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domingo, 25 de agosto de 2013

Opinião do Blogueiro.


Retrocesso
Mais um dia de trabalho, lá vou eu a meu escritório para mais um dia de trabalho. Um início de manhã sem muito movimento. Como é de costume, os advogados são seres que por natureza, são solitários, possuem única e exclusivamente como companhia as letras, as doutrinas, jurisprudências e, no meu caso, uma televisão da qual não abro mão e minha linda e a cada dia mais magnífica cadela Pitty que insiste em sentar a meus pés e ser fiel como minha companheira que é a quase 8 anos.
Lugares como escritórios de advocacia costumam ser também bastante silenciosos, salvo quando da visita de clientes querendo saber como vão suas demandas ou quando de um novo cliente a ser atendido.
Eis que nesta manhã, estava eu em minha cadeira quando ouço alguém á porta. Levantei-me, como de costume, me alinhei para atender quem quer que fosse e ao me dirigir a porta me deparei com uma moça e uma senhora, ambas, com livretos nas mãos. A primeira com seus trinta e poucos e a segunda com seus cinquenta e poucos me entregaram dois livretos, ambos de cunho religioso, um questionando qual a necessidade de tantas manifestações e da violência que estas vêm trazendo consigo nas ruas e, o outro, que trazia o assunto da desconfiança das pessoas em relação às religiões de hoje em dia, tudo em decorrência de seu cunho financeiro e nada religioso.
Mas o que me chamou atenção de imediato foi o primeiro livreto que na capa trazia a ilustração de dois manifestantes, um em primeiro plano, negro e, o outro, em um segundo plano da ilustração com o rosto coberto por uma camiseta.
Confesso que de imediato me perguntei por que um negro na capa, antes do branco, como manifestante e com uma pedra na mão?
São somente os negros que estão usando de violência nas manifestações? Alias, há pessoas negras sendo violentas nas manifestações?
Confesso que não presto atenção nestes detalhes ao acompanhar notícias sore o assunto e, por isso, vi de imediato um forte apelo preconceituoso de quem fizera o desenho que ilustrava o fino livreto.
Fico impressionado com o grau de preconceito que as pessoas ainda têm umas com as outras, bem como com a falta de paciência e velocidade que estas possuem de julgar outras pessoas que são agentes de certos atos e que ficam na mira de muitos, após certos comentários. É a questão do racismo que ainda grita forte em nosso país, a questão do selinho entre amigos e amigas, a homofobia, a xenofobia, a retirada de liberdade expressão das pessoas e meios de comunicação, enfim, noto que estou diante de uma enxurrada de preconceitos em pleno século XXI e que, por mais incrível que possa parecer, todos estes tratam, ainda, de assuntos que a muito duram e não evoluem, ou melhor, não se diluem, desaparecem, as pessoas não evoluem, não há dialogo, esclarecimento, formação de opinião ou qualquer tipo de ação que cesse estes preconceitos, alguns centenários, como o racismo.
Continuei. Após atender as moças e receber um “Deus te abençoe”, ao abrir o jornal, me deparei com o caso do neto da coreografa internacionalmente conhecida Deborah Colker, sim, aquela que ficou famosa por dançar nas paredes do teatro pendurada em cordas elásticas.
O fato que se pusera a minha frente era o que se passara com seu neto, Theo, filha (Clara Colker), e o pai (Peu) em voo da companhia Gol, com destino de Salvador ao Rio de Janeiro.
Estava parte da família da estrela dos palcos a viajar quando um dos funcionários da companhia vai ao encontro de Clara, mãe do pequenino Theo e desfere o golpe:
 - Você tem atestado?
Clara prontamente responde:
- Do que?
O funcionário:
- Do médico sobre a criança! - de onde aponta com dedo em riste para o pequenino Theo;
Responde a mãe:
- Ele está bem, tem um problema genético, sou mãe dele e responsável por ele.
Nisto, o funcionário retorna a cabine da aeronave de onde, logo depois, surge desta vez outra funcionária. Esta ao se aproximar de Clara, já escutou em tom mais ríspido da mãe ferida pela maldita situação:
- Ele é meu filho tem eb e não tem problema nenhum em viajar, sua doença não é contagiosa ele está bem, já viajei inúmeras vezes com ele para dentro e fora do Brasil. Nunca passei por isso, basta olhar para mim, para a avó e para o pai dele que vivem agarrados com ele e não tem nada.
A funcionária então, sem piedade e rancor algum, desfere mais um golpe e diz que a aeronave só sairá do chão com o aval de um médico em solo a respeito da situação do menino.
Vou clarear os olhos da gateada.
Theo, o pequenino, é portador de uma doença genética, não transmissível por nenhuma meio, chamada epidermólise bolhosa, que consiste na formação de bolhas na pele que tem uma sensibilidade muito alta, sendo que as bolhas provocam ardor e desconforto em quem as possui. Se concentram estas, via de regra, nos locais de maior atrito do corpo. Trazem grandes problemas para o portador em decorrência da sua ruptura e, em decorrência destas, de possíveis infecções graves. Nada mais, ou melhor, como se já não fosse o suficiente.
