Uma em cada quatro línguas
indígenas do Brasil corre risco de desaparecer, diz estudo.
Além disso, Unesco também classifica 97
línguas indígenas como vulneráveis e 45 em situação de extremo perigo.
Enquanto o português se expande,
outros idiomas estão seriamente ameaçados de extinção no Brasil. Pelo menos um
quarto das mais de 150 línguas indígenas do país corre o risco de desaparecer,
segundo um estudo divulgado esse ano pelo Museu Paraense Emilio Goeldi.
Outro projeto de pesquisa,
o Atlas das Línguas Ameaçadas da Unesco, classifica, no Brasil, 97 línguas
indígenas como vulneráveis, 17 em perigo, 19 seriamente em perigo e 45 em
extremo perigo. Os kanoê são um exemplo desta última situação: são apenas três
falantes e estão na terra indígena Omere, em Corumbiara (PA). Em outros casos,
como o dos xipaia, o grupo é maior, mas somente dois idosos são fluentes na
língua. O restante foi alfabetizado em português.
Nacionalismo
Das 6.500 línguas do
mundo, calcula-se que metade estará extinta no final do século. “Temos um
processo positivo em curso, de crescimento de muitas línguas, como o mandarim,
o português, o russo, e temos também um decréscimo de muitas línguas. A
estrutura continua sendo desigual”, aponta Gilvan Muller de Oliveira,
diretor-executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa.
Uma em cada quatro línguas indígenas do Brasil corre o risco
de desaparecer
“As línguas realmente
minorizadas, as línguas indígenas ou de minorias de países, continuam no mesmo
grau de ameaça que na estrutura anterior dos Estados-nação. Temos hoje a
extinção de uma língua a cada dois meses”, completa Oliveira.
Durante o século XX,
segundo o professor, prevaleceu o pensamento de que cada Estado-nação deveria
ter uma só língua, mesmo que isso significasse enfiar o idioma nacional goela
abaixo dos seus cidadãos. Inspirado no modelo francês, que reprimiu a
pluralidade linguística em seu território, o Brasil teve muitas línguas que
foram perseguidas, e não apenas as indígenas.
“O momento mais específico
dessa repressão ocorreu no Estado Novo de Getúlio Vargas, num movimento
político que se chamou Processo de Nacionalização do Ensino, quando as escolas
em outras línguas foram fechadas, os materiais didáticos proibidos e os
professores, despedidos”.
“O Brasil reprimiu e
conseguiu, com sucesso, eliminar grande parte dos falantes de alemão, italiano,
japonês, árabe, russo, polonês, ucraniano. Mesmo o espanhol, que foi corrente
no Rio Grande do Sul no final do século XIX e começo do século XX, foi
eliminado. E agora precisamos investir de novo na diversidade linguística para
catapultar o país para um novo patamar de inserção internacional”, comenta.
Para ele, a dificuldades em encontrar pessoas fluentes em outras línguas
prejudica, por exemplo, o programa Ciência Sem Fronteiras, do governo federal.
Marcelo Ferla
fonte: Zero Hora
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe sua opinião.