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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Luto










Já estava desistindo de escrever algo sobre a tragédia sem proporções ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro.

Quase tudo já foi dito, terror, desespero, incompetência, demora, desprezo, culpados.

Esperei até o presente momento para que pudesse reunir o maior número de informações possíveis e, assim, elaborar um texto de qualidade a cerca do assunto.

Muito já foi dito a respeito da tragédia, aliás, tudo já foi dito, ao menos aquilo que é comum aos olhos da população brasileira que acredita na mídia e nas coisas simples que ela diz a respeito de coisas sérias e muito complicadas.

Coisas estas que, em alguns casos raros foram boas notícias e, do outro lado, o que dá ibope, coisas muito, mais muito ruins que, não podendo ser de outra forma (por conta do maldito ibope), aparecem sempre mais e em maior número do que as boas notícias sobre o que ocorreu, assim como, sobre o que ainda vem ocorrendo e sobre o que ainda vai ocorrer, sendo este último item, aquele que corre grande risco de não ter nada publicado a respeito dele, por que será esquecido de se dizer algo, já passou e o povo brasileiro já terá esquecido tudo, infelizmente.

Mas sobre a tragédia, não escreverei e nem vocês lerão aqui quase nada de novo em relação ao que já viram, leram e ouviram, mas me senti na obrigação de registrar o ocorrido da forma crítica, pois nada justifica o que aconteceu e por que aconteceu.

Surpresa, pavor, espanto, dor, impotência, frustração, demora, revolta, foram palavras recorrentes nas notícias, assim como os corpos que eram e ainda serão (quanto a isto tenho dúvidas) recolhidos, vítimas de uma tragédia anunciada, uma tragédia sabida a chuva demorou a passar, foram burocráticos para tomar uma atitude e demonstraram um grau de incompetência e irresponsabilidade no mesmo volume de água que caiu por aquelas bandas.

Todos os Presidentes, Governadores do Rio de Janeiro, Prefeitos, Deputados Estaduais, Deputados Federais e vereadores que passaram nos últimos 20 anos por estes cargos são co-autores das mortes no Rio de Janeiro.

A todos estes, inclusive eleita, Excelentíssima Senhora Presidente da República Dilma Rouseff, ao Excelentíssimo Senhor Governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e ao Excelentíssimo Prefeito do rio de Janeiro, Eduardo Paes digo, "A TODOS", vocês começaram ou permanecem com 817 pontos nos seus governos, 817 pontos negativos, número que correspondia, até ontem, ás 08h40min, segundo o site www.folha.uol.com.br ao número de mortos nesta tragédia apocalíptica, número este que não cessará por aí. A vocês dois, ditos responsáveis e sábios, minha total desaprovação. O mesmo para os demais que passaram pelo poder público nos últimos 20 anos, sabiam disto tudo e nada fizeram.

A demora com que estas autoridades, juntamente com as forças armadas e demais autoridades competentes que poderiam auxiliar na situação, para iniciar suas atividades foi grotesca, rodeado de supostas burocracias que mais são desculpas, do que propriamente existentes.

Pessoas passam, ainda, por quase duas semanas, sem qualquer contato com a civilização, muitos deles feridos, doentes e todos eles com sede, fome e frio. Algo que mais parece material para piadas de humor negro do que qualquer outra coisa que possa se imaginar.

Nunca na história deste país, tivemos uma tragédia tão grande quanto esta, em que a palavra mais entoada em todas as reportagens e entrevistas concedidas por vítimas diretas ou indiretas foi “assustador”.

Todos os ingredientes de proporções bizarras foram demonstrados da forma mais crua e desumana que poderíamos presenciar e ouvir. 
Muitas vezes não foi necessário sensacionalismo ou qualquer outro tipo de exercício de imprensa marrom a que estamos acostumados todos os dias em nossas televisões para ver e sentir um mínimo de desespero pelo qual as vítimas passavam e passam ainda.

