11/09 anos depois.
Texto
publicado em 12/09/2010
Tenho 33 anos de idade
como já sabem. Não sou uma pessoa de muitos amigos, já tive muitas pessoas em
torno de mim, mas amigos mesmo é difícil de ter hoje em dia.
Mesmo assim, nos atuais
dias, tenho poucos e bons amigos íntimos, estando dentre estes Paulo Cesar de
Cesar ou PC, um dos maiores especialistas em pés de diabéticos que temos em
nosso país, um cara que realmente admiro por demais. O PC além de ser um médico
extraordinário é surfista, gosta muito de viajar para surfar e para estudar,
que cara que estuda, estuda como se fosse o último dia da vida dele.
Em uma de suas viagens,
acho que a mais importante de sua vida, o PC foi para o Estado de Maryland nos
EUA e ficou lá por seis meses morando na capital Baltimore, a fim de fazer uma
especialização que o tornaria mais tarde o maior especialista em pés de
diabéticos, como já disse.
Certa feita, durante esta
estada, o PC teve a oportunidade de ir à Nova York para assistir um renomado
grupo de cirurgiões de tornozelos e pés em ação e também para fazer um
intercâmbio na área com esta equipe, o que fazia parte da sua especialização.
Ele completou os 06 meses
de especialização e retornou renovado de lá, como acontece com todos nós quando voltamos de uma viagem, mesmo que esta
seja a trabalho.
Ao retornar de viagem nos
reencontramos e ele nos contou muitas coisas de lá, coisas boas, como a vitória
do Baltimore Orioles na final da MLB (Liga Nacional de Baseball) contra o
famoso New York Yankees.
Contou-nos que depois da
vitória, por ser morador de Maryland e estar em Baltimore, e estar naquele
momento em Nova York e a trabalho e estudo entrou, no dia seguinte a vitória no
Hospital de Nova York adentro da cabeça aos pés, fantasiado de torcedor do
Orioles, rindo loucamente da derrota dos Yankees.
O hospital da cidade de
Nova York estava em silêncio, eles odiavam isso. Por fim, nos contou que
somente fizera uma coisa assim por que jamais conheceu um povo tão arrogante e
metido a besta como os nova-iorquinos, sendo estes considerados assim, até
mesmo por outros americanos de outros locais do país.
Só que a arrogância e a
chatice dos nova-iorquinos se transformaria em fragilidade deste povo que
estava prestes a ser exposta para o mundo todo a exatos nove anos atrás.
Recordo-me como se fosse
hoje, que no dia 11 de setembro de 2001, por algum motivo que não me recordo no
momento, não tive aula na faculdade.
Acordei para tomar meu café da manhã e minha insulina, eram
aproximadamente 09h00min da manhã.
Tenho o costume de sempre
ligar a televisão quando tomo café. Eis que de repente, com aquela trilha
conhecida de todos nós, que na maior parte das vezes trás consigo péssimas
notícias, a programação infantil da Globo á época é interrompida pelo plantão
da Rede Globo com imagens do Pentágono em chamas e da queda de uma das torres,
tudo narrado pela voz de Carlos Nascimento.
Pensei comigo: “Meu Deus
do céu, preciso contar e chamar todos, não acredito nisto, que coisa mais
louca.
O que diabos é isso?” Logo
chamei minha Mãe e meu Pai, expliquei com terror e euforia o que estava
acontecendo, com o pouco de informação que tinha. Parecia tudo aquilo um filme,
mas eu sabia que era real e essa sensação era muito estranha.
Depois de muitas
informações desencontradas, de muitos apertar de botões no controle remoto, as
coisas começaram a ser esclarecidas, passei o dia enfrente a televisão, o que
acabei fazendo por uma semana inteira, dia e noite, a fim de tentar entender
tudo aquilo.
Nunca tinha visto algo
como aquilo, só me recordava de algo parecido em minha vida em dois momentos.
O
primeiro quando da invasão do Kuwait pelo Iraque, na famosa “Crise no Golfo”.
Recordo que a todo o momento, narradas pela dupla William Bonner e Sérgio
Chapelin, imagens ao vivo de bombardeios incessantes dos americanos ocorrendo
em Bagdá eram mostrados.
Também tínhamos a voz de Fátima Bernardes, Ernesto
Paglia, dentre outros, todos cobrindo o ocorrido, enquanto a televisão mostrava
os pontos verdes claros das baterias antiaéreas iraquianas e as explosões
gigantescas no centro de Bagdá.
