Relatório
da CIA: Geisel manteve e centralizou 'política de execução sumária de
subversivos' de Médici
Redação | São Paulo
Documento de 1974 foi
endereçado ao secretário de Estado norte-americano, Henry Kissinger; segundo
militares, assassinatos de 'subversivos perigosos' deveriam ter continuidade
O ex-presidente do Brasil
Ernesto Geisel, que governou o país entre 1974 e 1979, autorizou que o Centro
de Inteligência do Exército (CIE) desse continuidade à "política de
execuções sumárias" adotadas durante o governo de Emílio Garrastazu
Médici, centralizando a coordenação das ações no Palácio do Planalto, via
Serviço Nacional de Informações (SNI).
A informação foi divulgada em um
memorando da CIA recentemente tornado público.
O
relatório, enviado em abril de 1974 por William Egan Colbim, diretor da CIA
entre 1973 e 1976, para o então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger,
descreve o encontro entre Geisel, que havia acabado de assumir a presidência
(em 15.mar.1974), os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de
Paula Avelino – respectivamente o ex-chefe e o novo chefe do CIE–, e o general
João Baptista Figueiredo, então chefe do SNI, que mais tarde também se tornaria
presidente.
Durante a reunião, segundo o
memorando, o general Milton expôs o trabalho feito pelo CIE durante o governo
Médici, destacando os métodos adotados para conter o que chamou de “ameaça
subversiva”, em referência aos grupos de resistência política que atuaram no
Brasil durante a ditadura militar.
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Geisel e Figueiredo, em 1974: então
presidente continuou política de execução sumária
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O grupo informa que cerca de
104 pessoas consideradas subversivas haviam sido executadas sumariamente pelo
CIE durante o último ano de administração Médici. Milton e Figueiredo advertem
a Geisel que essa política “deve ter continuidade” e pedem sua permissão.
Segundo o documento, Geisel afirma que a medida possuía “aspectos
potencialmente prejudiciais” e pede um fim de semana para refletir.
Em 1º de abril, Geisel
concede permissão para continuar com as execuções, mas pediu que “apenas
subversivos perigosos" fossem mortos.
Além disso, Geisel afirmou que os
assassinatos só deveriam ocorrer após Figueiredo aprovar as execuções.
"De tudo o que já vi, é
a evidência mais direta do envolvimento da cúpula do regime (Médici, Geisel e
Figueiredo) com a política de assassinatos.
Colegas que sabem mais do que eu
sobre o tema, é isso?
E a pergunta que fica: quem era o informante da
CIA?", questiona Spektor. "Este é o documento secreto mais
perturbador que já li em vinte anos de pesquisa."
Em nota, o Exército disse que documentos secretos no Brasil
referentes à época foram destruídos, "de acordo com as normas
vigentes".
O memorando completo pode ser visto, em inglês, no site do
Departamento de Estado dos EUA.
Abaixo, a tradução para o português:
Memorando do diretor da
Agência Central de Inteligência Colby para o secretário de Estado Kissinger
Washington, 11 de abril de
1974.
Assunto: Decisão do
presidente brasileiro Ernesto Geisel de continuar a execução sumária de
subversivos perigosos sob certas condições
1. [1 parágrafo (7 linhas)
não desclassificado]
2. Em 30 de março de 1974,
reuniu-se presidente do Brasil, Ernesto Geisel, com o general Milton Tavares de
Souza (chamado de general Milton) e o general Confúcio Danton de Paula Avelino,
respectivamente o chefe que sai e o que entra do Centro de Informações do
Exército (CIE).
Também esteve presente o general João Baptista Figueiredo,
chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI).
3. O general Milton, que
falou durante a maior parte do tempo, detalhou o trabalho da CIE contra os
alvos subversivos internos durante a administração do ex-presidente Emilio
Garrastazu Médici. Ele ressaltou que o Brasil não pode ignorar a ameaça
subversiva e terrorista, e que os métodos extralegais devem continuar sendo
usados contra subversivos perigosos. A este respeito, o general Milton disse
que cerca de 104 pessoas nesta categoria foram sumariamente executadas pelo CIE
durante o ano passado, ou pouco antes. Figueiredo apoiou essa política e
insistiu em sua continuidade.
4. O presidente, que
comentou sobre a seriedade e os aspectos potencialmente prejudiciais desta
política, disse que queria refletir sobre o assunto durante o fim de semana
antes de chegar a qualquer decisão sobre sua continuidade. Em 1º de abril, o
presidente Geisel disse ao general Figueiredo que a política deveria continuar,
mas que muito cuidado deveria ser tomado para assegurar que apenas subversivos
perigosos fossem executados.
O presidente e o general Figueiredo concordaram
que quando o CIE prender uma pessoa que possa se enquadrar nessa categoria, o
chefe do CIE consultará o general Figueiredo, cuja aprovação deve ser dada
antes que a pessoa seja executada. O presidente e o general Figueiredo também
concordaram que o CIE deve dedicar quase todo o seu esforço à subversão
interna, e que o esforço geral do CIE será coordenado pelo General Figueiredo.
5. [1 parágrafo (12½ linhas)
não desclassificado]
6. Uma cópia deste memorando
será disponibilizada ao Secretário de Estado Adjunto para Assuntos
Interamericanos. [1½ linha não desclassificada]. Nenhuma distribuição adicional
está sendo feita.
post: Marcelo Ferla
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