Hildegard
Angel: Minha mãe foi morta por ordem de Geisel
do Jornal do Brasil
por Octávio Costa
Filha da estilista Zuzu
Angel, morta no governo Geisel, em 1976, a colunista Hildegard Angel não ficou
surpresa com as revelações do memorando da CIA.
Segundo ela, o gabinete de
Geisel encomendou o atentado contra sua mãe, na saída do túnel Dois Irmãos, em
São Conrado.
O caso de sua mãe está mais do que esclarecido.
Não foi um
acidente mal esclarecido.
Qual a sua reação diante do
documento da CIA que revela a participação do general Geisel nas execuções
durante a ditadura militar?
Vi como uma predestinação.
Aqui no Brasil queimaram toda a documentação.
Houve queima de arquivos.
Fizemos
um pacto sinistro.
Houve um corporativismo fechado, uma blindagem da história
brasileira.
Mas havia um documento lá na sede do grande irmão.
Eles não
contavam com isso.
Você ficou surpresa com os
fatos agora revelados?
Para mim não foi uma
revelação.
Quando o Claúdio Guerra, que foi delegado do DOPS, escreveu seu
livro sobre a repressão, ele mencionou o caso de minha mãe (a estilista Zuzu
Angel) e disse que o coronel Freddie Perdigão foi o organizador da emboscada
encomendada que matou a minha mãe em 1976.
Foi encomendada a ele diretamente pelo gabinete do Geisel.
A Comissão da
Verdade recorreu ao livro do agente do Dops e ele mencionou que havia foto do Perdigão no local do crime, na
saída do túnel Dois Irmãos (hoje Zuzu Angel), em São Conrado.
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A estilista Zuzu
Angel, mãe de Hildegard
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Qual foi a conclusão das
investigações?
O caso de mamãe foi
investigado desde a Comissão dos Mortos e Desaparecidos até a Comissão Nacional
da Verdade.
As três comissões fizeram investigações, ouviram testemunhas e
peritos, e concluíram que minha mãe foi vítima de uma emboscada por agentes do
governo.
O ex-ministro da Justiça Miguel
Reale conversou com duas testemunhas.
Mas até hoje tem gente bem informada que
atribui a morte de mamãe a um acidente mal esclarecido.
Nunca um caso foi tão
esclarecido.
Esse é um cacoete nacional.
Precisamos nos convencer da
monstruosidade da ditadura brasileira.
Por isso, ainda vemos jornalistas
importantes escrevendo que houve um acidente mal esclarecido.
Quando mal
esclarecidos estamos nós.
A Comissão Nacional da
Verdade reconheceu o crime do Estado contra Zuzu Angel?
Nossa família recebeu R$ 80
mil de indenização.
E a comissão endossou o depoimento do Cláudio Guerra.
Portanto, o Estado reconheceu
que o gabinete de Geisel chancelou o atentado.
Mas temos muita dificuldade de
aceitar que vivemos isso.
Talvez exatamente por isso estejamos vivendo esse
momento em que se tenta qualificar a ditadura militar.
Tentam justificar a
ruptura democrática, seja na política, seja pelo Judiciário.
Você pretende reabrir o caso
de sua mãe?
Vou primeiro ouvir o Nilo
Batista, que ajudou na reconstituição da tortura e morte de meu irmão Stuart
Angel, ouvir o Pedro Dallari, que ajudou
no caso de minha mãe, e outras pessoas que possam me aconselhar. como o
ex-deputado Nilmário Miranda.
Depois tomarei a decisão.
post: Marcelo Ferla
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