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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Falando nisso.

O mundo cruel (e rentável) da distopia infantojuvenil.
Comum no início do século XX, livros com governos controladores e falta de liberdade voltaram às livrarias e conquistaram o gosto dos jovens que, céticos, não se identificam mais com finais felizes
Raquel Carneiro



Nos últimos anos, os best-sellers da literatura infantojuvenil vêm gradativamente ganhando tons mais escuros. Do resgate dos vampiros pela série Crepúsculo aos personagens enfermos da chamada sick-lit, o mercado de livros para jovens se aquece com histórias que, à medida que abdicam de enredos e finais felizes, ultrapassam também as prateleiras das livrarias e se transformam em bilheterias milionárias no cinema. Pelo mesmo caminho, segue o filão da literatura distópica, aquela com histórias contrárias às utopias: o cenário é quase sempre um mundo em frangalhos, a partir do qual o futuro é projetado de forma negativa, sem esperanças. São séries como Feios, Destino e Divergente, outra a caminho do cinema, além de Jogos Vorazes, a maior estrela do grupo, que na próxima sexta-feira, 15 de novembro, faz no Brasil a estreia mundial de seu segundo longa, Em Chamas.
Em comum, essas sagas têm protagonistas adolescentes acossados por governos totalitários e ambientes violentos. Além de boa vendagem, claro. Juntas, as séries já tiveram mais de 800.000 exemplares comercializados no Brasil, especialmente a partir de março de 2012, quando a história da americana Suzanne Collins, com Jennifer Lawrence à frente, chegou às salas de exibição. Jogos Vorazes, sozinha, teve meio milhão de livros vendidos no Brasil (confira mais números na lista abaixo). De carona no lançamento do segundo filme da franquia, que chega aqui antes do restante do mundo, a Rocco, editora dos livros no país, vai lançar nesta semana um box digital com os três títulos originais, de uma vez.
“Os jovens leitores imaginam a possibilidade de estar inseridos em uma sociedade que cerceará sua liberdade pessoal. Como isso acontece em determinadas partes do mundo, a ficção se torna verossímil”, explica Ana Martins, gerente editorial da Rocco Jovens Leitores, responsável no Brasil pelas sagas Jogos Vorazes e Divergente.
Durante as manifestações ocorridas no Brasil em junho, era comum encontrar nas ruas — e em fotos sorridentes postadas nas redes sociais —, adolescentes segurando cartazes com as frases “Toda revolução começa com uma faísca” e “Se nós queimarmos, você queimará conosco!”, ambas retiradas da trilogia Jogos Vorazes.
Com o sucesso de vendas, outros títulos no estilo estão previstos para chegar ao Brasil, que já conta com pelo menos sete representantes importantes do filão. A Galera Record, que editou no Brasil a série Feios, a primeira a desembarcar por aqui, em 2010, junto com Jogos Vorazes, tem agendado para o fim deste mês o lançamento de Eva, saga da autora Anna Carey, em que homens e mulheres vivem segregados e atuam em campos de trabalho forçado. Em 2014, a Rocco lança a distopia sobrenatural Bone Season (ainda sem título em português), da jovem autora inglesa Samantha Shannon.



