Roda rodinha
Venho acompanhando de
perto certos acontecimentos pelo país que tem me levado a um pensamento único,
o de que estamos retrocedendo em nossos atos e pensamentos na velocidade da
luz.
Ao me deparar com certas
notícias, e estas, notem, estão a cada dia ocupando mais espaço em nossos meios
de informação, me pego pensando que alguma coisa está revirada, descontrolada e
o pior, atordoada.
A lista realmente não é
pequena, não que tenha aumentado de fato, veja bem, vivemos em um país onde a
imprensa e os meios de mídia ou filtram informações para poupar a sociedade ou
está divulgando com maior frequência notícias de fatos que acontecem a todo o
momento de uma forma tão comum e intensa que nem ela, imprensa, consegue cobrir
tudo que gostaria.
De minha parte confesso a vocês que fico com a segunda opção
é a que dá ibope e muito. Com isso vem o primeiro sintoma do que eu poderia chamar
de fadiga por repetição crônica social.
Importante salientar que
não falo aqui daqueles atos que quando cometidos os são por criminosos
infiltrados em manifestações, greves ou seja lá qual for à reivindicação social
e bandeira que se está levantando. Vivemos no que gostam de chamar como expressão
atualmente fashion em um “Estado falido”. Sim, concordo. Mas devemos agir e apoiar
quem age de certa forma contra certos atos repulsivos ou nem tanto assim? Não,
não concordo.
Se pegarmos um ladrão,
amarramos este em uma barra de ferro, nu, com as genitálias para baixo para que
queimem no calor da calçada, que espetáculo, flashes por toda parte, roda de curiosos, seria uma obra de arte de cunho social?
Por favor, eu não posso concordar com isso.
Se não estamos satisfeitos
com os meios de transporte, colocamos fogo nos ônibus, depredamos metrôs, quebramos
estabelecimentos comercias e particulares, se o sistema carcerário está
superlotado em decorrência da falta de revisões de processos de execução penal,
se há maus tratos, tortura em decorrência da alienação mental daqueles que deveriam vigiar e não punir ao descarregam suas frustrações
em ratos soltos ao pátio, estes, os excluídos, ficam mais irados ainda e,
como reflexo, cortam cabeças de outros apenados. Alias antes que pense algo contrário você já visitou um
presídio para opinar como faz por ai?
Notem que logo depois do
fato consumado se tem uma reação desencadeada e executada de forma
desproporcional ao que ocorreu ou ocorre, algo de errado aconteceu, mas porque
aconteceu? Por que ocorre esse reflexo, reação, mera consequência?
Não me venham com
declarações que li no facebook e em outras redes sociais como, se o Estado não
faz nós faremos, bem que mereceu, se ferrou, deveriam é ter matado de uma vez
por todas, mereceram mesmo, fim ao Estado totalitário, põem fogo mesmo que ai
eles baixam o valor das passagens.
Isso é simplório demais,
baixo demais, raso, sem argumento, pensamento e inteligência então nem
comentemos, pensar é chato, sejamos imediatistas.
Ora meus amigos, as coisas
definitivamente não se resolvem assim.
Quanto ao Estado, em parte
concordo que ninguém é mais culpado do que ele, mas o que é Estado? Diz-se
democrático e, para aqueles que dizem que já perdeu essa identidade quase que
me convenço ao ver que estamos na época de Talião.
Estamos em
um pânico coletivo tamanho que este nos desnorteia e com esse quadro de
labirintite justiceira tonteamos e tontos não pensamos.
Não se enganem e nem me
chamem de defensor dos malditos e mentes do mal, de esquerdinha caviar, membro
dos direitos humanos ou de comunista made in fundos de casa. Nem comecem, não
percam seu precioso tempo.
A questão é que estamos colocando para fora
uma insatisfação localizada em várias áreas e de uma forma tão brutal que
sequer não conseguimos mais nos convencer de que isto não pode ser feito de outra forma.
