Mais uma vez...
Li na segunda, dia 19/05
que o projeto de lei decorrente do que ocorrera na Boate Kiss em Santa Maria,
fora aprovado em dezembro de 2013, depois sancionado, mas também li que esta precisa de ajustes e, por conta
disto está empacada na pauta da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.
Principal problema alegado
pelos Deputados Estaduais: a quantidade de emendas sugeridas para que sejam
incluídas e façam parte ativa da lei.
Li também e fique surpreso
com o título que Zero Hora dera a matéria “Uma Lei Kiss com flexibilidade.”.
Flexibilidade?
Pergunto a vocês se esta
palavra flexibilidade no caso em questão sequer é adequada para ser mencionada
quando lembramos, principalmente, nós gaúchos do que ocorrera naquela noite
fatídica, trágica e irresponsável por parte dos acusados e outros não acusados de terem causado a
carnificina.
A questão final fica da
seguinte forma: existe um projeto de lei modificador da lei original que já
fora sancionada e isso precisa ser votado dentro da pauta da Assembleia para
que esta não fique atrasada em relação a votação de outros assuntos a serem
analisados pela casa.
Minha opinião não mudou
desde o dia em que escrevi, tomado de comoção e tristeza naquela tarde de
janeiro, quando em frente ao notebook descarreguei todos meus pensamentos de
revolta que não assolaram só a mim, mas a muitos que foram atingidos de forma
muito mais impiedosa e brutal do que eu.
Republico agora o texto
que fora por mim escrito em 30 de janeiro de 2013. Através dele saberão se
concordo com a balburdia ai de cima ou não.
O beijo da morte
A
muito não escrevo no blog. Estava desgostoso com os assuntos que lia nos mais
variados meios de mídia, eram assuntos repetitivos, pessados que pareciam estar
atolados em um mar de lama, sempre insolúveis.
Mas confesso que alguns
motivos me fizeram quebrar o silêncio, infelizmente por um motivo ruim, triste,
macabro e bizarro.
Tenho dois irmãos, um de
28 anos e outro de 21 anos.
Ambos são frequentadores de casas noturnas. Mais do
que isto, o de 21 anos, está com um de seus amigos de infância internado no
Hospital da Ulbra em Canoas. O irmão é um dos que se encontra em estado grave.
Já devem saber do que vim tratar aqui.
A queda de um avião com
vítimas, jamais ocorre por um único motivo, diria o grande escritor Ivan
Sant’Anna. A exemplo deste tipo de fatalidade, o que ocorreu na boate Kiss, não
foi diferente.
O que ocorreu na boate
Kiss em Santa Maria, todos já sabem. A morte de 234 jovens, 121 pessoas
internadas, sendo destas 87 em estado grave, até o momento.
A porta não deveria ser
uma só, apesar de haver legislação não obrigando a exigência de mais portas,
declarações do Major do Corpo de Bombeiros dizendo que a boate estava em estado
regular para funcionamento, que a fiscalização fora feita, que a falta de
fiscalização existe, que a prefeitura em nada tem haver com isto, que o Corpo
de Bombeiros em nada te haver com isto, alegando hoje, que as pessoas deveriam
ter cuidado mais onde estavam indo e os lugares que frequentam, que o artifício
utilizado pelo vocalista e que iniciou o incêndio, a custo de R$ 2,50 era de
uso externo, sendo que o interno, como deveria ser, custa R$ 150,00, economia
porca, pessoas pisoteadas, os corpos que tiveram que ser pisoteados para serem
retirados, os jovens que se prenderam nos banheiros, por que para estes que
correram em direção a estes, a luz que vinha de lá, era a luz da saída do
local, os celulares que tocavam em cima dos corpos estirados das vítimas
intoxicadas, toques estes que eram de parentes, mães, pais, irmãos e
familiares, atrás das pessoas que já não estavam mais entre nós, a mensagem da
menina que faleceu mandando uma mensagem via celular onde se leu: “KISS,
socorro.”, amigos, seres humanos que estavam a festejar, os que saíram da
boate, mas voltaram para ajudar e procurar os que não encontravam e que, fazendo
isso, morreram como heróis nesta tentativa desesperada, a filha de 19 anos
morta no lugar da mãe que trabalhava no local, os seguranças, que sem nenhuma
tolerância, humanidade e competência, não permitiram a saída dos tantos
desesperados que lá dentro estavam, por serem naquele momento, caloteiros, mal pagadores e assim, foram
barrados, um local que não tinha capacidade para a quantidade de frequentadores
que lá estavam na noite fatídica, um extintor, usado por um segurança para
apagar o fogo no foro e que pode ser falsificado, a falta de sinalização para a
saída, o sistema de isolamento acústico altamente inflamável, os milhares de
parentes, lotando um ginásio, para reconhecer 234 corpos enfileirados, um
sistema logístico de guerra, psicólogos, aviões com medicamentos e vítimas,
assim como helicópteros.
