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quinta-feira, 21 de junho de 2018
A comovente gravação que mostra o sofrimento das crianças separadas da família pela Imigração nos EUA
A
comovente gravação que mostra o sofrimento das crianças separadas da família
pela Imigração nos EUA
São quase oito minutos de
áudio com choro e súplicas de crianças.
O site Propublica divulgou
uma gravação em que é possível ouvir o sofrimento de meninos e meninas
imigrantes da América Central, separados de seus pais após tentarem entrar
ilegalmente nos Estados Unidos.
A gravação foi feita em um
centro de detenção da Patrulha de Fronteira americana, na fronteira do país com
o México.
Nela, as crianças não param
de chorar e gritam, de forma inconsolável, "mamãe" e
"papai".
"Eu não quero que
detenham o meu pai.
Não quero que deportem ele", diz uma delas, em
espanhol, chorando.
Também em espanhol, um
agente da fronteira faz piada diante da lamentação generalizada.
Ele diz:
"Bom, nós temos uma orquestra aqui.
Faltava o maestro".
Outro homem grita, ao fundo, para que "não chorem!".
Criança em centro de
detenção de imigrantes na cidade fronteiriça de McAllen, no Texas (EUA):
Milhares teriam sido separadas dos pais desde abril ao tentarem entrar
ilegalmente nos Estados Unidos
Em seguida, são ouvidas
vozes de funcionários consulares, trocando informações sobre "número de
identificação" de alguém, perguntando de onde as crianças são, onde estão
seus pais e se era com eles que estavam viajando.
As crianças que respondem
são da Guatemala e de El Salvador.
Uma delas é Alison Jimena
Valencia Madrid, uma menina de seis anos de idade, de El Salvador, que
protagoniza boa parte da gravação.
Separada da mãe na semana
passada, ela implora para que alguém ligue para sua tia, cujo número de telefone
afirma saber de cor.
"Eu posso ir pelo menos
com a minha tia? Quero que ela venha...", diz a menina.
"Quero que a
minha tia venha.
Ela pode me levar para a casa dela."
Um homem afirma que alguém
vai ajudá-la a fazer a ligação, se ela tiver o número.
No áudio é possível ouvir os
agentes falando em distribuir comida no local.
A menina então insiste sobre a
ligação, perguntando se depois de comer podem chamar a tia para buscá-la.
"Eu tenho o número de
cabeça", afirma Alison.
"Você vai ligar para minha tia vir me buscar?
(...) Minha mãe disse para eu ir com a minha tia e que ela vai me buscar lá
(com a tia) o mais rápido possível", reforça, ainda chorando e em meio a
vozes de outras crianças gritando, aos prantos, "papai" e "meu papai".
"Não chore.
Olhe, ela
vai explicar a você e vai lhe ajudar", diz o agente à menina em
determinado momento da gravação, referindo-se à representante do consulado.
No final do áudio, uma
oficial consular se oferece para ligar para a tia dela.
'Por favor, me tire daqui'
A Propublica, que se
descreve como uma redação independente, com sede em Nova York, que produz
jornalismo investigativo de interesse público conseguiu falar com a mulher
depois.
"Foi o momento mais
difícil da minha vida", disse ela.
"Imagine receber um telefonema da
sua sobrinha de seis anos.
Ela está chorando e me implorando para ir buscá-la.
Ela disse:
'Eu prometo que vou me comportar, mas, por favor, me tire daqui,
estou completamente sozinha'."
Meninos imigrantes em
centro de detenção: Relatos apontam que alguns chegam a ficar separados dos
pais por semanas e até meses
A tia, no entanto, afirmou,
"com dor", que não podia fazer nada pela menina.
A mulher emigrou há
dois anos com a filha pequena, fugindo da violência em El Salvador, em busca de
asilo nos Estados Unidos.
Agora, tem medo de se colocar em situação de risco
com a filha, ao tentar ajudar a sobrinha.
Ela disse que se mantém em
contato com a criança, que foi transferida das instalações da Patrulha da
Fronteira para um abrigo com camas.
E que também pôde falar com a irmã, que foi
levada para um centro de detenção de imigrantes perto de Port Isabel, no Texas.
Mãe e filha, no entanto, não
puderam se comunicar.
Segundo a Propublica, o
áudio foi gravado na semana passada dentro de um centro de detenção da Patrulha
de Fronteira.
A pessoa que fez a gravação,
que pediu para não ser identificada por medo de represálias, diz que
"ouviu os gritos e o choro das crianças e ficou arrasada".
Essa pessoa estimou que as
crianças teriam entre quatro e dez anos de idade.
Ponderou, ainda, que os
funcionários do consulado tentavam tranquilizá-las conversando com elas e lhes
dando comida e brinquedos, mas que as crianças não conseguiam se acalmar.
Por que as crianças estão
sendo separadas de seus pais?
As crianças estão sendo
separadas dos pais na fronteira entre os EUA e o México como resultado da
política "tolerância zero" introduzida em maio pelo procurador-geral
dos Estados Unidos, Jeff Sessions, e alvo crescente de críticas.