Nunca tinha visto uma
guerra ao vivo, somente lido sobre elas.
O segundo ocorreu no
primeiro domingo e dia do mês de maio de 1994, mês de meu aniversário.
Enquanto almoçava vendo o
grande prêmio de Ímola, presenciei, mais uma vez, um acontecimento impossível
de se imaginar até então, uma forte batida de um carro da equipe Williams, o
melhor carro guiado pelo melhor piloto, Ayrton Senna. Imediatamente todos vêm
que a coisa era feia. A corrida narrada pela voz de Galvão Bueno dava a
impressão de ter parado, só se falava no ocorrido.
A partir daí e depois,
aconteceu o pior. Na voz de Roberto Cabrini a notícia de que nosso herói tinha
morrido acabou com nossa felicidade dominical.
Mas presenciaria mais uma
coisa extraordinária, sem precedentes. Voltado a 11 de setembro de 2001,
lembram? Lá estava eu em frente a televisão, tentando, como todo o mundo
entender o que havia ocorrido e o que passei a ver naquelas imagens e a
descobrir depois, incrédulo, foi o que todos já sabem:
Dezenove seqüestradores
assumiram o controle de quatro aviões comerciais em rota para São Francisco e
Los Angeles, partindo estes de Boston, Newark e Washington, D.C. (Aeroporto
Internacional Washington Dulles).
Às 8h46min, o Vôo 11 da
American Airlines atingiu a Torre Norte do World Trade Center, seguido pelo Vôo
175 da United Airlines que atingiu a Torre Sul às 09h03.
Outro grupo de
seqüestradores do Vôo 77 da American Airlines atingiu o Pentágono às 09h37min.
Um quarto vôo, o Vôo 93 da United Airlines caiu em uma área rural perto de Shanksville,
Pensilvânia às 10h03min, depois de os passageiros, de forma heróica terem
tentado retomar o controle do avião dos seqüestradores. Acredita-se que a meta
final dos seqüestradores seria o Capitólio (sede do Congresso dos Estados
Unidos) ou a Casa Branca.
Era a coisa mais pavorosa
e horripilante que já tinha visto em minha vida, parecia um filme de ação com
Bruce Willis, em que terroristas europeus seqüestram aviões e fazem chantagens
com o personagem do ator, muitos efeitos especiais ou algo do tipo.
Mas com o passar dos dias,
vendo e revendo incessantemente as imagens que rodavam pelos canais de
televisão, e tendo debates fervorosos em casa com meu Pai, comecei a me deparar
com algo que não fechava com o que meu amigo PC havia me dito. Os nova-iorquinos
não estavam demonstrando ser arrogantes e insuportáveis, como havia dito meu
amigo PC a um tempo atrás, estavam sim, completamente perplexos com o que
estava acontecendo, estavam em pânico, apavorados, aquilo era o juízo final em
sua própria terra, achavam eles que todos, sem exceção iriam morrer naquele dia
ou nos próximos.
As imagens não tinham como
negar isso, eu via pessoas que choravam, gritavam, tentavam fazer ligações de
seus celulares através de um sistema de telefonia em pane, caminhavam de um
lado para o outro, olhavam para cima sem saber o que se passava ao mesmo tempo
em que olhavam os telões da Brodaway anunciarem as primeiras informações sobre
o ocorrido.
Queriam saber se seus
entes, amigos, conhecidos, estavam bem, estando eles ali ou não, pois não
sabiam àquela altura se aquilo tudo estava ocorrendo somente naquela parte do
país. Bombeiros e policiais corriam por todos os lados se debatendo como peixes
se afogando, queriam as pessoas longe do local, o barulho era ensurdecedor,
caminhões de bombeiros e ambulâncias, bem como viaturas policiais, ecoavam suas
sirenes por todos os lados como se fossem as trombetas dos anjos anunciando o
fim dos tempos. Era o quadro do terror, de um povo assustado, em pânico,
apavorado, incrédulo, chocado e com um medo sem fim.
Na verdade o povo
americano nada tinha haver com aquilo, nunca teve. Mas pagou o preço alto de
atos políticos. A questão era eminentemente política, militar, questão de
poder, vaidade, politicagem.
