes é reprimida e oprimida pelos padrões de beleza de nossa sociedade.
Com certeza teríamos fotos, retratos e visões muito interessantes e
inesperadas.
Marcelo Ferla
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