Descobertas ‘células
escudo’ que protegem os tumores.
Sua
desativação facilita os tratamentos imunológicos contra o câncer, segundo
revela a revista 'Nature Medicine'
EMILIO DE BENITO Madri
A imunoterapia contra o
câncer –ensinar ao sistema de defesa do organismo a atacar as células tumorais-
é apresentada como a nova revolução na oncologia. Mas não é fácil. A revista
Nature Medicine publicou um artigo no qual o processo não é centrado
diretamente em combater as células tumorais, mas outras que se proliferam ao
seu redor e que, de alguma maneira, fazem as vezes de escudo. O trabalho, que
foi realizado por um cientista do MD Anderson Cancer Center da Universidade do
Texas, consiste, basicamente, em identificar peptídeos (pequenas cadeias de
aminoácidos, que são as ligações que formam as proteínas) que têm a capacidade
de se unirem especificamente a essas células escudo, as células supressoras de
origem mieloide (MDSC na sigla em inglês). Desta maneira, elas são marcadas e
identificadas para um ataque dirigido que as elimine.
Essa é a segunda parte do
ensaio: unir esses peptídeos com anticorpos. Chamaram em inglês o conjunto
resultante de peptibodies (pepticorpos). O resultado é similar ao de
acrescentar um explosivo a uma chave: atuará somente contra a fechadura
específica. Com este processo é possível dirigir o ataque às células que se
quer eliminar, as MDSC. Assim, as células tumorais ficam expostas ao sistema
imunológico convenientemente educado.
Larry Kwak, que dirigiu o
trabalho junto a Hong Qin, explica: "Há uma década sabíamos que estas
células bloqueavam [as MDCS] a resposta imune, mas não havíamos sido capazes de
desativá-las porque não tínhamos identificado o alvo."
Essa busca de ligaçõesfoi
a chave do trabalho. Para encontrá-los, a equipe de investigadores, que não
contava com uma ideia de que partes das MDSC eram as melhores para atuar, recorreu
a um sistema que poderia ser qualificado de pouco sutil: provar às cegas toda
uma série de peptídeos das bibliotecas existentes, até encontrar os que se
uniam à superfície destes escudos das células tumorais. No final, encontraram
dois, que chamaram de G3 e H6. Estes tinham uma vantagem a mais: não apenas se
uniam às MDSC que queriam eliminar, mas também não se unem a outro tipo de
células. Isso é importante porque permite direcionar a terapia, e é chave para,
se chegar a ser testado em humanos, evitar efeitos secundários.
Para verificar que esta
ideia funciona, os investigadores trataram camundongos com dois tipos de câncer
de timo (um pequeno órgão que se encontra no peito e produz, nos primeiros
momentos do desenvolvimento, células do sistema imunológico) com várias
combinações: a uns deram os novos pepticorpos; a outros deram outras
substâncias que fizeram para controle. O primeiro resultado notado é que o
grupo tratado com as novas moléculas reduzia sua quantidade de MDSC, o que era
sinal de que a ideia funcionava. "É a primeira demonstração de que podemos
criar anticorpos para essas células. É um alvo radicalmente novo para a
imunoterapia", disse Kwak.
O investigador crê que, a
partir de agora, pode voltar à ideia inicial de provocar uma resposta
imunológica (que geralmente é chamada de vacina, ainda que não funcione como as
que conhecemos para muitas doenças infecciosas) para estimular a resposta imunológica
contra as células cancerígenas. Isso, até agora, não havia funcionado. "A
chave para levar as vacinas do câncer a outro nível é combiná-las com
imunoterapias destinadas aos microentornos do tumor", expõe Kwak.
Mas isso não é suficiente.
O verdadeiro objetivo dos investigadores não são as células que fazem o escudo,
mas verificar que, uma vez eliminado este, os tumores diminuam. E isso também
comprovaram: trataram os camundongos com os pepticorpos diariamente durante
duas semanas, e, no final, os cânceres tinham sido reduzidos pela metade.
As notícias são
esperançosas, mas incompletas. Por exemplo, os próprios autores do trabalho
indicam que não sabem exatamente como as MDSC atuam em seu papel de protetor
das células tumorais. Contudo, os investigadores já estão trabalhando para
estender seus resultados de camundongos para humanos.
Marcelo Ferla
fonte: El País
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