Quanto aos efeitos do
acontecimento, estes foram imediatos, começando pelos números, sempre
alarmantes, que depois de um tempo, passaram a retratar com eficácia e frieza o
que realmente havia ocorrido naquela manhã fatídica, e disso não há como
escapar.
Ivan Sant’anna, em seu
livro “Plano de Ataque – A Historia dos vôos de 11 de setembro”, em sua página
19 assim relata: “... no momento em que escrevo este parágrafo, por exemplo,
são 481 milhões de sites sobre o assunto. Sim, Quatrocentos e oitenta e um
milhões! Se alguém conseguir estudar vinte por dia, levará 65.890 anos para
concluir sua pesquisa.”
Muitas foram às
informações destorcidas sobre o antes, o durante e principalmente sobre o
depois do evento catastrófico do 11/09. Muitas teorias conspiratórias surgiram,
das mais absurdas a algumas até interessantes e que merecem uma análise.
Dentre as absurdas, coisas
como o ataque ter sido provocado pelo próprio governo americano que possuía
interesse no petróleo iraquiano e do Oriente Médio como um todo e que
necessitava urgentemente criar um novo Vietnã, travando uma guerra contra o
Afeganistão, diga-se de passagem o primeiro país atacado pós 11 de setembro,
para financiar outra guerra, ganhando muito dinheiro com isso, como reza a
tradição por lá.
Que as torres foram
implodidas, bem como outros prédios importantes próximos as torres, como o
World Trade Center 07, onde se localizavam a sede da CIA do Centro de Controle
de Desastres de NY, do Departamento de Defesa, do Serviço Secreto. Este prédio
ficava entre as torres. Através de imagens inéditas tem-se a impressão de uma
implosão do prédio, algo planejado, tudo pelo fato deste conter os verdadeiros
planos conspiratórios americanos de toda a sua história, inclusive deste ataque
e blá, blá, blá.
Balela ou não, não sei, o
que me importou foi o lado humano que vi nas imagens da catástrofe, mais uma
vez estava presenciando a fragilidade do ser humano diante de algo dado por ele
mesmo como improvável, mas que no fundo, mesmo que inconscientemente era sabido
que poderia ocorrer por “n” motivos ligados ao todo dos fatos ligados aos
atentados que na verdade foram o resultado.
Mesmo assim, em um
determinado momento dos acontecimentos e análises da maior catástrofe do novo
milênio, até aquele momento ao menos, levantaram-se os mais fortes conceitos
preconceituosos e recheados de rebeldia.
Bem, até aí tudo bem para alguns, como
os políticos, talvez. Aqueles sem rosto que cometeram essa barbárie e aqueles
que os acobertaram, seriam todos responsabilizados imediatamente e
fulminantemente, conforme discurso do atrapalhado cowboy George W. Bush.
Para isto a aprovação em
caráter de urgência do chamado “Ato patriótico”, um conjunto de determinações
de represálias duras em relação ao ocorrido. Detalhe, essas determinações foram
decididas pelo Congresso americano sem a consulta popular.
Daí em diante, mulçumanos
culpados ou não seriam mortos, atire primeiro e pergunte depois, o Afeganistão
seria detonado, destruindo-se assim os responsáveis e aqueles que os ajudaram a
concretizar os atentados.
Mulçumanos, todo sem
exceção, não prestavam mais, podiam estar carregando bombas, dirigindo Vans
recheadas de explosivos ou até pilotar novamente aviões.
Qual seria o próximo
golpe criativo? Ele não poderia acontecer.
Você tem barba longa,
rosto sofrido, vai a mesquitas, tem pele escura do sol e olhos profundos e
negros, então você não entra mais nos EUA e os que já estão lá ou serão
expulsos ou terão suas vidas reviradas incessantemente.
Guantánamo fora criada,
homens presos, torturados, humilhados, ao que parece a histeria coletiva e
principalmente política eram latentes. Retalhar a qualquer custo.
Mas e as pessoas que lá
estiveram? Que viram tudo. Os sobreviventes de dentro e fora das torres? As
pessoas que viram a nuvem de fumaça engolir a elas e a uma cidade inteira? Os
familiares que perderam seus entes queridos, sem sequer achá-los? E os 2.749
mortos na tragédia, contando as tripulações dos vôos? E as ligações de
despedida de dentro do vôo 93 da United? E os traumas, o medo? E as pessoas com
sérios problemas de saúde decorrentes da fumaça, poeira e chamas? E os heróis,
como os 343 bombeiros mortos? E o povo nova-iorquino? E a sensação de estar
pisando em solo lunar ou em um local onde fora detonada uma bomba nuclear? E os
64.000m2 de área destruída? E as vítimas mortas debaixo de mais de 9 metros de
escombros?