As distopias infantojuvenis que são destaque no Brasil
Composta pelos livros Jogos Vorazes, Em Chamas e A Esperança, a trilogia distópica escrita pela americana Suzanne Collins foi lançada em 2008 nos Estados Unidos e em 2010 no Brasil. É a mais bem sucedida do filão, com mais de 50 milhões de cópias impressas vendidas nos Estados Unidos e 500 mil exemplares no Brasil. A história se passa em um futuro sombrio e apresenta o país fictício de Panem. Localizado onde atualmente é a América do Norte, ele é formado por 12 distritos e pela Capital, sede do governo ditatorial que limita a liberdade e impõe deveres a cada região.
Para validar o seu poder, uma vez por ano a Capital promove os Jogos Vorazes, um reality show televisado em que 12 pares de jovens, entre 12 e 18 anos, são sorteados em cada distrito e levados para uma arena onde devem lutar até a morte. Entre os selecionados, está Katniss, que se voluntaria para participar dos jogos quando a sua irmã de 12 anos é sorteada. Ao demonstrar coragem desde esse momento, a jovem de 16 anos se torna um símbolo para a população cansada de viver sob o regime totalitário. Ao longo dos três livros, ela se torna, como diz um trecho de um dos volumes, a fagulha que inicia a revolução pela liberdade de Panem.
Jovens adultos – O filão, na verdade, não é novo. Embora esteja em alta mais uma vez, a distopia teve os seus maiores representantes na primeira metade do século XX, após a Primeira Guerra Mundial, período de clássicos como Admirável Mundo Novo, de 1932, de Aldous Huxley, e 1984, de George Orwell, lançado em 1949. A novidade, agora, reside no interesse de jovens entre 14 e 23 anos que nunca conviveram com governos totalitários. Público diferente do que presenciou o lançamento de 1984, quando o mundo testemunhava a escalada do comunismo e o temor da aproximação de um futuro ditatorial.
Nos Estados Unidos, o nicho em que as distopias estão inseridas foi apelidado de “YA”, sigla em inglês para “Young Adults” (jovens adultos, em português). A classificação, no entanto, diz pouco sobre esse público, formado por leitores conectados e engajados. “Eles são bastante ativos na internet. Quando vêm à livraria ou visitam o site, já sabem o título que buscam. Quando se tornam fãs, mobilizam clubes e páginas especializadas com conteúdo e comentários e os divulgam”, conta Benjamin Magalhães, gestor de marketing da Travessa, rede de livrarias do Rio de Janeiro.
Outra grande rede de livrarias, a Nobel, também tem um olhar especial para esse público. Os jovens leitores de distopias respondem por 10% das vendas da empresa, de acordo com seu diretor operacional, Guilherme Netti. “Hoje, os jovens leem, na média, muito mais do que seus pais liam na mesma idade”, diz Netti. Ele ressalta como trunfo do nicho o fato de um livro nunca vir sozinho. Conhecidas como sagas, as histórias possuem no mínimo três livros. “Sequências conseguem um destaque maior no ponto de venda, pois todos os títulos ficam expostos juntos e possuem capas com identidade visual similar, o que facilita a identificação pelo consumidor.”
No Brasil – Para a brasiliense Bárbara Morais, 23 anos, que lançou em setembro A Ilha dos Dissidentes (Gutenberg , 303 páginas, 34,90 reais), primeiro volume da trilogia brasileira Anômalos, a literatura distópica se destaca por fugir dos finais felizes. “Na adolescência, você fica desiludido e cético, percebe que os adultos não são heróis e que não há muito no que acreditar”, explica a jovem que estuda economia e frequenta cadeiras de ciência política na Universidade de Brasília (UnB).
Outras obras do segmento podem ser citadas na literatura brasileira. “Não Verás País Nenhum de Ignácio de Loyola Brandão, lançado em 1981, é um clássico desse tipo de literatura no Brasil. O futuro é triste, o meio ambiente está destruído e a população é dividida em castas. Até mesmo Monteiro Lobato se aventurou em algo parecido no livro A Chave do Tamanho, de 1942”, conta João Ceccantini, professor de literatura brasileira da Universidade Estadual Paulista (Unesp) sobre o livro em que a personagem Emília, do Sítio do Picapau Amarelo, tenta desligar a “chave da guerra”, para tirar Dona Benta da depressão causada pela Segunda Guerra Mundial.
Em um passado mais recente, Monte Veritá, de Gustavo Bernardo, é um exemplo de distopia lançado pela Rocco em 2009. Assim como Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva, editado pela Objetiva em 2007.


Desilusão – Segundo a psicóloga Vera Zimmermann, coordenadora do Centro de Referência da Infância e Adolescência da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o grande interesse por distopias está relacionado a uma contradição. “Por se sentirem demasiadamente livres e às vezes até mesmo abandonados pela família e pelo governo, os jovens se sentem atraídos por histórias com líderes controladores”, diz ela.
As séries em geral retratam sociedades repressoras. O melhor exemplo dessa linha está na leitura de Destino, primeiro livro da trilogia escrita pela americana Ally Condie e lançada em 2010. Na história, os personagens vivem em uma sociedade que cuida de cada detalhe da vida de seus membros, desde a comida diária, as opções de entretenimento (são cerca de três por dia) e o matrimônio, decidindo com quem cada um deve se casar. Em certo momento, os leitores percebem que no fundo, assim como os personagens que acompanham, preferem a liberdade. 
“Esses livros estabelecem uma relação em que o leitor cresce junto com o personagem”, diz Guilherme Netti, das livrarias Nobel.

post: Marcelo Ferla

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