Ao se deparar com o pequenino Theo e seu problema, o avião e sua tripulação de cinco monstros, simplesmente não decolou por decisão unânime, ou melhor, por decisão que fora fruto de um conluio desta, infundada, contra o pequenino Theo, o que resultou, ainda, da vinda e invasão de agentes da policia federal para dentro da aeronave para que assim, fosse efetuada a retirada (entenda-se expulsão) do menino do avião. Pronto, o constrangimento, o choro de uma mãe ferida em seus sentimentos e um pequenino Theo assustado, pois estava entendendo ser ele o problema de tudo, quando não era, nem deveria ser, causava pânico em sua mãe, avó e pai que já se encontravam nervosos, envergonhados, constrangidos moralmente, humilhados, eis que seu filho e neto parou a máquina de metal por mais de uma hora, eis que era diferente para a tripulação do avião, era uma besta de circo.
 Então chega o médico. Deborah e sua filha, já exaltadas, explicam tudo novamente e este, por sua vez, compreende tudo e diz não haver problema algum, mas havia. Em um ato arbitral e abominável, mais uma vez, o comandante da aeronave diz que eles só sairiam do chão com um atestado médico, ao que o médico responde, dizendo que não tinha atestado ali para ser preenchido. O que fazer? O comandante, de uma forma inesperada diz ao médico que este se vire, que dê um jeito de encontrar caneta e papel para atestar a capacidade de seguir viagem do pequenino Theo, no que o médico o obedece cumprindo a exigência em um papel qualquer, fornecido por passageiros do voo sem sequer ser este timbrado.
A vontade de Clara neste momento era de descer do avião e assim ela se manifestou, ao que uma passageira, a umas três filas de clara grita: “Chama o MP, isso é preconceito e discriminação”. Junto com esta passageira os demais, se manifestam dizendo que se o Theo descesse todos eles desceriam juntos, o acompanhariam e, daí sim, o maldito avião não sairia dali mesmo.
Todos os passageiros se voltaram em favor do pequenino Theo e em uma só voz, reivindicaram sua vontade em um verdadeiro manifesto, uma rebelião dentro de um avião em favor do bom senso, da compreensão e do não ao preconceito e discriminação banal, leviana e desumana. Ao final o voo seguiu e todos chegaram a seus destinos.
 Fim.
Não, começo.
O absurdo, pois esta foi a palavra utilizada por Deborah em entrevista cedida ao canal Globonews sobre o caso, não pode ocorrer da forma como o fora. Neste caso, na medida em que o pequenino Theo, aceita os ignorantes e desprovidos de cérebro que o cercam em certas situações de sua vida e o pior, ao que tudo indica isso perdurará, eis que a doença do pequeno Theo é congênita, as pessoas que circulam o pequenino Theo também tem que o aceitar sem sequer questionarem a sua moléstia, assim como o fez, a passageira que entoou voz de reprovação a tudo naquele momento estava ocorrendo, ao dizer que se ele descesse, todos desceriam.
O que me deixa aliviado, por um lado e, bem sei como é ter um problema assim, eis que sou diabético e já sofri com isto por meio de mentes e bocas sujas, se dá com o fato da revolta dos passageiros do voo.
Como pode a aceitação de uma situação que é lapidada pela ignorância sem fim de um grupo de pessoas que não conseguem raciocinar que, pessoas como Deborah, sua filha e seu genro, jamais agiriam de má fé ou são terroristas ao ponto de embarcar em local fechado, uma criança que tem doença de fácil transmissão e grave, me poupem, todos estavam, como bem disse Clara, com o pequenino Theo a tira colo, todos bem, sem problemas, mais saudáveis do que nunca, mas a ignorância, o preconceito e a discriminação descontrolados e alimentados pela sensação de superioridade tornam facilmente o ser humano cego. 
Mesmo assim, ao que vejo as pessoas não tem mais, definitivamente, o mínimo de paciência com abusos de pessoas que se sentem no posto de autoridades em determinadas situações e que, por questões suas, pessoais, mal resolvidas, desgostosas da vida que são, acabam sendo protagonistas de uma patacoada destas, uma palhaçada que não faz rir a ninguém.
Com atos assim, exemplos assim, sendo multiplicados, há sim possibilidade de pormos as coisas um pouco mais em seus devidos lugares, assim como as pessoas que as promovem, são com atos de cidadania assim, juntos, unidos, que um povo faz de um país um lugar melhor para se viver, um lugar mais harmônico para seus habitantes, respeitável para com o próximo. De um lado, uma situação ridícula, cruel e covarde de pessoas que deveriam dar exemplo e confortar os passageiros durante o voo da vergonha e, do outro, um mutirão de verdadeiros cidadãos de bem que tiveram a iniciativa acertada de dizer não, não vai ser como vocês acham que deve ser, será como deve ser de direito e de forma justa e será, basta.
Quanto a empresa? Mil desculpas, retratações por meio de comunicados escritos e frios a imprensa, ligação de seu presidente a Deborah, enfim, o de praxe vindo de quem não está nem ai para os outros neste país.
Quanto ao negro na capa do folhetim lá de cima? Típico de quem diz aceitar todos como filhos de Deus, na casa de Deus, mas que ao propagar a palavra de Deus a destorce sendo infeliz com um exemplo clarividente de preconceito e racismo.
Senhoras e Senhores, eis o Brasil, ainda o Brasil dos tortos e ignorantes, dos infelizes e desprovidos de conhecimento, dos arrogantes, amargurados, secos, amargos, mas que ainda assim reúne forças para mostrar a quem quiser ver, que aqui existem pessoas de bem e que não querem desistir diante de coisas que podem mudar.

Marcelo Ferla.

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