texto publicado em 27.08.2010
Futuros criminosos ou não?
O seu filho joga
videogame? – o seu filho joga no computador? – ele gosta de jogos “ditos”
“violentos”? – seu filho será um marginal?
Pois bem, eis ai um fato
que me deixa por demais irritado e indignado, tamanha a ignorância de uma
sociedade que vive a beira do uso da internet e de um crescimento tecnológico
imensurável, qual seja, o rótulo colocado em nossas crianças e adolescentes
como podendo ser ou virem a se tornar potenciais pessoas violentas ou
marginalizadas a partir do uso habitual de aparelhos como o videogame e o
computador através de jogos on-line como ferramentas de entretenimento.
Analisemos os fatos; para
se tornarem pessoas potencialmente violentas, descontroladas, potenciais
assassinos(as) ou coisas bárbaras desse gênero a que se saber, que uma pessoa
com perfil criminoso não se forma a partir, tão somente, de práticas como jogar
videogame ou jogos on-line ditos “violentos”.
O criminoso em nosso país,
ao contrário do que muitos formadores de opinião, desconhecedores do assunto,
erroneamente colocam em seus discursos, tem seu nascimento a partir de uma
sociedade que se demonstra na maior parte das vezes portadora de uma face que
serve como uma máscara protetora e isolante daquilo que não é daqueles que se
dizem afortunados e que se demonstram inoportunos, competitivos, ambiciosos,
individualistas e seletivos, colocando os mais desafortunados a beira de um
labirinto cheio de monstros e que muitas vezes não podem ser mortos pelo
jogador que os enfrenta. Estes jogadores, despreparados e desarmados, ao
contrário do que logo após vem, são aqueles que ficam a beira da fome, sem
condições de sequer subsistir, ter acesso a roupa digna, educação digna, comida
digna e desenvolvimento digno. São aqueles que não podem ser cuidados por suas
Mães e Pais, porque sequer os têm, enfim, coisas do “jogo da vida”, que retira
vidas sem uma nova chance como nos jogos, sem um novo “start”.
Estes são aqueles que
estão potencialmente mais próximos de serem engolidos não por ogros ou demônios
de jogos, mais por uma realidade que se demonstra bestial, ligada a coisas como
o tráfico de drogas, a marginalidade crua e nua, a violência de assassinatos e
chacinas que ocorrem mais rápido que os “giga bites” de máquinas potentes.
Estas pobres crianças e adolescentes que sequer possuem um lápis para escrever,
quanto muito um joguinho feito por eles mesmos no chão com pedras, sim, porque
este mesmo chão é invadido por estopins de balas e corpos, é algo muito
distante dos filhos que estudam em colégios particulares, fazem esportes, curso
de línguas, etc.
Os afortunados, filhos
desta sociedade, não passam por estas mazelas, estão estudando, se
desenvolvendo, crescendo, fortes e hábeis, são jogadores armados, preparados
para enfrentar estes monstros, pelo menos é o que esperamos sempre que
comparamos os bons jogadores dos ruins. Ledo engano.
Há que se separar o joio
do trigo, mas com ferramentas corretas e não de forma a comprometer a colheita.
Quem faz a colheita? Nós,
todos nós, os Pais, as Mães, os Educadores, e eis o problema, porque mesmo com
todas as ferramentas adequadas ainda às vezes não sabemos colher de forma
abundante, isso porque ao criarmos nossos filhos não cuidamos deles, não
sabemos se as companhias de nossos filhos(as) e irmãos(as), sobrinhos(as),
primos(as), são adequadas, se estão se sentindo bem, se estão se sentindo
sozinhos, sem atenção, enfim, se estão felizes, porque são estes que se mal
conduzidos, ou mal cuidados por aqueles que precisam zelar por eles são
atingidos e violentados na sua alma, por traficantes, criminosos, pessoas estas
que ficam a espreita, como aquela jogada inesperada e que atinge a todos,
afortunados ou desafortunados.
Portanto, Senhores Pais,
Mães, Educadores, e todos nós, não nos preocupemos com os “jogos” que nossos
filhos jogam ou deixam de jogar, mais sim com a formação inicial destes,
anterior aos jogos, a atenção, a dedicação, a companhia entre Pais e Filhos,
Educadores e Educados, Amigo e Amizades que se faz necessária e exige alerta.
Necessitam as nossas crianças e adolescentes, todos eles, bons jogadores ou
maus jogadores, de amparo, amparo urgente, para que saibam valorizar, sentir e
saber que pessoas se importam com eles, que essas pessoas se fazem presentes e
muito presentes, sem deixar lacunas, abismos nessa relação tão importante, para
assim, serem boas pessoas, independente do que veem, ouvem, ou presenciam, que
sejam eles bons agricultores, que saibam separar o joio do trigo, sem
comprometer a colheita.
Marcelo Ferla
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