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segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Hussein bom - 1ª parte

9.11.08






















O Hussein bom - 1ª parte

Muitas coisas vêm mudando neste mundo, talvez muito mais coisas do que aquelas que ocupam os jornais todos os dias e relatam tragédias. Com certeza essa predominância de mudanças seja um sinal de novos tempos que aos poucos vem se confirmado por fatos históricos como este que colocarei aqui.

Lembro-me de um momento no verão de 1991, começarei por ai, que com certeza ficará para sempre na minha memória. Eu estava na praia, era uma noite de muitas estrelas, estávamos na rua conversando, como é de costume em minha família e eis que a noite foi irrompida por uma notícia que até então eu não tinha visto, nem ouvido.

Sempre fui um grande admirador de guerras, minha mulher, meus irmãos, minha mãe, todos sabem que gosto desse assunto, talvez por querer saber como o ser humano lida com situações limite em sua vida, gosto das reações, de coisas assim, mais até então jamais tinha visto aquilo, uma guerra na televisão.

A guerra a qual estou me referindo era a invasão das tropas americanas do território iraquiano em decorrência da invasão daquele país ao território Kuaitiano, ocorrida em Agosto do ano anterior em 1990.

Confesso que os dias que passaram depois disso eram realmente algo surpreendente, ataques ao vivo, televisionados, luzes por todos os lados, tiros, bombardeios aéreos, explosões, nunca vou me esquecer daquelas cenas com imagem verde, eram filmagens em infravermelho, feitas na madrugada de Bagdá ou através de visão noturna dos soldados da coalizão, um espetáculo a céu aberto, mortes, sangue, como a muito não se via, como no tempo do coliseu romano, da primeira guerra, da segunda guerra, como coisas assim ocorridas na história, pois deixara 100 mil soldados e 7 mil civis iraquianos mortos, 30 mil kuwaitianos também mortos e 510 homens da coalizão com o mesmo fim. Era a minha primeira guerra, minha estréia e alguns ainda me diziam que ela tinha sido de luxo.

Mais o tempo passou, a idade chegou, muita coisa aconteceu, sendo que somente o que não mudou em minha vida foi a ocorrência de guerras, pois ironicamente, aquele que tinha sancionado a invasão ao Iraque na operação intitulada tempestade no deserto, George Bush, auxiliado por meio de suas tropas que mais pareciam guerreiros imbatíveis, tinha deixado suas idéias bem enraizadas. A coisa iria continuar. Era só o começo.

Em 11 de setembro de 2001 o grande golpe, o inesperado. Os Estados Unidos, porque não o mundo, em uma manhã não menos tranqüila, cotidiana até, pelo menos para mim que chegara de uma prova na faculdade, estudava direito na faculdade, via com espanto dois aviões comerciais da American Arlines, se espatifarem contra os dois ícones do capitalismo moderno, as Torres Gêmeas ou o World Trade Center, como queiram. Aquilo em nada deixou a desejar em relação ao que eu já tinha visto na minha estréia, porém havia uma diferença em relação a minha primeira guerra, qual seja, para todos aquilo ocorrera pela primeira vez, era inédito, não somente para mim, nunca se imaginara algo daquela magnitude, feito com aquela criatividade bisonha, fria, desumana. Mais mortes, mais choro, mais traumas, mais ibope, mais espetáculo alimentado pela tragédia alheia. Viria a retaliação, e veio.

Os atentados foram atribuídos à rede Al-Qaeda, de Osama Bin Laden, um terrorista que há 05 anos morava nas montanhas do Afeganistão. Naquela que foi chamada "cruzada contra o terror" pelo mesmo presidente americano George W. Bush foi ordenado um ataque que devastou o país do centro-oeste asiático, na operação militar batizada de "Liberdade Duradoura".

Vinte e seis dias depois de sofrer um devastador ataque contra os principais símbolos do imenso poder econômico e militar – o primeiro contra o território continental em quase 200 anos -, e após intensos preparativos militares e diplomáticos, os Estados Unidos desencadearam no domingo, 07 de outubro, a resposta militar aos ataques, com uma noite de bombardeio maciço contra instalações da rede terrorista Al Queda no Afeganistão. As primeiras explosões foram ouvidas às 9 horas da noite (13h de Brasília) em Cabul, a capital do Afeganistão, e Kandahar, cidade mais ao sul que é a principal base política do mulá Mohamed Omar, o líder do Talibã.

