Em fevereiro de 1968, a
escritora Marguerite Yourcenar (1903-1987) enviou uma carta a Brigitte Bardot.
Ambas viviam o auge da fama.
Marguerite havia publicado mais de uma dezena de
livros, incluindo a obra-prima “Memórias de Adriano”, de 1951.
Brigitte já
estrelara quase trinta filmes, entre eles “E Deus criou a mulher” (1956), “O
Desprezo” (1963) e “Eu sou o amor” (1967).
Na carta, a belga que anos depois
seria a primeira mulher na Academia Francesa, pedia à atriz que usasse sua notoriedade
mundial para combater o massacre das focas, persuadindo mulheres a abandonarem
roupas de pele.
“Eu me dedicaria a isso nove anos depois, sem saber que alguém
no mundo já havia pensado em mim para conduzir essa batalha”, afirma Brigitte
em “Lágrimas de Combate” (Editora Globo).
“Por ironia do destino, só vim
receber a carta muito tempo depois”.
Foi por um programa de
televisão que a atriz soube da crueldade do abate de focas para a indústria da
moda.
Pouco depois, em uma foto tirada em 1977 sobre uma geleira ártica no
Canadá, Brigitte Bardot aparecia com um bebê foca no colo.
A imagem estampou a
capa da revista “Paris Match”, correu o mundo e se tornou um dos mais poderosos
símbolos da luta pelo fim da matança — àquela época estimada em até 300 mil
focas por ano.
Ter passado alguns minutos em contato corpo a corpo com o bebê
foca marcou profundamente a vida da atriz.
“Prometi a mim mesma que passaria
minha existência tentando salvar a deles”.
Dez anos depois, o governo do Canadá
finalmente proibiu a caça dos blanchons, os bebês foca.
A primeira batalha
estava ganha, mas o combate mal começara.
Já afastada das telas, Bardot se
dedicaria ao que chama de “sacerdócio” como defensora dos animais.
“Minha ideia
era criar uma associação para ter credibilidade e o reconhecimento que eu
esperava sobre a condição animal”.
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DA PIN UP AOS
MANIFESTOS O livro, a sensualidade juvenil (abaixo) e durante protesto (fim da
reportagem)
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“Prometi a mim mesma que
passaria minha existência tentando salvar a deles” Brigitte Bardot, atriz,
sobre sua missão de defender a vida selvagem
Vestido de noiva
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Luta contra a
crueldade (Crédito:Divulgação)
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Nascia ali a Fundação
Brigitte Bardot, financiada com a venda de objetos da atriz em uma barraca no
mercado de Saint-Tropez, cidade que ela ajudou a celebrizar tanto quanto Búzios
(RJ), por onde ela passou como um furacão.
Como o dinheiro inicial foi
insuficiente, Brigitte levou a leilão o que possuía de mais valioso: o primeiro
violão, as joias que ganhou do empresário alemão Gunther Sachs (com quem fora
casada nos anos 1960) e até o vestido de noiva com o qual subiu ao altar com o
cineasta Roger Vadim.
“Nunca me dou conta de que sou a base desse organismo de
uma centena de funcionários em Paris e de seus milhares de doadores,
representantes e pesquisadores voluntários em toda a França”, afirma,
dizendo-se ainda hoje hipnotizada pelo tamanho que a fundação ganhou ao longo
do tempo.
A FBB mantém um parque para acolher ursos maltratados na Bulgária,
além de hospitais veterinários no Chile, na Austrália, na Tailândia e na
Tunísia.
Entre as atividades mais famosas que a Fundação apoiou está o
financiamento de duas missões encabeçadas pela ONG ativista Sea Shepherd na
Dinamarca, em 2010 e 2014, para lutar contra o massacre de baleias.
Desde 2011,
a embarcação Brigitte Bardot é usada pela ONG em suas investidas.
É mais uma
arma da cruzada animal que tem como musa uma das mais belas criaturas que a
natureza criou.
post: Marcelo Ferla
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