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domingo, 15 de setembro de 2013
A Vida Imita a… Engenharia.
Descoberto inseto com engrenagens naturais
Por Carlos Cardoso
Uma vez, conversando com um cientista perguntei sobre a
ausência de rodas na Natureza. São um excelente meio de locomoção, mas
estranhamente, tirando aquelas plantas de faroeste, nada na natureza usa rodas.
A explicação foi absurdamente simples: antes do Homem
não havia muitas estradas naturais, rodas são bem menos úteis no meio de uma
floresta, ou em um deserto, ou debaixo d’água.
De resto as chamadas “máquinas simples” conhecidas
desde Arquimedes são todas emuladas pela Evolução. Problemas semelhantes rendem
soluções semelhantes, golfinhos e tubarões evoluíram suas formas restritos
pelas Leis da Hidrodinâmica. Seu braço é uma alavanca e funciona do mesmo modo
que a gangorra do colégio de sua filha, ou daquela garotinha linda do vizinho
que você espia escondido. (plot twist: é a Hit Girl)
Mesmo assim, nossa arrogância primata antropocêntrica
sempre assumiu que qualquer coisa mais complexa estaria fora do alcance da mera
evolução. Mesmo um artigo da Nature em 2003, onde foi anunciada a descoberta do
funcionamento dos flagelos em alguns organismos microscópicos, não mudou essa
percepção. Sim, os flagelos funcionavam como motores radiais, mas era uma
estrutura molecular, é diferente de algo complexo, mecânico e grande.
Aí entra este carinha aqui:
Ele é uma ninfa (ui!), ou filhote, da espécie Issus
coleoptratus. Ao contrário dos parentes de Klendathu, não tem muitas armas, seu
melhor e único mecanismo de defesa é o mesmo do Scooby Doo: fugir. Isso é
feito… saltando. E o bichinho manda bem.
Em caso de perigo em 2 milissegundos ele já pulou,
acelerando a 700 G e chegando a 20 km/h de velocidade de fuga. É pouco pra um
jaguar, mas olhe o tamanho do bicho.
O problema é que o sistema operacional nervoso desse
bichinho não é muito complexo, e o cérebro não conseguiria sincronizar as
pernas traseiras rápido o suficiente pro coitado saltar. Qual a solução?
Sincronização mecânica. As pernas são atreladas umas às outras, assim o comando
de saltar é um só, a força é distribuída igualmente e o bicho só não
literalmente voa por só desenvolver asas depois de adulto.
Aí você pergunta: COMO é essa sincronização?
Assim:
Deu pra ver? Não? OK, ENHANCE!
Isso mesmo. O maldito inseto desenvolveu ENGRENAGENS. E
não é só isso. Elas só se encaixam na hora de saltar, o diabo anda normalmente
com as pernas desengatadas, funcionando isoladamente, o que dá mais mobilidade,
mas em caso de perigo, o cérebro envia o comando, as engrenagens se encaixam e
movem as pernas em sincronia, fugindo do perigo. Veja o vídeo:
Os insetos adultos não têm engrenagens, a sincronia é
feita por fricção. A explicação é que provavelmente engrenagens sejam frágeis,
e um dente quebrado signifique o fim do mecanismo. Como insetos jovens trocam
de exoesqueleto várias vezes, isso não seria um grande problema.
A descoberta foi feita por Malcolm Burrows e Gregory
Sutton, da Universidade de Cambridge, que estudavam mecanismo de salto em insetos
e deram de cara com as engrenagens, o primeiro exemplo funcional desse tipo de
estrutura na natureza.
Aqui o Professor Burrows fala sobre a descoberta, com
mais imagens:
Um dos mantras do design inteligente é que existe a
chamada “complexidade irredutível”, onde características modernas como visão
seria inúteis em forma menos complexa. É uma bobagem, qualquer visão é mais
vantajosa do que nenhuma, um verme que saiba diferenciar dia da noite já
consegue fugir de pássaros.
No caso temos uma complexidade Redutível, pois a
solução da engrenagem, que É complicada mas depois que não é mais necessária
retorna a uma forma mais simples, com superfícies sem dentes, sincronizando
apenas via atrito.
É um belo tapa na cara, como se a Natureza, que cria
peixes que andam e cobras que voam (ok, caem com estilo) estivesse dizendo
“está vendo, mané? Enquanto você discute se eu consigo fazer um olho, estou
imitando seu relógio de pulso. Ou melhor: VOCÊ me imitou, zé ruela. Reduza-se à
sua insignificância de 6.000 anos de idade”.
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