A operação durou pouco mais de dois meses. No sábado, 29 de dezembro de 2001, o Pentágono anunciava o fim da fase militar da guerra contra o terrorismo, anunciando planos para substituir os mais de mil fuzileiros navais estacionados em Kandahar por soldados do Exército. Era a minha segunda guerra, a essa altura já tinha atingido os meus mais antigos parentes em números de guerras de grandes proporções. Mais não era o suficiente, pelo menos para aqueles que dominavam o mundo, movidos por seus interesses malucos.

Em 20 de Março de 2003, o então eleito 43º presidente dos Estados Unidos, (eleições ocorridas em 20 de janeiro de 2001, onde sucedeu Bill Clinton), o não menos ambicioso, George W. Bush, a princípio movido pela cicatriz do 11 de setembro e pelos mesmos interesses de seu Pai (o petróleo), invadira pela segunda vez o mesmo país (Iraque) motivado desta vez, segundo os dados então ditos como oficiais, por suposta existência, naquele país, de enriquecimento de urânio para construção de armas de destruição em massa, que diga-se de passagem nunca foram encontradas dentro do território iraquiano.

Talvez, não sei ao certo, algo de bom ocorreu nesta fase, a queda de Saddam Hussein, o Hussein mal, desumano, genocida, que matara 148 xiitas no povoado de Dujail, em 1982, a morte de cerca de 5.000 curdos iraquianos, na maioria mulheres e crianças, foram mortos em alguns minutos, e 10 mil feridos, proveniente de ataque aéreo autorizado por ele, durante a guerra Iraque-Irã (1980-88), na campanha Anfal, em 1987/1988, cerca de 100 mil pessoas foram mortas em grandes deslocamentos de populações curdas e em massacres nas cidades curdas pelo regime de Saddam, por fim, em 1983, a execução de 8.000 membros da tribo Barzani, um potente clã curdo ao qual pertence o chefe do Partido Democrata do Curdistão e atual presidente do Curdistão, Massoud Barzani. Eis o Saddam Hussein mal, que morreu enforcado por volta dàs 6h da manhã deste sábado (1h da manhã em Brasília), na Zona Verde de Bagdá, região fortemente protegida da capital iraquiana em cumprimento à sentença determinada pela Justiça daquele país em 5 de novembro.

Era o fim do Hussein mal.

Esta era a minha terceira guerra, a essa altura já tinha superado meus antepassados, mais não tinha orgulho nenhum disso. Esta, por sua vez, em nada deixou a desejar em relação às duas primeiras, ocorridas 13 anos e 02 anos (primeira invasão ao Iraque e a retaliação ao 11 de setembro no Afeganistão) respectivamente, principalmente no que se refere a cobertura televisiva, mentiras dos interessados e as mortes, claro as mortes, que foram mais que quatro, isso, quatro bombas de Hiroshima, ou seja, mais de 600 mil mortos, informação esta advinda de um relatório elaborado por uma equipe de investigadores norte-americanos e iraquianos que fora publicado pela prestigiada revista médica britânica The Lancet. Era algo nunca visto, pelo menos por olhos mais recentes e talvez por nenhum par de olhos ainda vivos e ativos, não pelos motivos e formas executadas.

Mesmo assim, sempre pensei que um dia tudo isso terminaria ou pelo menos diminuiria, até porque nada pior do que aquilo poderia acontecer, eu realmente estava no meu limite, pelo menos em um curto espaço de tempo. As pessoas estavam com medo, chocadas, fartas de um governo trapalhão e armamentista liderado por um cowboy atrapalhado (George W. Bush), vindo do Estado de Connecticut e depois transferido muito jovem para uma zona petrolífera do Texas.

Oito anos se passaram, a idade estava cada dia mais presente, eu já tinha me formado em direito, me especializado, estava casado, trabalhando. Mais a vida guardava algo melhor para mim, para meus olhos que já tinham visto muitas coisas inesperadas, terríveis, desumanas, grotescas, coisas novas, todo dia, toda hora, mais sobre assuntos velhos.

Mais tinha me enganado, não tinha acontecido tudo, nunca acontece tudo na vida de uma pessoa, e o melhor, o que ainda não tinha acontecido, seria o melhor de tudo, seria algo inesperado, incrível, cheio de esperança, renovação, seria algo gigante, nunca visto.

Continua…

Texto: Marcelo Ferla

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