Criogenia
já é utilizada na vida real: conheça como funciona a técnica
O congelamento de cadáveres
ainda custa muito dinheiro, mas atrai pessoas interessadas em 'reviver' no
futuro — a técnica é o tema da próxima novela das sete da TV Globo
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CENA DA NOVELA 'O
TEMPO NÃO PARA' (FOTO: DIVULGAÇÃO/TV GLOBO)
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Treze membros de uma mesma
família voltam à vida depois de passar 132 anos congelados em um iceberg. Esse
é o mote de O Tempo Não Para, a nova novela das sete da TV Globo, que explora o
tema da criogenia — nome dado a técnica de congelamento de pessoas que morreram
na esperança de, um dia, trazê-las de volta à vida.
“Há muitas razões para um
ser humano querer ser congelado: desde a cura de doenças no futuro até a
imortalidade.
Um dos personagens, por exemplo, quer viver para sempre.
Quem não
gostaria de ver como o mundo estará daqui a 200 ou 300 anos?”, indaga o autor
da novela, Mario Teixeira.
Ele afirma, entretanto, que não gostaria de ter seu
corpo congelado.
“Detesto o frio.
No inverno, sempre trato de viajar para algum
lugar quente."
A ideia de preservar
cadáveres em temperaturas baixíssimas para revivê-los no futuro parece coisa de
novela ou tema de ficção-científica, não é mesmo?
Nem tanto.
Só nos Estados
Unidos, 331 pessoas já foram congeladas em tanques de nitrogênio líquido a 196
graus negativos, temperatura em que o cadáver não apodrece, em dois dos maiores
laboratórios de criogenia do planeta: o Cryonics Institute, que fica em Michigan,
e o Alcor Life Extension Foundation, no Arizona.
Há um terceiro, o KrioRus,
sediado em Moscou, na Rússia.
Dependendo da modalidade, o
Alcor cobra US$ 200 mil (algo em torno de R$ 746 mil) para preservação do corpo
inteiro e US$ 80 mil (R$ 298 mil) só do cérebro.
Já o Cryonics cobra uma taxa
de US$ 28 mil (R$ 104 mil) de seus membros vitalícios.
A criogenia já é usada com
bastante sucesso na preservação de embriões humanos e órgãos para transplantes.
Mas, quando o assunto é a criopreservação de seres humanos, a história é outra.
Para Andy Zawacki, diretor do Cryonics, que tem 171 pacientes “em suspensão
criogênica”, a parte mais difícil é saber quando o indivíduo vai morrer.
“O
ideal é que, logo após sua morte, ele seja congelado o mais depressa possível.
Dentro de minutos é o melhor”, avisa.
Sem oxigenação, algumas células do corpo,
como as neurológicas, por exemplo, não duram mais que cinco minutos.
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EMPRESAS JÁ UTILIZAM
TÉCNICAS DE CRIOGENIA (FOTO: DIVULGAÇÃO)
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Já Linda Chamberlain,
cofundadora da Alcor, que contabiliza 160 pacientes criopreservados, diz que
congelar o indivíduo é fácil, difícil é saber como ressuscitá-lo.
Não bastasse
ter que descobrir a cura para doenças hoje incuráveis, como o câncer e a
esclerose lateral amiotrófica (ELA), a ciência ainda precisa desenvolver uma
técnica segura e eficaz de degelo.
“Pesquisas recentes mostram que amostras
pequenas do cérebro podem ser vitrificadas e reaquecidas sem danificar sua
estrutura.
O desafio agora é aplicar esse conceito em algo tão grande como o
corpo humano”, diz.
Em tese, o processo de
criopreservação é simples.
Primeiro, o sangue é drenado do corpo e, em seguida,
substituído por um líquido crioprotetor, o M-22, à base de glicerina.
O
objetivo desta substância química é evitar a formação de cristais de gelo que
podem causar danos irreparáveis nas células do organismo.
Depois, o cadáver é
submetido, gradualmente, a baixas temperaturas até ser finalmente levado para
um tanque de nitrogênio líquido, onde permanecerá de cabeça para baixo.
O motivo
para isso é que, em caso de vazamento, o cérebro fica protegido na base do
freezer.
O diretor clínico do Centro
de Criogenia Brasil (CCB), Carlos Alexandre Ayoub, classifica a criopreservação
de cadáveres de “farsa”.
Ele explica a razão.
“Quer ser criopreservado?
Então,
seja em vida. Caso contrário, ninguém vai conseguir preservar sua memória.
Se
Einstein tivesse sido congelado e, anos depois, voltasse à vida, não saberia
explicar o que é a Teoria da Relatividade”, exemplifica.
Por essa razão, considera
a hipótese da inteligência artificial mais viável.
“Daqui a 5 ou 10 anos, vou
salvar minha memória e implantá-la num robô.
E vou viver eternamente”, prevê.
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UM DOS EQUIPAMENTOS
UTILIZADOS PARA PRESERVAR OS CADÁVERES (FOTO: DIVULGAÇÃO)
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O primeiro caso de criogenia
de que se tem notícia é o de James Bedford.
Professor de Psicologia da
Universidade da Califórnia, morreu, em 12 de janeiro de 1967, aos 73 anos,
vítima de câncer nos rins.
Desde então, seu corpo já peregrinou por cinco
diferentes laboratórios até chegar, em 1982, ao Alcor, onde permanece até hoje.
Outros casos famosos são: o astro do beisebol Ted Williams (1918-2002), o
físico Robert Ettinger, o “pai” da criogenia (1918-2011), e o programador Hal
Finney, o pioneiro em bitcoin (1956-2014).
Arriscado ou não, já tem
brasileiro na fila do Cryonics Institute.
É o filósofo e antropólogo Diego
Caleiro, de 32 anos.
“Compreendo que só há sobreviventes entre os inscritos.
É
um barco salva-vidas com chances baixas de sucesso, mas é melhor que o fundo do
oceano”, explica Caleiro, que nasceu em São Paulo e hoje mora em São Francisco,
na Califórnia.
Ele acredita que, daqui a 300 anos, se a espécie humana não
tiver se autodestruído, a criogenia será uma tecnologia tão simples como um
exame de raios-X.
“Todo mundo vai ter 200 anos com corpinho de 25.
E eu que não
vou ficar de fora da aventura!”, brinca.
post: Marcelo Ferla
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