Turismo de guerra: Londres
relembra aniversário de bombardeios da II Guerra.
Turistas
podem conhecer um pouco da história da Blitz, período de oito meses em que a
Alemanha nazista bombardeou a Grã-Bretanha.
Por:
Katie Engelhart, The New York Times.
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No
Museu da Força Aérea Real, visitantes podem entrar em um Spitfire, o avião
pilotado pelos pilotos que enfrentaram a Luftwaffe.
Foto:
Andy Haslam/The New York Times / NYTNS.
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Começando no outono
europeu de 1940, os pilotos da Luftwaffe alemã bombardearam Londres por 57
noites consecutivas.
Foi no dia 7 de setembro que 348 bombardeiros alemães e
617 caças Messerschmitt apareceram nos céus da capital britânica e começaram a
atacar a cidade com explosivos.
Nos meses que se seguiram,
um grande número de londrinos horrorizados fugiu para a zona rural, mas muitos
ficaram na cidade, enfrentando os ataques aéreos que destruíram grandes áreas e
mataram 20 mil habitantes.
Quando os abrigos de bomba ficavam lotados, milhares
de pessoas passaram a se abrigar nas estações de metrô, dormindo nas
plataformas de concreto, amontoados como sardinhas.
Neste mês de setembro é o
75º aniversário da Blitz (do alemão Blitzkrieg, ou "guerra
relâmpago"), o período de oito meses em que a Alemanha nazista bombardeou
a Grã-Bretanha.
Agora, a indústria do turismo de Londres vai celebrar esse
período em que a capital viveu sob ataque.
Hoje já existem vários
passeios a pé ligados à Blitz.
Em um domingo recente, várias dezenas de
turistas se reuniram perto do Rio Tâmisa para o tour "Westminster em
Guerra" (London Walks, 10 libras; www.walks.com), liderado por de
cavalheiro de óculos que fazia as vezes de guia, pedindo com seriedade aos
participantes para que "não se distraíssem", pois havia muito a ser
visto.
O grupo seguiu em direção
a Leicester Square, onde, em 1940, alguns londrinos mais abastados ignoravam as
sirenes de ataque aéreo e passavam as noites dançando no Café de Paris (até que
este também fosse atingido pela Blitz, destruído por uma bomba de 50 kg em
março de 1941).
Outra parada trouxe o grupo ao Hotel Savoy, onde alguns
funcionários haviam sido demitidos no início da guerra porque eram italianos.
— Toda esta área foi reconstruída
na década de 60, quando não tínhamos dinheiro nem gosto — explicou o guia.
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Prédios
modernos construídos em áreas bombardeadas durante a II Guerra. Fotos: Andy
Haslam, The New York Times.
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Várias exposições recentes
mostram como inúmeros cidadãos britânicos vivenciaram a Blitz.
No Museu da
Força Aérea Real, visitantes podem entrar em um Spitfire, o avião pilotado
pelos pilotos que enfrentaram a Luftwaffe (4 libras; www.rafmuseum.org.uk).
Uma exposição muito
popular, que acabou em 31 de agosto, foi realizada no Museu Imperial da Guerra,
deliciosamente intitulada Fashion on the Ration (moda durante o racionamento).
Os objetos em exposição incluíam bolsas com um compartimento interno para
máscaras de gás distribuídas pelo governo e cartazes que pediam que as mulheres
cuidassem de sua aparência durante os ataques aéreos para que seu ar meio caído
não minasse a moral dos homens.
Sabe-se que a guerra
inspirou alguns dos maiores discursos do primeiro-ministro Winston Churchill,
mas também solidificou seu legado de elegância.
Uma imagem em exposição no
museu de guerra mostrou o encontro dele com o General Dwight D. Eisenhower,
vestido, surpreendentemente, com o que hoje chamaríamos de macacão, com um
cinto em torno de sua ampla barriga.
Ele popularizou os chamados "trajes
da sirene" – peça única fechada com zíper –, uma roupa prática para o
abrigo antiaéreo.
Se isso despertar a
curiosidade com relação a Churchill, há também as salas do gabinete de guerra,
o bunker fortificado que serviu de quartel general do primeiro-ministro durante
a guerra (18 libras; www.iwm.org.uk).
Mas quem se interessa por
História precisa estar ciente da tendência britânica de recordar a Blitz com
certa nostalgia: não pelas bombas em si, mas pelo "espírito" que
supostamente desenvolveram.
Os guias de Londres estão empenhados em promover a
noção de que um sentimento destemido e igualitário, no estilo "Estamos
todos juntos", dominou esse período – descrição essa que as gerações mais
recentes de historiadores afirmam ser romantizada.
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Vista
aérea atual do East End, uma das áreas mais atingidas pelos bombardeios alemães
na II Guerra. Foto: Andy Haslam, The New York Times.
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Com isso em mente, uma
experiência completa deve incluir uma visita ao East End de Londres, o bairro
industrial onde os bombardeiros alemães dedicaram seus maiores esforços e onde
a ajuda do governo lamentavelmente era falha.
Na verdade, essa região sofreu
tanto que, quando o Palácio de Buckingham foi bombardeado em 13 de setembro, a
Rainha Mãe disse ter ficado contente com o ataque porque queria que o fardo da
Blitz fosse compartilhado.
"Agora podemos encarar o East End", ela
disse.
Hoje, o legado da Blitz é visto em lugares como Wapping e o complexo
Barbican, na ausência de casas vitorianas e nos inúmeros blocos de apartamentos
do pós-guerra em estilo brutalista.
Quando os visitantes se
cansam de andar, podem optar por dançar.
O Bourne & Hollingsworth Group
oferece regularmente a Blitz Party, onde, por 25 libras, os participantes podem
experimentar "as noitadas do tempo da guerra" em um "autêntico
abrigo antiaéreo", com sacos de areia, cortinas blackout, música no ritmo
do swing e cardápio de coquetéis impressos em pequenas cadernetas de
racionamento. (Os locais variam.)
O uso de fantasia é obrigatório e levado a
sério.
Porém, quem vive em
Londres espera que a Blitz permaneça firmemente enterrada no passado.
Em março,
autoridades da cidade encontraram uma bomba da II Guerra que não explodiu em um
centro de esportes no sul da cidade.
Depois que foi desarmada, Lucas Green,
vereador de Southwark, elogiou seus eleitores por sua compostura durante o
incidente:
"Esta área viveu a Blitz e sabe como se cuidar".
post: Marcelo Ferla
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