SOBRE A DIFICULDADE DE
PRESENTEAR UMA MENINA QUE GOSTA DE HEROÍNAS
Entro na enorme loja de
brinquedos e sou abordado por uma vendedora.
— Oi, posso ajudar?
— Oi. Tô procurando um
presente pra uma menininha de quatro anos. Ela gosta de jogo da memória, quebra-cabeças
e Mulher Maravilha. Se desse pra unir tudo, seria perfeito.
— Por aqui, senhor.
Ela me guia até um corredor
lateral.
— Olha, pra essa idade tenho
esse aqui, do Frozen.
— Mas ela gosta de Mulher
Maravilha...
— Tem esses da Disney
também, ela não gosta?
— A mãe dela foi bem
específica: ela gosta da Mulher Maravilha.
— De herói, eu tenho esses
aqui, senhor.
Olho para a prateleira.
Alguns quebra-cabeças dos Vingadores, tanto em bando quanto de heróis
individuais: Hulk,Thor, Capitão América e Homem de Ferro, alguns do Batman, do
Super-Homem, do Homem Aranha.
Nenhuma mulher.
Aí vejo, num canto, um belo
quebra-cabeças da Liga da Justiça com todos os heróis, incluindo a Mulher
Maravilha.
— Tem esse! — comemoro — Ah,
mas esse é de 500 peças, eu queria algo mais lúdico... Vou procurar noutra
loja, tá?
Entro em outra loja e o
contexto e o diálogo são idênticos, com a diferença de que lá a vendedora me
ofereceu um produto da Lady Bug depois que eu recusei as princesas.
Acabo
achando, enfim, um quebra-cabeças de 60 peças do filme da Liga da Justiça, com
a Gal Gadot paramentada ao lado de cinco colegas homens.
Precisamos de heroínas.
De
filmes, quadrinhos, brinquedos, games, roupas de heroínas.
Se os manda-chuvas
da indústria cultural não se sensibilizam com ideais vagos como
"representatividade" e "igualdade", que meditem uns
instantes sobre a fortuna que estão perdendo ao excluir (ou pelo menos
desencorajar bastante) do consumo de super-heróis metade da população.
post: Marcelo Ferla
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