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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Falando nisso.


Elas são musculosas e podem ser sexy, sim! Ficou surpreso?
O fotógrafo André Arruda criou, há dez anos, o projeto “Fortia Femina”, no qual clicou fisiculturistas nuas com o objetivo de mostrar como a mulher na sociedade brasileira é padronizada. Dez anos depois, o autor planeja lançar o segundo livro do mundo especializado nesta estética.


“Até que ponto uma mulher pode ter atributos físicos que remetem ''ao masculino'' sem perder sua feminilidade?

E por que não poderiam?”. São esses os questionamentos feitos pelo fotógrafo André Arruda no projeto Fortia Femina, criado em 2004 e, dez anos depois, em andamento para tornar-se livro.

Nas fotos, mulheres fisiculturistas tiraram a roupa e posaram como figuras anatômicas renascentistas, como o De Humani Corporis Fabrica, de Andreas Vesalius, e o Códex, de Da Vinci.

Em conversa exclusiva, o autor contou para Glamour de onde saiu essa ideia:
Glamour Brasil: Conta como surgiu esse projeto e sobre o processo criativo.
André Arruda: Começou em 2004. Estava nos EUA e vi na tv um concurso de bodybuilding, Arnold Classic, talvez. Até então não sabia que mulheres praticavam musculação naquele nível de modificação corporal.

Sempre tive a beleza feminina com um dos principais motivos da minha fotografia e o nu autoral, não comercial, sempre me atraiu. Fortia Femina é um reflexo do crescente papel da mulher na sociedade brasileira.

É um sinal do poder cada vez maior da mulher. Escolhi o fundo branco ao escuro (ou qualquer outro fundo) numa alusão clara às gravuras dos anatomistas renascentistas, em especial o De Humani Corporis Fabrica, de Andreas Vesalius, e o Códex,de Da Vinci. O fundo branco é neutro e isento. A luz é pontual;ilumino o que me interessa, deixando à sombra detalhes íntimos. Luz e sombra em dialética com o jogo do feminino e do masculino.


Glamour Brasil: E como foi feita a abordagem das mulheres?
André Arruda: Fortia Femina é fruto de seu tempo. Apenas duas atletas foram abordadas por amigas minhas, que fizeram o contato inicial. As outras foram pelas redes sociais. Começou com o ''falecido'' orkut.
Glamour Brasil: Você viu muito preconceito sofrido por elas?
André Arruda: ''Sou um homem: nada do que é humano me é estranho'', frase do poeta romano Publio Terêncio Afro, cerca de 150 anos antes de Cristo, publicada na comédia ''Heautontimorumenos'', que em grego quer dizer ''O que pune a si mesmo''.

O que é o tremendo esforço de levantar pesos, dietas radicais e a busca da hipertrofia muscular simétrica senão uma punição? É um sacerdócio.

As fotos, além da investigação da beleza muscular feminina, jogam com as noções de gênero.

Até que ponto uma mulher pode ter atributos físicos que remetem ''ao masculino'' sem perder sua feminilidade?

E por que não poderiam?

A mulher na sociedade brasileira é extremamente objetificada e padronizada.
O Brasil é o único país no mundo em que a nudez feminina numa capa de revista funciona como um diploma de notoriedade, e ao mesmo tempo, uma mulher não pode fazer topless na praia de Ipanema sem ''chamar a atenção''. O preconceito nos afeta na medida do desconhecimento e é uma forma primitiva de proteção. Quem não deve não teme. E só os idiotas não têm medo. As atletas fisiculturistas são mulheres de coragem. Força, substantivo feminino.Como autor ouvi várias piadas grosseiras e até emails agressivos sobre o ensaio. Experimentei essa agressividade que elas eventualmente recebem. É um sinal positivo que o trabalho tem êxito em despertar emoções.


Glamour Brasil: Acha que as mulheres sofrem mais preconceitos do que os homens fisiculturistas?
André Arruda: Penso que sim. A mulher muscular é um fenômeno recentíssimo. São mulheres insatisfeitas com o próprio corpo. Todos somos insatisfeitos com a nossa imagem, sempre, mas o atleta fisiculturista vai além.

É busca do prazer. Alguns exageram, é claro, mas o nosso erro, cada vez mais alimentado pelas web-neuroses sociais, é crer que o exagero é a norma.

Somos tediosamente normais. De perto, porém, somos todos bizarros. O corpo feminino vem mudando, especialmente no Brasil, desde os anos 80. Agora as mulheres estão com pernas muito grossas, coxas grandes e definidíssimas, que compõem com os glúteos hipertrofiados. Malham muito o abdômen e estão com braços maiores. As próteses de silicone são tão normais que já fazem quase parte da paisagem. Até então estas características pertenciam a determinadas ginastas ou bailarinas. Não creio que o corpo feminino irá voltar às formas mais ''delgadas''. O ser humano está maior e mais forte. Gatos e cachorros vivem muito mais do que há vinte anos.
Glamour Brasil: Em algum momento essas mulheres se sentem menos sexy?
André Arruda: Pelo contrário, todas se sentem muito mais ''sexy'' com o corpo muscular. Se transformaram, como lagartas em borboletas. Hoje o fotógrafo, mais do que nunca, deve ver o invisível, seja lá o que isso for.


Glamour Brasil: Você acha que, após criar essa série, conseguiu lançar novos olhares sobre beleza?
André Arruda: Como autor, me cabe suscitar discussões e os resultados destas não me pertencem. Mas o retorno sobre as fotos sempre foi positivo, estética e conteúdo.
Glamour Brasil: Fala mais sobre o projeto no momento.
André Arruda: Fortia Femina foi concebido para ser livro e exposição. Depois do domínio do fogo, da invenção da faca e da roda, o livro é o objeto mais sagrado que o homem já concebeu. Só existe um livro sobre mulheres musculares no mundo e Fortia Femina  - oxalá! - será o segundo, mas em sua forma, é absolutamente inédito.

É um trabalho 100% financiado por mim, sem patrocínios ou ajuda externa. Expus doze fotos em 2009 no Centro Cultural Justiça Federal do Rio de Janeiro, durante o festival FotoRio, felizmente com excelente repercussão.

Já tenho cerca de cem fotografias editadas e quero fotografar mais uma ou duas atletas que tenham o corpo trabalhado e não necessariamente sejam fisiculturistas.

É nu, dificulta um pouco, há um certo receio em se expor, mas o ensaio, nestes dez anos, fala por si. Até agora nenhuma empresa se interessou em bancar o projeto, por preconceito, certamente.

Neste semestre finalizo o corpo final de fotografias e vou lançar o projeto em crowdfunding, o financiamento coletivo, para publicação do livro.
Marcelo Ferla

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