Joaquim Barbosa diz que
"o Brasil não está preparado para ter um presidente negro"
Em entrevista concedida ao jornal O Globo - e publicada na
edição dominical (28) - o presidente do STF Joaquim Barbosa disse que não será
candidato à Presidência da República. "Nunca pensei em me envolver em
política. Não tenho laços com qualquer partido político".
Ele interpreta os aplausos que recebe nas ruas como
"manifestações espontâneas da população; são pessoas que pedem para que eu
me candidate e isso tem se traduzido em percentual de alguma relevância em
pesquisas".
Respondendo a uma pergunta da jornalista Miriam Leitão se
"o Brasil está preparado para um presidente da República negro?",
Barbosa respondeu que "não".
E explicou: "Ainda há bolsões de intolerância muito
fortes e não declarados no Brasil. No momento em que um candidato negro se
apresente, esses bolsões se insurgirão de maneira violenta contra esse
candidato. Já há sinais disso na mídia".
Ele não vê "a ascensão dos
negros como algo muito significativo, ainda havendo setores em que os negros
são completamente excluídos".
Avalia que "os negros são uma força emergente. Antes,
faziam sucesso só nas artes e no futebol, mas, agora, eles estão se preparando
para chegar nos postos de comando e sucesso em todas as áreas".
Barbosa pontuou que as investidas da Folha de S.Paulo contra
ele "já são um sinal". E relatou: "o jornal expôs meu filho,
numa entrevista de emprego. No domingo anterior (22) houve uma violação brutal
da minha privacidade. O jornal se achou no direito de expor a compra de um
imóvel modesto nos Estados Unidos. Tirei dinheiro da minha conta bancária,
enviei o dinheiro por meios legais, previstos na legislação, declarei a compra
no Imposto de Renda. Não vejo a mesma exposição da vida privada de pessoas
altamente suspeitas da prática de crime".
A uma pergunta sobre "o partido político que representa
mais o seu pensamento", Barbosa resumiu ser "um homem seguramente de
inclinação social democrata à europeia".
Também contou que sempre foi discriminado. em todos os
trabalhos, do momento em que comecei a galgar escalões. E foi explícito:
"o Itamaraty é uma das instituições mais discriminatórias do Brasil.
Passei nas provas escritas, fui eliminado numa entrevista, algo que existia
para eliminar indesejados. Sim, fui discriminado, mas me prestaram um favor.
Todos os diplomatas gostariam de estar na posição que eu estou hoje.
Todos".
Leia a íntegra da entrevista no jornal O Globo.
Marcelo Ferla
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