Bastava dar a notícia, crua, fria, dolorosa, simplesmente dizer o que estava acontecendo que a sensação de tristeza se formava em nossos pensamentos, assim como a sensação de impotência e, todas aquelas que eu descrevi anteriormente, todas, como um coquetel de coisas ruins, vinham à tona e tomavam conta dos telespectadores, dos leitores, enfim, de quem se envolveu de alguma forma descente com esta “coisa”.

Só não sentiram estes sentimentos três tipos de animais, eu disse animais e não seres humanos:


Aqueles que conseguiram e digo, não consigo compreender esses animais, os saqueadores, que como o nome diz saqueavam casas condenadas, os comerciantes locais que, ao invés de cobrar uma caixa de leite por R$ 2,00, cobravam animalescamente, vejam vocês, R$ 10,00 cada litro e por fim, os donos de moradias para alugueis, que agora, ao saberem da tal “bolsa aluguel” ou “auxílio aluguel”, como queiram, passaram a cobrar aluguéis que antes eram R$ 200,00, a bagatela de R$ 400,00, R$ 450,00.

Como já disse isto tudo é animalesco, selvagem e, em sendo assim, seres como estes podem ser chamados de qualquer coisa, menos de seres humanos.

Os repórteres choraram, pessoas pediram ajuda, alarmes falsos de novas enxurradas de água foram dados, novos deslizamentos ocorreram, tudo está um caos por lá, nada sobrou, só a dor, a incompreensão, a lamentação e pessoas com seqüelas pós-traumáticas, dentre as mais comuns, a síndrome do pânico, o que não poderia ser diferente, todos com sintomas típicos de pessoas em estado de choque.

Para finalizar, li no domingo, editorial da Zero Hora de um escritor e jornalista e cometi o erro de não anotar seu nome para compartilhá-lo aqui com vocês.

Neste editorial dominical, ele criticava o foco das preocupações trazidas com a tragédia serrana do Rio e criticava o fato destas não condizerem com a realidade não mostrada àqueles que deveriam vê-la.

Relatou em seu texto que viu um (dentre os tantos animais que vagam pelas ruínas das cidades serranas do Rio de Janeiro) cachorro que, dominado pelo desespero da fome, alimentava-se dos restos de um cadáver já em estado de decomposição em decorrência da demora do resgate do corpo.

Disse também que a noite, principalmente à noite, o cheiro putrefação era insuportável, pois vertia da terra e da lama acumulada, sinal, imagino eu, de que muito há ainda por debaixo de tudo aquilo. Que desgraça.

Foi um relato em poucas linhas que resumiu de forma também crua e verdadeira a realidade destas pessoas que lá estão e que precisam ser lembradas até que suas novas vidas sejam postas em seus devidos lugares, pessoas estas que já carregam consigo uma cruz maior do que podem levar, pois aqui o ditado popular de que Deus não dá a ninguém uma cruz maior do que se possa carregar a mim não convence.

Não nos esqueçamos deles, não nos esqueçamos do que aconteceu ou acontece ao longo da história de nosso país, não podemos esquecer, não podemos deixar de falar, escrever e se revoltar, por mais redundante e repetitivo que estes atos sejam.

Precisamos construir juntamente com nossos irmãos de pátria cariocas, sobreviventes que são um país que olhe por nós, mesmo que muitos deles e de nós mesmos já não acredite mais nisto.    

p.s - Este texto é dedicado a todos que de alguma forma fizeram parte desta triste marca que ficará em nossas mentes, mortos, desaparecidos, sobreviventes, doadores e a todos aqueles que de qualquer forma, mesmo sem ferramentas adequadas, tiraram um punhado de terra e lama para assim, ajudar, auxiliar e trazer um pouco de alento.

A todos vocês, o meu total respeito e muito obrigado por serem brasileiros, verdadeiros brasileiros.

 
Marcelo Ferla

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