Pronto. Estava feito. O
nosso Rio Grande do Sul, o nosso Brasil, estava em todas as capas do mundo que
traziam em claras letras a segunda maior tragédia do Brasil e a terceira maior
do mundo no que se refere a acontecimentos desta natureza em boates/locais de
entretenimento.
Somos recordistas da
discórdia, da indiferença, da banalidade, do macabro, do maldito, do maldito dinheiro, do lucro, do status de quem
ostentava ser proprietário de uma câmara de gás idêntica as utilizadas no
início da II Grande Guerra, no começo do que veio a ser conhecido como e
chamado pelos nazistas de "Solução Final", onde canos de descarga de
caminhões que traziam judeus, tinham seus canos de descarga ligados a uma mangueira
grossa que despejava monóxido de carbono dentro de peças sem janelas e de
portas trancadas, câmaras de gás.
A diferença é praticamente
nenhuma, por ambição, por poder, o homem gera o macabro, sem dó nem piedade,
tirando vidas como se nada valessem.
As informações são muitas,
não estão em ordem, não me preocupo com isso, me preocupo com o que está
acontecendo hoje, quarta-feira, véspera de fim de semana que, quando chegar,
levará milhares de jovens a calabouços da morte como a KISS.
Outro fato inadmissível e
que alguns podem não estar entendendo é minha atitude nas redes sociais como o
facebook, ao reiteradamente, postar materiais a respeito do ocorrido e de minha
revolta.
Faço isso por todos
aqueles que faleceram dentro deste maldito lugar, pela mãe que hoje, perdeu seu
segundo filho, visto que já havia perdido um, portanto, dois filhos em três
dias e o marido a dois anos atrás, pela mãe que esteve hoje pela manhã em
frente a boate a apedrejou, indignada por ainda não entender como que um lugar
como aquele não era adequado para ser jovens se divertirem e sim, para
morrerem.
Faço isso, pelo rapaz
(Guilherme) falecido hoje que saiu da boate salvo e voltou, retirando 14
pessoas lá de dentro, faço pelas lágrimas secas dos parentes, irmão, mães, pais
e amigos que não tem mais forças para suportar a dor da perda de uma vida recém
iniciada, faço pelos futuros profissionais, brilhantes que poderiam ser, as
vítimas do acontecimento macabro que tem entre os que se foram, mais da metade
composta por estudantes da UFSM, pelo capitão do Corpo de Bombeiros, também
pai, que retirou mais de 180 corpos,
somente dos banheiros, pelo trauma do que estas pessoas todas ouviram, viram e
presenciaram e que com certeza absoluta, nunca, mas nunca mais, esquecerão o
que aconteceu nesta maldita e macabra madrugada, por uma cidade que esgotou
suas flores e seus caixões, por uma cidade inteira que caminha de branco
sofrendo a passos pesados como se estivesse na própria via sacra, por aqueles
que ofereceram suas casas, camas, sua comida, seus carros para transporte, tudo
para desconhecidos, desesperados e desesperançados desconhecidos.