Talvez não saibam, mas
existem sim soluções que podem partir de nós, também somos Estado, mas ai vem a
nossa preguiça, a do Estado, pois o somos. Quanto a preguiça dos entes políticos, também Estado, esta é compreensível ocorres sempre, não dá
lucro fazer estas coisas ai. Não devemos falar que somos o Estado somente quando queremos colocar
fogo e quebrar tudo, prender um ladrão como se faz em filme da época escravocrata.
Nós, em decorrência de um
vício mental e de uma lavagem cerebral que estamos sofrendo dia após dia, por
demais perigosa alias, passamos a criar uma bola de neve que só faz crescer.
Peguemos os transportes públicos como exemplo. Não são suficientes nem tão pouco adequados em sua logística,
conforto e valor, ainda mais em um país que se diz estar bem financeiramente.
Revolta, claro.
Ai, por represália, típica
do corno desiludido, vamos lá e culpamos o amante ao invés de nos separarmos da
esposa traidora, colocamos fogo e depredamos os meios de transporte que já não
são lá esta coisa. Logo após, aproveitando a situação, alegando insegurança
(alguns são sinceros em dizer isso) os sindicatos, promovendo o direito de
greve, a exercem pedindo mais grana e com esta ficamos sequer com o transporte público que tínhamos
a disposição, aquele do início do parágrafo, reclamamos que não tem, vamos perder
empregos, tempo, vida, alegamos tudo sem argumentos e muito menos memória de
como se chegou até aqui. Pois lhes digo uma coisa, ser sindicalista neste país pode lhe levar a presidência do país, não esqueçam.
Não quero aqui dizer que
não devemos fazer nada, nos calarmos e sermos servos do destino que nos colocam
a disposição, mas quero me fazer entender, no sentido de que no fim disso tudo
ninguém sai beneficiado quando as coisas acontecem dessa forma e muito menos
estas se apresentam como solução, tanto que tempos depois ocorrem novamente.
Caso fosse forma de
solução, já não teríamos problemas com os meios de transporte, as prisões
estariam controladas, assim como o crime organizado, as milícias, os políticos
seriam todos honestos, teríamos uma sociedade de civilizados ao extremo, quase
robôs, seríamos capazes até de estranhar, pois somos humanos e erramos, mas não
evoluímos com os erros, os repetimos mais e mais, por que erros de ambas as
partes se repetem mais e mais, estamos andando em círculos.
Somos e estamos agindo
como macacos selvagens que quando enjaulados, ao nos habituarmos a receber refeições
sempre nos mesmos horários, ao não recebê-las, quebramos todos os objetos da jaula,
tentamos arrancar as grades, urinamos para todos os lados, sendo que sequer
deveríamos estar em uma jaula, somos da selva, a natural, sábia, não a selva de
pedra por nós, evolução dos símios, criamos com todos seus vícios, erros,
impulsos, ambições e doenças coletivas.
Sempre foi mais fácil destruir do que construir,
assim como é muito mais fácil reclamar e quebrar, agredir, do que construir,
pensar em solucionar.
Estamos presos no aquário
com serragem seca ao chão e corremos alucinadamente em uma roda de metal,
achando que estamos fazendo algo incrível para nós e os nossos.
O homem como espécie se
tornou previsível, incontrolável, revoltado, traumatizado, agressivo ao máximo
e ao invés de se tratar cria formas de permanecer dentro da rodinha de metal,
correndo e correndo e correndo, sem destino e sem objetivo.
Ao menos o hamster corre
para emagrecer e nós, nem isso, somos o país com maior número de crianças
obesas do mundo, mas isso é outro problema, problemas de pais despreocupados
que executam as soluções mais fáceis, não pensam.
E assim, caminhamos, ou
melhor, corremos sempre na rodinha de metal, dentro de nossos aquários de
vidro.
Marcelo Ferla
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