A criança fumante
STEPHEN DORAL STEFANI**
29 de agosto de 2013
"De que o cigarro
causa um dano
à saúde do fumante,
a grande maioria
das pessoas já
está convencida"
Imagine a cena. Adultos,
na rua, fumando e duas crianças de cinco anos se aproximam e pedem fogo.
Praticamente todos tiveram a mesma reação e desfilaram motivos contra o
tabagismo e, finalmente, ficam desconcertados quando as crianças perguntam,
então, por que eles estão fumando. Os pequenos atores entregam uma brochura
contra o cigarro para as pessoas abordadas e partem para a próxima “vítima”. As
cenas reais foram filmadas e são parte de uma campanha antitabágica. Com o dia
Nacional de Combate ao Tabagismo _ 29 de agosto _ cabe uma reflexão. A
Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 16% da população brasileira é
fumante. A OMS também calcula que em países desenvolvidos, 26% das mortes
masculinas e 9% das mortes femininas podem ser atribuídas ao tabagismo. Desta
forma, o tabagismo é importante causa de morte prematura em todo o mundo. De
que o cigarro causa um dano _ muitas vezes irreparável _ à saúde do fumante
ativo e passivo, a grande maioria das pessoas já está convencida. Os principais
riscos são de vários tipos de câncer, doenças cardíacas, respiratórias,
cerebrais e impotência. Estes dados são bem disseminados, inclusive são
claramente assinalados na própria embalagem do cigarro.
Ainda assim, algumas
pessoas se escondem na leitura de que é uma decisão própria e não cabe a
terceiros interferir. Não é verdade. O problema é de todos, mesmo do não
fumante. O cigarro tem mais de 4,7 mil substâncias químicas tóxicas, que são
liberadas na atmosfera a cada exalada. Pacotes de cigarros representam mais de 750
milhões de quilos de lixo não biodegradável, muitos deles acabando em rios e
lagos. O uso de pesticidas da cultura fumageira e o corte de 600 milhões de
árvores anualmente para a confecção dos cigarros, a quantidade de água
utilizada no processo e os incêndios causados pelas “bitucas” são ônus
ambiental do tabagismo.
E ainda existe o dano
econômico. Estudo da Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) mostra que o valor
gasto com doenças relacionadas ao tabagismo equivale a 30% do orçamento do
Ministério da Saúde e é 3,5 vezes maior do que a arrecadação de impostos dos
produtos derivados do tabaco no mesmo período. Se evitássemos o consumo de
recursos públicos ou privados queimados _ com perdão do trocadilho _ com
tabagismo, poderíamos estar investindo em vacinação, infraestrutura e equipes
de saúde ou até reduzindo mensalidades de planos de saúde.
Tem solução? Atuar no
adolescente e adulto jovem tem todo o sentido, uma vez que 80% dos fumantes
iniciam o hábito antes dos 18 anos de idade. Justo, também, fomentar
alternativas para as 200 mil famílias que dependem da agricultura fumageira.
Qualificar equipes interdisciplinares que atuem no dependente químico do
cigarro é fundamental. Dar o bom exemplo e investir em educação ainda é a
melhor forma de se criar uma geração consciente de sua saúde e da sociedade.
*Médico
fonte: Zero Hora
post: Marcelo Ferla
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