Especial Hypeness:
trabalhar mais tempo é trabalhar mais? Empresas mostram que não é bem assim.
por
Rafael Thomé
Acordar na segunda-feira
de manhã, depois de um final de semana agradável, e ter que encarar uma semana
inteira de trabalho não é uma ideia que agrada muitos brasileiros.
Garantir as
contas pagas e o sustento do mês é necessário, mas a extensa jornada de 44
horas semanais (oito horas por dia, sem contar a pausa para a refeição) deixa
qualquer um de cabelo em pé.
Por outro lado, as empresas têm suas metas a
cumprir e, justamente por isso, tentam manter seus funcionários motivados e
contentes com o trabalho.
Na Califórnia (EUA), por
exemplo, o CEO da Tower Paddleboards, uma fábrica de pranchas de Stand Up
Paddle, acabou com a jornada de oito horas de trabalho e deu aos funcionários
uma jornada de cinco horas.
Além de dar um “alívio”, a ideia era tentar capitalizar
a satisfação dos empregados e garantir melhor rendimento da empresa.
E não é
que deu certo?
Em um período de teste de três meses, em 2015, o rendimento da
Tower aumentou em 42% e o lucro pouco mais de 30%.
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(Creative
Commons/Flickr)
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Em entrevista ao HuffPost,
o fundador e CEO da Tower, Stephan Aarstol, afirmou que a iniciativa surgiu
depois de uma reflexão sobre o trabalho na sociedade moderna.
De acordo com
Aarstol, a jornada que usamos hoje foi criada durante a Revolução Industrial,
desenvolvida para o trabalho braçal, mas isso mudou e boa parte das pessoas
trabalha em mesas e usa computadores, exigindo mais da mente e menos do corpo.
Para os funcionários da
empresa, a redução da jornada de trabalho para cinco horas proporciona tempo
livre para fazer o que gosta, cuidar da casa e da família e buscar novos
interesses fora do emprego.
Mas um detalhe é fundamental: segundo o CEO,
reduzir a carga horário não significa diminuir o salário dos trabalhadores.
É
preciso continuar o mesmo pagamento – ou até aumentá-lo – para manter o
interesse e a produtividade da equipe.
Jornada menor melhora a
produtividade
Não demorou para os resultados
aparecerem.
Em um ano, houve redução de faltas, aumento da produtividade e melhora
até mesmo na saúde dos empregados.
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Moradores
de Estocolmo, capital da Suécia, têm mais tempo livre para aproveitar a cidade
(Creative Commons/Pixabay).
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Quando a medida foi
anunciada, parte dos empresários suecos temia que a redução da jornada os
obrigasse a contratar mais funcionários, mas o que se viu foi uma melhor
eficiência dos trabalhadores e o consequente aumento das receitas.
Na Espanha, a empresa de
distribuição de gás e geração de energia elétrica Iberdrola escolheu um caminho
um pouco diferente, mas também obteve excelentes resultados.
Desde 2008, a
empresa estabeleceu a chamada ‘jornada de trabalho intensiva’ para seus mais de
9 mil funcionários, com 7 horas diárias e a flexibilidade de 45 minutos para
escolher a hora de entrada e saída.
A experiência deu certo e
é mantida até hoje pela Iberdrola.
Segundo o diretor de recursos humanos da
empresa, em entrevista ao El País, houve melhora na produtividade, redução das
faltas em 20% e dos acidentes de trabalho em 15%.
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A
Torre Iberdrola, em Bilbao (Espanha), é um dos marcos da redução da jornada de
trabalho (Creative Commons/Wikipedia.
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Diminuição do desemprego e
qualidade de vida
Cotidianamente, somos
marcados por um ritmo frenético, que gira em torno do trabalho e do
deslocamento, com horários definidos até para nosso tempo livre – aquele em que
se pode ir ao cinema, jantar em um restaurante ou passear com a família.
Além
do aumento da produtividade e da redução de faltas e casos de doenças entre os
trabalhadores, a diminuição da jornada de trabalho apresenta benefícios para a
sociedade “refém” do tempo.
Todavia, assim que assumiu
a presidência da República, no dia 31 de agosto de 2016, Michel Temer anunciou
a controversa proposta de reforma trabalhista que prevê o aumento da jornada de
trabalho para 48 horas semanais, sendo até 12 horas por dia (hoje, o limite é
44 horas semanais e oito horas diárias), e o contrato por produtividade, entre
outras mudanças.
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(Creative
Commons/Pexels)
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Segundo o presidente, a
medida poderá dinamizar a economia brasileira, mas as experiências de empresas
estrangeiras citadas acima mostram que a redução da jornada de trabalho pode
ser mais benéfica às empresas e aos trabalhadores.
Segundo o órgão, esse é um instrumento importante, principalmente em
momentos de recessão econômico e alta taxa de desemprego (atualmente, está em
cerca de 12%, segundo o IBGE), para “preservar e criar novos empregos de
qualidade e também possibilitar a construção de boas condições de vida, além de
impulsionar a economia e dinamizar o mercado de trabalho”.
A medida também amenizaria
um dos grandes problemas nas maiores cidades do país, o tempo de deslocamento
de casa para o trabalho, que muitas vezes passa de três horas (ida e volta),
mas não é computado como hora-trabalho.
Com uma jornada de oito ou nove horas e
mais de três horas de deslocamento, sobra apenas metade do dia para os
trabalhadores cuidarem da casa, da família e amigos, se dedicaram a seus
hobbies, resolverem burocracias, estudar e dormir.
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(Creative
Commons/Pixabay)
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Quem também se
beneficiaria com a redução da jornada de trabalho são as mães e os pais, que
não precisariam se preocupar em encontrar creches de período integral e
poderiam participar mais ativamente da educação das crianças em fase de
desenvolvimento.
A diminuição da carga
horária dos postos de trabalho no Brasil ainda é raridade, mas algumas empresas
tomaram outras medidas para tentar proporcionar melhor qualidade de vida a seus
empregados.
Há lugares, por exemplo, que permitem que o funcionário escolha um
dia do mês para folgar (além dos finais de semana) ou que liberam os empregados
mais cedo na sexta-feira.
Com redução da jornada ou
não, o desafio das empresas é manter os funcionários descansados, interessados
e dedicados para não só manter, como aumentar a produtividade.
E você, já
encontrou um emprego que respeita sua vida particular?
Deixe o seu comentário
dizendo o que acha desta ideia.
post: Marcelo Ferla
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