Uma guerra não resolve
isso. È algo muito simples de se fazer, simplesmente se vai à televisão, se
dirige ao povo e se diz: “vamos pegar eles.” É necessário muito mais.
O que vi exige muito mais
do que isto, vi o mais frágil dos seres, o ser humano, no alto de seu pensamento
de que é o ser mais superior na escala evolutiva, desabar diante de sua
incredulidade e medo, assim como desabaram as torres. E pior do que isto, saber
que quem fez isto é um ser igual a ele. Por que os nova-iorquinos perguntavam,
“como eles podem fazer isso conosco?”
O mundo não acreditava no
que o seu semelhante podia fazer com um dos seus. Viram como resultado final
três prédios do Complexo do World Trade Center desmoronar devido a uma falha
estrutural no dia do ataque.
A Torre Sul (WTC 2) caiu às 9h59min, após queimar
por 56 minutos em um incêndio causado pelo impacto do Vôo 175 da United
Airlines Flight. A Torre Norte (WTC 1) desmoronou às 10h:28min, após queimar
por aproximadamente 102 minutos.
Estes incêndios queimaram durante horas e comprometeram
a integridade estrutural do edifício, que levou ao colapso total do prédio às
17h21min. Mais uma série de prédios em volta do perímetro das torres foi
atingida e vitimaram pessoas, outros tantos foram dados como comprometidos.
O impacto da nuvem de
detritos dos desmoronamentos, pessoas feridas, jovens, velhos, pessoas com
traumas eternos, que gritam em seus sonhos todas as noites em decorrência do
que passaram e viram, pessoas se jogando dos andares acima dos locais dos
choques das aeronaves com as torres, pulavam por não agüentarem o calor de
aproximadamente 705 graus Celsius.
Enquanto isso, bombeiros na rua que chegavam
para o apoio e outras pessoas hospedadas ouviam de dentro do World Trade Center
Married Hotel, um dos tantos prédios comprometidos, o estrondo dos corpos
batendo no chão e no telhado daqueles que optaram por pular de mais de 60
andares.
Via pela televisão as
pessoas cruzarem a ponte do Brooklyn, milhares delas, como formigas fugindo de
um ataque de vespas, uma multidão que olhava para trás e não acreditavam no que
via. Não se tinha mais as gêmeas, a fumaça e poeira tomavam conta de toda
Manrathan.
Já para aquelas que ainda estavam próximas do que depois seria
chamado de “Marco Zero”, e ainda não tinham conseguido sair do epicentro do
caos, essas pessoas que foram atiradas até 1,5m com o deslocamento de ar
decorrente da queda das torres, como um bombeiro que sobrevivera dentro da
torre norte, que em depoimento disse que com o deslocamento de ar do
desmoronamento foi lançado dentro da torre norte seis andares abaixo de onde
estava e sobreviveu.
Não haveria mais vida
normal para ninguém lá.
O que parecia um
espetáculo, como um desfile de 04 de Julho ou a vitória dos Yankees, com papeis
que caíram por toda a parte durante o incêndio das torres, juntamente com
pedaços dos prédios em chamas e pedaços de metal fervendo ou como as
testemunhas descreveram, o que parecia ser uma avalanche de neve ou um ataque
nuclear quando as torres desmoronaram uma após a outra, tudo isso não era nada
mais do que trabalhos de uma vida inteira de milhares de pessoas que voavam por
todos os lados, folhas e mais folhas, documentos, trabalho duro.
Mais de 90 países perderam
cidadãos nos atentados, o local só foi totalmente limpo com a retirada da
nomeada "Última Coluna", a última parte dos escombros a ser retirada
do local, em maio de 2002.
Nunca mais esquecerei
aquilo e sei que ano que vem quando dos 10 anos dos atentados estarei aqui
escrevendo mais uma vez sobre isso.
Este texto é dedicado a
todos que perderam suas vidas nos atentados do 11/09, bem como para aqueles que
não mediram esforços para salvar vidas naquele dia fatídico e àqueles que
saíram daquele inferno e hoje lutam para ter uma vida íntegra.
Marcelo Ferla
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