Não se enganem ao pensar
que este problema não é nosso.
Todos nós temos alguém,
parente ou não em idade de frequentar locais como a Kiss. Posso afirmar a
vocês, assim como disse hoje, o Prefeito de Porto Alegre Fortunati, ao declarar
que seis grandes boates da capital estão fora da legalidade, sem fiscalização e
sem condições de funcionamento.
Chamo atenção para um
detalhe, o Prefeito de nossa capital não quis os nomes das casas noturnas que
trazem risco, sob a alegação de não querer causar pânico. Prefeito, por Deus
Prefeito Fortunati, causar pânico e tortura é o ato de não vir a público avisar
os cidadãos de sua cidade dos locais que eles não devem ir para que não ocorra
outra tragédia como a que presenciamos.
Como se não bastasse o já
ocorrido, um dos donos tenta se matar no hospital com uma mangueira de chuveiro,
o Secretário Geral do Governo diz que a responsabilidade de fiscalização não é
da Prefeitura de Santa Maria, e sim do Corpo de Bombeiros e, o Corpo de
Bombeiros, por sua vez, diz que a Prefeitura é que tem responsabilidades,
protagonizando ambos o jogo do empurra.
As imagens do circuito de
segurança composto por câmeras de vídeo e que ficam guardadas em um computador,
nada encontrado na perícia, os presos que supostamente já são tidos,
antecipadamente, como aqueles que sumiram com a sujeira toda, as jogaram
debaixo da fuligem e dos destroços da Kiss.
Definitivamente, o ar de
descrença, de impunidade, desrespeito e indiferença das autoridades para com o
ocorrido e seus envolvidos diretos e indiretos, não pode contaminar as
investigações e a futura responsabilização cível e criminal de quem quer que
seja, autoridades públicas ou civis.
Os culpados tem que pagar
pelo que ocorreu, tem que pagarem por um trauma de tamanha proporção que o
apoio dado aos traumatizados, os que choram a perda dos seus é semelhante ao
dado aos sobreviventes e parentes de vítimas de 11 de setembro nos EUA.
Todos nós, brasileiros,
gaúchos, não podemos ceder em momento algum, não podemos afrouxar o nó para que
tudo termine em nada, devemos apertá-lo, até o último momento, para que até o
fim o legal e o correto finalmente apareçam a se sobressaiam.
Se a legalidade não
ocorreu até a tragédia é hora de fazer com que a legalidade prevaleça e impere
sobre tudo que ocorreu com a punição, reitero, de todos os responsáveis, pessoas
públicas ou civis.
Por fim, gostaria de
agradecer pessoalmente aqui a todos que de alguma forma ajudaram e ainda ajudam
estas famílias desorientadas, destruídas e traumatizadas ao máximo, violentadas
em suas vidas pela perda brutal e estúpida de pessoas que amavam, de jovens
pessoas que tinham muito a oferecer, mas que por ambição e sentimentos como
este, tiveram de si arrancados estes jovens e seus futuro.
Aos municípios e capitais
do Brasil e aos países irmãos que estão enviando materiais e profissionais para
o melhor atendimento dos que ainda lutam por suas vidas e pelos parentes das
vítimas que precisam mais do que nunca de um amparo sem limites.
Que as almas destes jovens
descansem em paz e que Deus ilumine e dê forças para os que ficaram, que
suportem esta dor que não pode ser medida.
P.S – ESTE TEXTO NÃO FOI
CORRIGIDO, PEÇO DESCULPAS PELOS POSSÍVEIS ERROS GRAMATICAIS E DE PORTUGUÊS, MAS
NÃO QUIS LÊ-LO NOVAMENTE.
Marcelo Ferla
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