Falando Nisso!!
Conheça
a história por trás da foto mais perturbadora da tragédia em Bangladesh
Para Taslima Akhter, a
foto mostra que os quase mil mortos na tragédia não são apenas números, mas
vidas tão valiosas como a de qualquer ser humano.
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"Abraço Final",
fotografia da bengalesa Taslima Akhter após o colapso de um prédio comercial em
Daca
Foto: Taslima Akhter /
Divulgação
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Em um texto publicado dia
8 no site da revista americana Time, Akhter afirmou que o que a aterroriza
nessa imagem é, na verdade, sua capacidade de dizer o que muitas vezes é
ignorado em acontecimentos dessa natureza em Bangladesh: o fato de que os
operários que trabalham sob as péssimas condições oferecidas pela indústria
têxtil do país não são apenas números. São seres humanos cujas vidas valem
tanto quanto as de qualquer outra pessoa.
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Multidão acompanha
operação de resgate em 25 de abril, uma dia após o desabamento. O prédio Rana
Plaza desabou em Savar, no subúrbio da capital Daca, no dia 24 de abril.
Milhares de pessoas que trabalhavam em empresas têxteis no momento da tragédia
foram soterradas. Cerca de mil já foram declaradas mortas, mas o número de
corpos retirados dos escombros cresce diariamente.
Foto: AP
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Soldados são fotografados
em meio aos destroços enquanto buscas por sobreviventes prosseguem ao cair da
noite do dia 26 de abril.
Foto: AP
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Não por acaso a Time
classificou a foto tirada por Akhter como a "mais perturbadora" da
tragédia em Bangladesh, a mais representativa de uma cobertura fotográfica
marcada por imagens fortes, como é possível observar na galeria disponível ao
final desse texto.
O Terra entrou em contato
com Akhter, que cedeu a imagem do "Abraço Final".
Abaixo, a tradução
do texto publicado na Time.
Eu venho fazendo muitas perguntas
a respeito do casal que morreu abraçado após o colapso. Eu tentei
desesperadamente, mas ainda não achei nenhuma pista a respeito deles. Eu não
sei quem são ou qual a relação eles tinham.
Eu passei o dia inteiro do
desabamento no local, assistindo aos trabalhadores serem retirados das ruínas.
Eu lembro do olhar aterrorizado dos familiares - eu estava exausta mental e
fisicamente. Por volta das 2h, encontrei um casal abraçado nos escombros. A
parte inferior dos seus corpos estava enterrada sob o concreto. O sangue que
saía dos olhos do homem corria como se fosse uma lágrima. Quando os vi, não
pude acreditar. Era como se eu os conhecesse - eles pareciam ser muito próximos
a mim. Eu vi quem eles foram em seus últimos momentos, quando, juntos, tentaram
salvar um ao outro – salvar suas vidas amadas.
Cada vez que eu olho para
essa foto, me sinto desconfortável - ela me assombra. É como se eles estivessem
me dizendo, nós não somos um número - não somos apenas trabalho barato e vidas
baratas. Nós somos humanos como você. Nossa vida é preciosa como a sua, e
nossos sonhos são preciosos também.
Eles são testemunhas nessa
história cruel. O número de mortos agora passa de 750 (nesta quinta-feira, já
chega a quase 1000). Que situação desagradável nós estamos, onde humanos são
tratados apenas como números.
Essa foto me assombra todo
o tempo. Se as pessoas responsáveis não receberem a punição merecida, nós
veremos esse tipo de tragédia de novo. Não haverá consolo para esses
sentimentos horríveis. Cercada de corpos, eu senti uma imensa pressão e dor nas
duas últimas semanas. Como testemunha dessa crueldade, tenho necessidade de
compartilhar essa dor com todos. Por isso eu quero que essa foto seja vista.
fonte: terra.com.br
Marcelo Ferla
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