Essa política prevê que
adultos que tentam atravessar a fronteira - muitos deles planejando pedir asilo
- sejam colocados sob custódia e que enfrentem processos criminais por entrada
ilegal no país.
Como resultado, quase 2 mil
crianças foram separadas de seus pais depois de cruzarem ilegalmente a
fronteira, de acordo com balanço divulgado na última sexta-feira.
Elas ficam abrigadas em
centros de detenção, mantidas longe de seus pais.
O procurador-geral
dos Estados Unidos, Jeff Sessions, afirma que quem entrar nos EUA de forma
irregular será processado criminalmente
Mudança
Sessions afirmou que aqueles
que entrarem nos EUA de forma irregular serão processados criminalmente.
Até então,
pessoas detidas tentando entrar ilegalmente no país eram acusadas de crimes de
menor potencial ofensivo.
Os adultos processados são
separados dos filhos que viajam com eles - estes, passam a ser considerados
menores desacompanhados.
Defensores da medida apontam
que centenas de crianças são retiradas de pais que cometem crimes nos EUA
diariamente.
Como tal, elas são colocadas
sob custódia do Departamento de Saúde e Serviços Humanos e enviadas para um
parente, lar adotivo ou um abrigo - os funcionários desses locais já estão com
falta de espaço para abrigá-los.
Abrigos
Recentemente, uma antiga
loja do Walmart no Texas foi transformada em centro de detenção para as
crianças imigrantes.
Autoridades também
anunciaram planos de erguer acampamentos para abrigar outras centenas delas no
deserto do Texas, onde as temperaturas normalmente alcançam 40 graus.
O legislador local, José
Rodriguez, descreveu o plano como "totalmente desumano" e
"ultrajante".
"(É um plano que) Deve ser condenado por qualquer
um que tenha um senso moral de responsabilidade", disse ele.
Autoridades da Alfândega e
Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP, da sigla em inglês) estimam que cerca de
1,5 mil pessoas são presas por dia por cruzarem ilegalmente a fronteira.
Nas duas primeiras semanas
de "tolerância zero", 658 menores - incluindo muitos bebês e crianças
pequenas - foram separadas dos adultos que as acompanhavam, de acordo com o
CBP.
Relatos apontam, no entanto,
que mais de 700 famílias foram afetadas entre outubro e abril.
Em muitos dos casos, as
famílias já foram reunidas, após os pais serem libertados da detenção.
No
entanto, há casos em que a separação teria durado semanas e até meses.
Trump
Trump culpou os democratas
pela política, dizendo que "temos que separar as famílias" por causa
de uma lei que "os democratas nos deram".
Não está claro, porém, a que
lei ele se refere, pois não há lei aprovada pelo Congresso dos EUA que
determine que as famílias migrantes sejam separadas.
Verificadores de fatos dizem
que a única coisa que mudou foi a decisão do Departamento de Justiça americano
de processar criminalmente os pais pela primeira vez ao cruzar a fronteira.
Como seus filhos não são acusados de
um crime, eles não
podem ser presos junto com eles.
O repúdio das primeiras
damas
A polêmica sobre a política
de imigração "tolerância zero" de Donald Trump só aumentou nos
últimos dias, especialmente depois que foram conhecidas as condições em que se
encontram muitas das mais de 2 mil crianças separadas de seus pais desde abril.
Imagen de imigrantes
dentro de uma grande jaula, em centro de detenção, foi publicada por
autoridades. Jornalistas afirmam terem visto crianças que chegaram
desacompanhadas em condições semelhantes
Nas instalações onde estão
detidas, existem grandes jaulas que, além de abrigar imigrantes adultos, seriam
também destinadas a crianças cujos pais tentaram atravessar ilegalmente a
fronteira sul com os Estados Unidos.
A medida levou a
primeira-dama Melania Trump a romper seu habitual silêncio, no domingo, para
criticar a situação.
Por meio de uma porta-voz,
ela disse que "odeia ver crianças separadas de suas famílias" e que
espera que Republicanos e Democratas "finalmente" trabalhem juntos
para alcançar uma reforma imigratória bem-sucedida.
"Ela (Melania) acredita
que precisamos ser um país que segue todas as leis, mas também um país que
governa com o coração", acrescentou a porta-voz.
Na segunda-feira,
ex-primeiras-damas de governos democratas e republicanos também comentaram a
questão, em repúdio público à política que Trump vem adotando na fronteira.
"Eu vivo em um estado
fronteiriço.
Entendo a necessidade de reforçar e proteger nossas fronteiras
internacionais, mas essa política de tolerância zero é cruel.
É imoral.
E me
parte o coração", escreveu a republicana Laura Bush em um artigo no The
Washington Post e no Twitter.
Michelle Obama compartilhou
o post em seu perfil no Twitter e escreveu junto à mensagem:
"Às vezes, a
verdade transcende os partidos".
Hillary Clinton, por sua
vez, condenou a administração Trump pela medida e avaliou a situação como
"uma afronta aos nossos valores".
Ela acrescentou, também no
Twitter:
"O que está acontecendo a essas famílias na fronteira é uma crise
humanitária.
Todos os pais que já carregaram um filho em seus braços, todo ser
humano com senso de compaixão e decência, devem ficar indignados".
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